terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O NATAL CHEGOU!



Mt 1,23 - "Eis que a virgem conceberá e dará a luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel"


Assim como todo ano, no dia 25 de dezembro comemoramos a festa que podemos caracteriza-lá como uma das mais importantes de toda cristandade. É o dia em que revivemos o nascimento do salvador. Deus em sua infinita misericórdia amou tanto o mundo que entregou seu único e precioso filho para que todo aquele que crer em seu nome seja salvo e não pereça (Jo 3,16). O nascimento de Cristo para humanidade retrata um sinal real do sacrifício do cordeiro sem mácula pelo perdão de todos os nossos pecados.  O termo "Natal" derivado do verbo Latim "Nãscor"possui o significado de nascer e é neste sentido que nós católicos comemoramos, já que relembramos o nascimento do salvador.

Mas afinal, o que vemos hoje seria a comemoração de um verdadeiro Natal? Infelizmente a resposta para essa questão é não. Para o mundo secular, essa comemoração tão importante tornou-se objeto de idolatria, já que o prazer pelo consumismo é objeto de culto nesta época. Muitos se esquecem do significado primordial e se perdem em meio a presentes, viagens, comidas e não se recordam de Jesus o verdadeiro aniversariante. 

Infelizmente, enquanto o mundo não entender que Jesus Cristo veio ao mundo para as salvação do gênero humano qualquer data que julgamos importante, será vista por tantos outros como apenas um feriado a ser gastado, assim como a páscoa tornou-se a festa do chocolate, o natal é um feriado para o consumismo. Sendo assim, como devemos nos portar frente a uma data tão importante que o mundo a roubou para si? Como Cristãos Católicos, devemos fazer a diferença! Sim, precisamos anunciar o verdadeiro sentido do dia 25 de dezembro e proclamar a todo mundo (Mc 16,15) que comemorar o nascimento de Jesus é significado de redenção, pois através deste grande mistério conhecemos o salvador que nos redimiu através da santa cruz com o derramamento de seu precioso sangue. 

Irmãos, comemoremos o natal, comemoremos seu real significado: o nascimento do Cristo, do Salvador, do Deus-Homem, do Emanuel, o nascimento do Verbo, da Palavra encarnada, o nascimento de Jesus Cristo único Salvador desse mundo que é tão carente dELE! 

Que Deus Pai conceda um natal abençoado a todos os leitores e que nossa mãe Maria SS interceda por todos os cristãos para que descubram o caminho da Salvação que se encontra no sangue de Jesus Cristo, Nosso Senhor!

Paz e bem!

Em Jesus, sempre;

Érick Gomes. 






segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A IMORTALIDADE DA ALMA


Gênesis 4,10 – Iahweh disse: “Que fizeste! Ouço o sangue do teu irmão, do solo, clamar para mim”!

INTRODUÇÃO

A imortalidade da alma sempre foi um tema debatido desde o início da era cristã. Durante a história, inúmeros foram os casos onde os cristãos se dividiram em se acreditar em um estado intermediário, onde encontrariam diretamente com o Senhor, enquanto outros apenas encaravam a ressurreição sem que a alma passasse por outro estado. Ao olharmos a história dos dois mil anos de cristianismo, teremos muitas informações sobre o tema e assim como em outros artigos, pretendo “penetrar” em um campo que atualmente é motivo de várias controvérsias até mesmo no mundo protestante. Sendo assim, o que cremos a respeito da alma? O que a Igreja ensina desde os primórdios? A “imortalidade da alma” de fato foi influenciada pela cultura grega? Para responder tais questionamentos, teremos que analisar um mundo de motivos!

OBS: A Bíblia utilizada para a meditação aqui apresentada é a “Bíblia Católica de Jerusalém”.

O VELHO TESTAMENTO ACREDITAVA NA “ALMA IMORTAL”?

Antes de tentarmos entender essa questão, teríamos que visualizar qual a composição unitária do homem. Sendo assim, lemos que em Gênesis, na criação, ao ser criado por Deus, o homem tornou-se um “ser vivente”:

Gn 2,7Então Iahweh Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser (alma) vivente.

A palavra hebraica que determina essa “animação do corpo (alma)” é o termo nefesh (grego: psyche), que ora também é compreendido pelo termo ruah (grego: pneuma) que corresponde ao espírito. Muitos teólogos da atualidade procuram dividir o homem em “três partes”, onde o espírito corresponde à parte “elevada”, a alma o que anima corpo e a carne, o pó oriundo da terra. Essa afirmação é creditada com base nas palavras de São Paulo que aos escrever aos tessalonicenses, intercede a Deus para que o ser inteiro dos cristãos fosse mantido para a vinda do Senhor.

I Ts 5,23O Deus da paz vos conceda santidade perfeita; e que o vosso ser inteiro, o espírito, a alma e corpo sejam guardados de modo irrepreensível para o dia da Vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Tal conceito aparece única e exclusivamente nesta carta, sendo que em momento algum o apóstolo sugere que o homem fosse parte de uma tricotomia, mesmo porque, Paulo não mantém certa coerência, já que espírito e alma é em outras ocasiões tidas como a “mesma coisa”, sendo que as diferenças são entendidas pela forma como as palavras são colocadas. Enquanto a alma tem forte relação com a criatura, pessoa, mente, o espírito designa uma relação do eu e Deus:

Lc 1,47Meu espírito se alegra em Deus meu Salvador.

É possível que para Paulo na passagem aos tessalonicenses, o emprego de “espírito” seja o princípio divino da vida nova em Cristo Jesus (Rm 5,5) ou uma relação em sentido lato na entrega total de “corpo e alma” ao Senhor. De qualquer forma, o que temos por ciência é que o homem é formado de corpo e alma.

Mt 10,28E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.

Pois bem, quando pensamos no “velho testamento”, dificilmente saberemos se de fato existia tal crença para os antigos patriarcas. A ideia judaica de vida após morte se restringia a um local onde não existia recordação da matéria. Ideia até normal, já que para a época, a revelação ainda estava em processo de desenvolvimento e a crença de uma alma que sobrevive sem um corpo, seria apenas concretizada com o advento de Jesus Cristo. Embora possamos encontrar determinados versículos que nos revelam a consciência da alma, atestamos em muitas outras passagens vétero-testamentária onde um local denominado “Xeol” (Hades no Grego / Mansão dos Mortos) diminui ou silencia a alma. Em Salmos lemos que o louvor não existe neste local:

Sl 6,6 - Pois na morte ninguém se lembra de ti, quem te louvaria no Xeol?

No livro do profeta Isaías, encontramos outra definição para este  estado: os que descem a cova (morrem) já não esperam pela fidelidade de Deus:

Is 38,18 - Com efeito, não é o Xeol que te louva, nem a morte que te glorifica, pois já não esperam em tua fidelidade aqueles que descem à cova.

Curiosamente, ao lermos o livro de Números, verificamo que um grupo de pessoas se rebelou contra Deus e contra as ordens de Moisés e como castigo os mesmos "desceram vivos" ao Xeol, isto é, antes mesmo que morressem, já estavam neste local onde bons e maus se confundem (I Sm 2,6):

Nm 16,33 - Desceram vivos ao Xeol, eles e tudo aquilo que lhes pertencia. A terra os recobriu e desapareceram do meio da assembléia. 

Assim como lemos em II Samuel que Davi, toma a esposa de Urias e por castigo, Deus faz com o filho que nascesse dessa união pereceria. Dessa forma, o Rei sabendo que sua criança não voltaria a vida, afirma que ele sim, após a morte iria ir aonde seu filho se encontrava (Xeol, local da habitação dos mortos):

II Sm 12,23 - Agora que o menino está morto, porque jejuarei? Poderei fazê-lo voltar? Eu, sim, IREI aonde ele está, mas ele não voltará para mim. 

Entre as passagens que ilustram a imortalidade da alma, encontramos no livro de Macabeus, uma prova importante de que, ainda, antes de Cristo, já existiam registros históricos que uma parte da comunidade judaica acreditava que após a morte, a alma mantinha suas faculdades psíquicas. Há quem pense que em determinada época (200 A.C), já existia forte influencia helênica, entretanto, sendo influenciados ou não, devemos registrar que a história corrobora com o desenvolvimento da doutrina. A primeira parte que registra essa crença encontra-se no versículo 45 do capítulo 12 do segundo livro de Macabeus.

Assim segue a escritura divinamente inspirada:

II Mc 12,45Mas se considerava que uma belíssima recompensa está reservada para os que adormecem na piedade, então era santo e piedoso o seu modo de pensar. Eis por que ele mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos do seu pecado.

No contexto apresentado pela passagem, vemos que Judas age piedosamente ao oferecer um sacrifício de expiação pelos mortos, rogando a solicitude da graça divina em alcançar o perdão dos pecados para as almas dos falecidos. Aqui já encontramos indícios de um campo da Teologia Judaica que atribuía que as almas dos mortos, possuem vivência perante a separação do corpo. Ainda no mesmo livro, encontramos outro registro interessante que comprova essa verdade. Onias que foi sumo sacerdote e Jeremias que sofreu duramente por seu povo, já faziam parte do número dos mortos, entretanto, em uma visão (sonho) de Judas, tais homens aparecem intercedendo incessantemente pela cidade santa.

II Mc 15,14Tomando então a palavra, disse Onias: “Este é o amigo dos seus irmãos, aquele que muito ora pelo povo e por toda a cidade santa, Jeremias, o profeta de Deus”.

É muito provável que essa fé da “alma separada do corpo” tenha se firmado por forte influência grega, porém, não podemos descartar que embora os livros hebraicos não afirmem com total clareza a alma imortal, lemos em Jó que sua esperança era “habitar no Xeol”:

Jó 17,13aOra, minha esperança é habitar no Xeol.

Podemos também tomar nota que o Rei Salomão, homem sábio e escritor do livro Eclesiastes, apresenta outras diferentes alternativas para a condição dos mortos. Essa condição, não se assemelha com outras fontes já apresentadas até aqui. O livro trás uma composição literária um tanto quanto distinta. Salomão em determinados versículos equipara o homem ao animal, porém, ao fim da obra afirma que o espírito volta a Deus que o criou.

Ecl 3,19-21Pois a sorte do homem e a do animal é idêntica: como morre um, assim morre o outro e ambos têm o mesmo alento; o homem não leva vantagem sobre o animal, porque tudo é vaidade. Tudo caminha para um mesmo lugar: tudo vem do pó e tudo volta ao pó. Quem sabe se o alento do homem sobe para o alto e se o alento do animal desce para baixo, para a terra?

Ecl 12,7Antes que o pó volte à terra de onde veio e o sopro volte a Deus que o concedeu.

Sendo assim, entendo que utilizar o velho testamento para basear determinada crença seria um grande erro, já que as revelações anteriores a Cristo, por não estarem concluídas, apresentam poucas provas tanto da mortalidade, quanto da imortalidade da alma e até mesmo de um profundo desconhecimento do que aconteceria após a morte da carne. Teremos uma melhor visibilidade dos fatos ao analisarmos o novo testamento.

O NOVO TESTAMENTO E A IGREJA PRIMITIVA ACREDITAVAM NA “ALMA IMORTAL”?

Se iniciarmos nossa pesquisa pela tradição da Igreja, veremos que existem muitos testemunhos dos primeiros padres que acreditavam que antes da ressurreição, ficaríamos em um estado de plena consciência. De acordo com a “História Eclesiástica segundo Eusébio de Cesaréia”, na época de Orígenes (185 d.C +), algumas divergências já faziam menção a respeito da doutrina da alma. Assim escreve Eusébio:

Aparentemente ainda, na Arábia, no tempo a que nos referimos introdutores de uma doutrina alheia à verdade, asseveravam que a alma humana neste mundo, no momento final provisoriamente morre com o corpo, e com ele se corrompe, mas no futuro, por ocasião da ressurreição, com ele reviverá. Então, foi convocado um importante concílio. Orígenes novamente foi chamado, e após ter discursado perante a assembleia sobre a questão disputada, saiu-se de tal forma que alterou o modo de pensar dos que primeiramente havia sido iludidos” (Cap 37, pag 322 – Divergência dos Árabes).

O mesmo Orígenes, que é um dos grandes pais da Igreja Antiga, em um de seus escritos a respeito dos santos, mencionou que “o Pontífice não é o único a se unir aos orantes. Os anjos e as almas dos justos também se unem a eles na oração" (Orígenes, 185-254 d.C. Da Oração). Santo Agostinho, doutor da Igreja Católica era um férreo defensor da doutrina. Dizia que a alma “é a substância dotada de razão, apta a reger um corpo” (AGOSTINHO, Sobre a Potencialidade da Alma. Petrópolis, Rio de Janeiro. 1ª Edição, 1997, Pg 67).

Ireneu de Lião (180) em sua obra “Contra as Heresias” escreveu:

Pg 239, 34.1 – “O Senhor ensinou clarissimamente que as almas não só perduram sem passar de corpo em corpo, mas conservam imutadas as características dos corpos em que foram colocadas e se lembram das ações que fizeram aqui na terra e das que deixaram de fazer (...). Abraão possuía o dom da profecia e que cada alma recebe o lugar merecido antes do dia do juízo”.

Baseado pelos séculos correspondentes a tradição e nas escrituras canônicas, o catecismo católico coloca a seguinte definição sobre as almas dos que partiram em amizade de Deus:

“As testemunhas que nos precederam no Reino (Hb 12.1), especialmente as que a Igreja reconhece como “santos”, participam da tradição viva da oração pelo exemplo modelar de sua vida, pela transmissão de seus escritos e por sua oração hoje. Contemplam a Deus, louvam-no e não deixam de velar por aqueles que deixaram a terra. Sua intercessão é o mais alto serviço que prestam ao plano de Deus” (Artigo 3, guias para a oração – Uma nuvem de testemunhas – 2683).

A concepção cristã desde os primórdios se fundamenta nos princípios oferecidos pelo próprio Jesus Cristo, quando o mesmo questionado pelos Saduceus (grupo religioso que não acreditava na ressurreição) no evangelho de Mateus menciona que:

 Mt 22,32Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó? Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas sim de vivos.

Pois bem, já verificamos que antes do advento do Senhor, tal crença ainda era inconcebível aos olhos do povo, sendo assim, nós cristãos tivemos um novo olhar teológico correspondente à nova aliança que condiz com nosso pensamento pós Cristo, sendo que, Deus em sua infinita majestade, como criador das coisas visíveis e invisíveis, não permite que o homem dotado de inteligência seja entregue ao esquecimento após a vida terrena, porém, como já vimos, essa concepção lógica que o novo testamento apresenta, não era tão clara aos antigos. O centro do problema para aqueles que defendem o “sono da alma”, é querer definir igualdade para o estado pós-morte atribuindo condições interpretativas entre o antigo testamento e o novo. É certo dizer que o entendimento de ambos era distinto. O conhecimento dos patriarcas era limitado, pois, a expansão dessa doutrina só foi possível com a chegada de Jesus.

O novo testamento apresenta novas propostas para alma. Enquanto ímpios e justos possuíam a “mesma” sorte (Ec 9,2), a novidade em Cristo trás a verdadeira forma do entendimento acerca deste mistério, por isso, usar o velho testamento para elucidação a respeito da doutrina não é correto já que a visão neotestamentária é distinta, desenvolvida e completa.  E por qual motivo seria completa? Apesar dos antigos textos em alguns momentos mostrarem o contrário, o novo testamento trás sobre nós a luz de Jesus e tudo aquilo que estava incompleto passou a ser revelado. Muitos, na tentativa de desqualificar a imortalidade da alma, procuram dizer que as referencias escritas no período pós-messias são simbólicas. Usam de passagens que descrevem que os santos dormem e com isso, anexando os dois períodos, procuram interação entre as palavras do evangelho e dos antigos homens de Deus. Quando os escritos do novo testamento citam a respeito dos que dormem (I Cor 15,20-23 / I Tess 4,13-14,16), enfatiza o fato daqueles que morreram e não que seu estado seja de sono profundo. Tal afirmação contradiz todas as outras referências que possuímos de forma clara (sendo que é sempre necessário não esquecer que as visões vetero e neotestamentárias são distintas).

Dessa forma, colocarei as principais provas encontradas no novo testamento sobre a alma imortal e a consciência e conhecimento que as mesmas possuem após se separar do corpo. Tratarei também de responder alguns questionamentos de pontos importantes dos que não acreditam que a alma possa sobreviver sem essa “habitação mortal”.  

O RICO E O MENDIGO

A primeira referencia que demonstra essa realidade encontra-se nas palavras do próprio Cristo no evangelho de São Lucas:

Lc 16,22-23 e 27E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai.

Nesta passagem Jesus apresenta uma condição estabelecida após a morte: o céu e o inferno. De forma clara é possível visualizar a alma do rico em tormentos no Hades e a alma (que não morre) do mendigo no seio de Abraão, ambos gozando de plena consciência e lembrança. Note que no verso 27 o ímpio entendendo seu destino, intercede por seus parentes, porém, como o inferno é a ausência Deus, seu pedido é negado. No enredo dessa história, é visível a mensagem que Nosso Senhor dividia com os apóstolos, porém, há quem diga que nessa parábola, tudo não passava de mera simbologia e que não existem provas suficientes para afirmar a imortalidade da alma já que se tratava apenas de uma história, porém, não é isso que absorvemos ao analisar o evangelho.

Se lermos as parábolas deixadas por Cristo, veremos que todas retratam um cotidiano integrado no ambiente daquele povo e por mais que o “Rico e o Lazaro” possuísse elementos diferentes para um conto, qual seria o motivo para simplesmente não pensarmos que tirando os conceitos não aplicáveis, não poderíamos crer em um “céu” e um “lugar de tormento” após a morte? De qualquer forma amigos, confesso que essa parábola esta muito mais ligada em retratar a vida exuberante de muitos judeus “burgueses” que já não tinham tanto amor pela lei de Deus do que ensinar que o céu e inferno existem para a alma imortal. A questão é que muitos questionam o cenário da parábola por parte “irreal” devido à conversa entre o Rico e Abraão, entretanto, não é necessário questionar o cenário da parábola, já que é uma existência, agora, o enredo do conto, sim isso até pode ser. Assim lemos em II Reis 14,9 que as árvores falavam e embora saibamos que as mesmas não podem dizer qualquer palavra, temos ciência que existem. Cenário real, com partes irreais.

Dessa forma, não vejo qualquer motivo para desacreditar na história do rico e do mendigo simplesmente por pensar que o “cenário” parece absurdo. O fato é que Cristo queria demonstrar uma série de ensinos (entre eles a piedade) e utilizou de elementos reais conhecidos pelo povo judeus: que após a morte, existe o juízo (Hb 9,27) e ali habitaremos até a ressurreição dos mortos.

MOISÉS NO MONTE TABOR

O novo testamento é recheado de provas a favor da imortalidade da alma. No evangelho de São Marcos capítulo 9, podemos ver claramente a existia da sobrevivência no estado intermediário e ainda mais: os espíritos dos justos por participarem da visão beatífica de Deus, conhecem nossos assuntos e necessidades. Na transfiguração no monte Tabor, Moisés que já estava morto (Dt 34,5-6), junto de Elias, conversavam com Cristo e sabiam do seu futuro sofredor.

Mc 9,2-7 Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou, sozinhos, para um lugar retirado sobre uma montanha. Ali foi transfigurado diante deles. Suas vestes tornaram-se resplandecentes, extremamente brancas, de alvura tal como nenhum lavadeiro na terra as poderia alvejar. E lhes apareceram Elias com Moisés, conversando com Jesus:        Então Pedro, tomando a palavra, diz a Jesus: “Rabi, é bom estarmos aqui. Façamos, pois, três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pois não saiba o que dizer, porque estavam atemorizados. E uma nuvem desceu cobrindo-os com sua sombra.

Na tentativa de desqualificar o fato descrito no evangelho, os defensores da mortalidade da alma costumam usar de alguns argumentos a fim de ensinar que não era o “espírito” de Moisés que ali estava, mas sim seu corpo, já que, baseado em um livro apócrifo (Assunção de Moisés) o mesmo teria ressuscitado e o que os apóstolos teriam visto seria seu corpo “glorificado”. Pois bem, isso seria no mínimo duvidoso já que as escrituras nada dizem sobre uma possível ressurreição de Moisés. Utilizar de tal argumento não passa de conjectura. Primeiro que o escritor de Hebreus, no capítulo onze, deixa claro que Moisés estava morto e que ainda não havia sido beneficiado pelas promessas realizadas (Hb 11,39), sendo assim, não poderia ter ressuscitado. Segundo que o texto utilizado da epístola de Judas (verso 9) onde diz que o diabo brigou pelo corpo de Moisés com o arcanjo Miguel, nada fala da glorificação do corpo e sim, de uma briga pelo corpo que o fim, desconhecemos. Terceiro que o fato do apóstolo Pedro querer montar três tendas para Jesus, Elias e Moisés, não significa necessariamente que ele estivesse vendo os “três corpos”, mesmo porque, Cristo estava transfigurado e o assombro foi tão grande que eles (apóstolos) nem “sabiam o que diziam” (Mc 9,6). Quarto e último argumento: A figura de Moisés foi a mais importante para a comunidade judaica já que a lei veio através de seu intermédio e se caso ele tivesse sido “assunto aos céus” seria estranho e totalmente emblemático saber que em muitos anos, nunca ninguém havia registrado tal acontecimento. Sendo assim, nada mais justo que pensarmos o básico: No monte Tabor, a ALMA de Moisés estava junto de Cristo, já que ele estava morto fisicamente.

O HABITAR / ESTAR COM CRISTO

Em toda a trajetória do apóstolo Paulo, durante seus escritos, ele sempre manifestou a ressurreição de nossos corpos no momento em que entraremos na plenitude do tempo, onde o Reino de Jesus Cristo será instalado. A questão é que o apóstolo Paulo acreditava, pelo menos é o que indica, que essa ressurreição ainda aconteceria enquanto ele estivesse em vida, talvez por isso ele tenha escrito que “nem todos dormiremos (morreremos), mas TODOS seremos transformados (I Cor 15,51)” e complementando que “num abrir e fechar de olhos, os mortos ressuscitarão e NÓS seremos transformados (I Cor 15,52)”. Essa transformação não fere o que pensamos a respeito da alma após a morte, pelo contrário. Morremos nesta esperança e descansando no Senhor, aguardamos a ressurreição dos nossos corpos que dessa forma, serão absorvidos pela “imortalidade”. O corpo é pó e é esse corpo que será absorvido pela imortal, pois é ele quem morre.  Nosso espírito que retorna a Deus aguarda ansiosamente e assim será no glorioso retorno de Jesus Cristo, a saber, a sua segunda vinda com TODOS os seus santos:

I Ts 3,13Para confirmar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os seus santos. 

Dessa forma, entendemos que se estamos neste corpo, estamos ausentes do Senhor, porém, sabemos que é esse mesmo corpo que nos trará o esplendor da glorificação. Entretanto, enquanto essa ressurreição tão esperada não chega, temos o desejo de deixar esta mansão para já HABITAR com o Senhor (II Cor 5,8). Quando falamos de habitação, estamos literalmente querendo deixar essa vida para contemplar a face de Deus. Paulo confirma isso ao dizer que nosso desejo não era simplesmente em habitar com o Senhor, mas em também servi-lo já que estando neste corpo (vivo) ou não (morto) continuaremos em nos esforçar por agradar-lhe (II Cor 5,9). Além de que, quando lemos o contexto de Filipenses 1,23, não há como pensarmos que Paulo, sequer nem imaginava em não desfrutar de um contato com o Senhor após a morte. Primeiro que o mesmo diz que para ele o “viver é para Cristo e o morrer é lucro (Fl 1,21)”. Paulo vivia pelo evangelho e esse viver em Jesus significava pregar a sua palavra e anunciar aquilo que levaria a salvação a todos os homens. Em caso de morte, seu lucro seria grande. Não simplesmente porque ele se salvaria, ou porque seu corpo seria ressuscitado no último dia, mas sim, pelo fato de que ele teria um encontro com o seu Senhor. Se a morte simplesmente não tivesse nenhuma serventia, seria vão Paulo ter escrito que:

Fp 1,22Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que deva escolher. 

Ele tinha uma dúvida, pois em sua CARNE as obras frutificavam, porém, se pensarmos que a morte seria o “fim”, qual seria necessidade de se pensar que o apóstolo dos gentios estava indeciso? O que seria melhor? Continuar na carne para que o evangelho continuasse a ser pregado ou morrer para assim, aguardar o grande dia? Paulo tinha a certeza de que ao morrer estaria com Jesus. E é assim que ele manifesta seu desejo, embora, ainda não fosse à vontade de Deus:

Fp 1,23Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor.

O ápice da ideia não está em identificar se Paulo pensava que morreria e por estar "fora do tempo" já estaria ao encontro de Cristo, pelo contrário, ele sabia da sua importância na carne na pregação do evangelho de Jesus, por ou lado, ele sabia que o partir do "corpo" era habitar com o Senhor que para ele seria muito melhor. Entretanto, por entender que sua missão ainda era continuar neste corpo, ele julga ser necessário FICAR NA CARNE.

Fp 1,24 – Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne.

Isto é, Paulo poderia muito bem dizer que sabia que após a morte, por não "ter uma alma" e sim "ser uma alma", morreria e não teria qualquer encontro com Cristo, dessa forma, preferia ficar na carne para auxiliar seus irmãos, mas, não é isso que constatamos ao ler o contexto. Paulo tinha dúvidas, pois seu desejo era de estar com Cristo após a morte, mesmo que isso comprometesse a pregação do evangelho, contudo, por saber da sua importância no corpo, confia em sua permanência para proveito e gozo da fé.

Dessa forma entendemos que ao morrer, estaremos “habitando com o Senhor”. 

O PARAÍSO PRÉ-RESSURREIÇÃO

Embora saibamos que na ressurreição, teremos a habitação da “Nova Jerusalém” (Ap 21,1-2), sabemos pela própria escritura denominada de “terceiro céu”, que o paraíso existe, sendo a morada dos justos (Hb 12,22-23). Paulo narra com total emoção a alegria da alma separada do corpo ao relatar o testemunho de um homem em Cristo que foi arrebatado até esse local:

II Cor 12,2-3Conheço um homem em Cristo que há quatorze anos, foi arrebatado ao terceiro céu – se em seu corpo, não sei: se fora do corpo, não sei; Deus o sabe! E sei que esse homem – se no corpo ou fora do corpo não sei; Deus o sabe! – foi arrebatado até o PARAÍSO e ouviu palavras inefáveis, que não é lícito ao homem repetir.

O LADRÃO NA CRUZ

Jesus Cristo disse ao ladrão que ainda hoje, o mesmo estaria com ele no paraíso (II Cor 12,2-3):

Lc 23,43Ele (Jesus) respondeu: “Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no paraíso”.

Não bastaria muitas linhas para termos a certeza que aqui existe mais uma prova de que  na morte, gozaremos da companhia de Deus, entretanto, os defensores do sono ou da aniquilação da alma, costumam mencionar que determinada esta passagem de Lucas foi "adulterada" e que na verdade, Nosso Senhor teria dito para o ladrão que sua promessa era dita hoje, mas, que só se concretizaria no futuro.  Pois bem, como já mencionei em outro artigo, não sou perito na língua, porém, tenho algumas noções. Primordialmente, o que define a interpretação dessa passagem, de fato, é a questão simples de uma "vírgula". É interessante mencionar que embora, atualmente alguns protestante defendam tal doutrina (morte da alma), o único lugar onde encontramos afirmação semelhante é na tradução "Torre de Vigia" das testemunhas de Jeová, onde se lê:

Lc 23,43 (Torre de Vigia)E ele lhe disse: “Deveras, eu te digo hoje: Estarás comigo no Paraíso”.

Temos por conhecimento que nas traduções católicas e protestantes, o HOJE faz parte do instante e não de uma promessa futura que se concluiria no fim dos tempos. Para embasar a vírgula depois do hoje, alguns teólogos tem usado uma fonte bíblica oriunda do grego (Vaticanus 1209), já que como o grego não possuí originalmente “pontos”, verificaram que nesta passagem, exclusivamente nesse manuscrito, existe um “ponto” após o hoje (grego: semeron). Realmente, o grego “antigo” não possuía qualquer pontuação. O próprio Codex Sinaiticus na passagem referida (Lc 23,43) nada aponta para qualquer local de pontuação, tanto que os tradutores da obra, ao converterem o texto para o inglês, colocaram a linguagem como a conhecemos:

Lc 23,43And He Said to him: Verily I say to thee, THIS DAY thou shalt be with me in Paradise.

O que me chama atenção neste manuscrito é o fato de que por ser mais novo que o “Codex Vaticanus”, penso eu, que a passagem deveria ter qualquer sinal de pontuação, contudo, nós não vemos absolutamente nada. É estranho imaginar que o Vaticanus 1209, é antigo e possui uma referencia desse “ponto” enquanto o outro, mais novo, nada aparece e isso me leva a pensar que está questão não pode ser absorvida simplesmente por levar em consideração um escrito e o outro não. São Jerônimo, conhecedor profundo do grego, em sua vulgada, concede a mesma compreensão que da Igreja:

Evangelium secundum Lucam 23,43Et dixit illi: “Amen dico tibi: HODIE mecum eris in paradiso ”.

Isto é, mais uma vez aqui temos informações que não podem ser tomadas unicamente por uma “fonte” concreta de dados, mesmo porque, se olharmos na maioria das passagens (que a Igreja crê) onde Jesus Cristo diz: “Em verdade te digo” em nenhum momento ele necessitou usar o hoje como forma de complemento da promessa ou ensino, pelo contrário, as terminações de Cristo sempre eram uma consequência do próprio inicio da sua afirmação e aqui fica a minha pergunta: por que no caso de Lucas 23,43, o hoje deveria ser usado diferentemente?

Jo 3,11Em verdade, em verdade, te digo: falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos.

De qualquer forma, tirando a questão a respeito do “hoje” dito ao ladrão da Cruz, o outro emprego usado por Jesus em Marcos 14,30, mostra claramente que o “hoje” demonstrava aquilo que de fato deveria acontecer:

Mc 14,30E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás.

Aqui vemos claramente que Jesus diz, “Em verdade te digo hoje”, porém o fato manifestado pelo Senhor, se concretizaria naquela mesma noite, no tempo presente. Outro argumento fortemente usado é o fato de Cristo ter prometido que estaria com o ladrão naquele dia, porém, após a morte as escrituras atestam que o mesmo esteve nas profundezas do Hades (Ef 4,9-10), sendo assim, como devemos pensar a respeito da promessa? Bom, a própria escritura deixa claro que para Deus, “Um dia é como mil anos e mil anos como um dia (II Pe 3,8)”. Desta forma, entendemos o “hoje” como função do agora, porém, sem necessidade de pensar que o ladrão deveria estar com Jesus nas próximas horas, já que o nosso tempo não é o do Senhor. Aguardamos a Jerusalém celeste (Ap 21,10) onde nossos corpos estarão glorificados e incorruptíveis, porém, cremos no paraíso (II Cor 12,2-5) do qual faremos parte após a morte, aguardaremos na graça com a Igreja Celeste, enquanto esperamos a plenitude da nossa esperança: a ressurreição. Dessa forma, entendemos que o ladrão esteve e está com Jesus no paraíso celeste, aguardando a imortalidade dos corpos.

A GRANDIOSA NUVEM DE TESTEMUNHAS

Pegue sua bíblia e abra no capitulo onze da carta aos hebreus. Leia todo o texto e você verá que o enredo das palavras do escritor trata de um assunto totalmente importante para nós cristãos: a fé exemplar dos que já morreram. O autor da carta, ao que indica, venerava com grande piedade os grandiosos exemplos deixados pelos patriarcas e não só exaltava, mas sim, pregava que todos ali tiveram grandes conquistas devido à fé. Sim, a fé que é a prova das coisas que não se veem (Hb 11,1). A fé que nos move a crer no invisível, a crer na morte e ressurreição de nosso salvador Jesus Cristo.

Ao lermos cada verso, entendemos que todas as pessoas ali citadas, já faziam parte do número dos mortos e que de alguma forma, embora fossem pessoas de fé, não haviam sido beneficiados pelas promessas já que padeceram antes do advento de Cristo (Hb 11,39), entretanto, após a vinda de Cristo, essas almas que aguardavam pelo salvador, foram alegremente inseridas no paraíso celeste, já que as comportas dos céus foram abertas e assim todos puderam adentrar na glória de Deus, sendo assim, lemos a conclusão do autor no capítulo doze, onde defini sua crença a respeito desses homens e mulheres que serviram ao Pai antes de nós. Assim escreve:

Hb 12,1Portanto, também nós, com tal NUVEM DE TESTEMUNHAS AO NOSSO REDOR, rejeitando todo fardo e o pecado que nos envolve, corramos com perseverança para o certame que nos é proposto, com os olhos fixos naquele que é o indicador e consumador da fé, Jesus, que em vez da alegria que lhe foi proposta, sofreu a cruz, desprezando a vergonha, e se assentou a direita do trono de Deus.

Aqui fica a pergunta: O que compõe essa “misteriosa nuvem”? A resposta é muito simples, todos os santos, de todas as almas que morreram na amizade do Pai! Sim, o autor deixa claro que existe uma “nuvem” que nos cerca, que nos rodeia! Essa nuvem nos acompanha todos os dias, é como se fosse uma “manifestação portátil do espírito” assim como João narra no livro de Apocalipse:

Ap 1,10aNo dia do Senhor fui movido pelo espírito.

Essa nuvem está repleta de irmãos que torcem por nós, que intercedem por nós, que estão junto de nós, para que conquistemos a coroa de nossas vitórias mediante a fé em Jesus! Façamos como está escrito nas sagradas escrituras: corramos com perseverança ao que é proposto, pois temos ao nosso redor uma nuvem que nos acompanha para que possamos conquistar a vitória em Deus!

Eis mais uma prova direta das escrituras que as almas sobrevivem à separação do corpo, há testemunhas que nos rodeiam!

A IGREJA CELESTE

Hb 12,22-24Mas vós aproximastes do monte Sião e da Cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestes e de milhões de anjos reunidos em festa, e da ASSEMBLÉIA dos PRIMOGÊNITOS cujos nomes estão inscritos nos céus, e de Deus, o Juiz de todos, e dos ESPÍRITOS dos justos que chegaram à perfeição, e de Jesus, mediador da nova aliança (...).

Embora haja quem diga que após a morte caíamos em um sono profundo, ao nos depararmos com tão bela passagem, fica difícil sustentar tal conceito, já que ao lermos os versos acima enxergamos a “Igreja Celeste já inaugurada por Cristo Jesus”. É notável mencionar que o autor da carta deixa claro que a assembleia dos primogênitos é composta pelos “espíritos aperfeiçoados que chegaram à perfeição”. Embora o dono das palavras acreditasse na ressurreição dos corpos, em nenhum momento deixa de manifestar a verdade de um céu para os “espíritos” que alcançaram a santidade, isto é, a sagrada escritura deixa claro que antes de nossos corpos serem absorvidos pela imortalidade (I Cor 15,53) nossos espíritos habitarão no paraíso junto dos anjos e junto de Cristo o mediador da nova aliança.

O original grego contém o termo “pneuma (espírito)”, provando mais uma vez que a passagem falava do ser espiritual e não do corpo físico.

Hb 12,23panhgurei kai ekklhsia prwtotokwn en ouranoiV apogegrammenwn kai krith qew pantwn kai pneumasin dikaiwn teteleiwmenwn.

A FAMÍLIA NO CÉU

Como já vimos em situações já escritas nos tópicos anteriores, o apóstolo Paulo em duas ocasiões manifestou sua vontade de partir e estar com Cristo (Fl 1,23) e de deixar o corpo para ir habitar com o Senhor (II Cor 5,8). Com seu desejo, o pregador dos gentios deixou uma rica tradição para a Igreja ensinando sobre o gozo no céu para os que partiam (morte) e se encontravam com Jesus. Nesse mesmo sentimento, Paulo escreve aos Efésios e corroborando com o escritor de Hebreus, nos concede o conhecimento de uma “família no céu” que se assemelha a assembleia dos primogênitos já dita neste artigo. Assim, o “antigo perseguidor da comunidade católica” escreve:

Ef 3,14-18Por essa razão dobro os joelhos diante do Pai – de quem TOMA NOME TODA FAMÍLIA NO CÉU E NA TERRA – para pedir-lhe que conceda, segundo a riqueza de sua glória, que vós sejais fortalecidos em poder pelo seu Espírito no homem interior, que Cristo habite pela fé em vossos corações e que sejais arraigados e fundados no amor. Assim tereis condições para compreender com TODOS OS SANTOS qual é a largura e o comprimento e a altura e a profundidade.

A Igreja desde os temos mais antigos sempre ensinou sobre a comunhão com todos os santos que compreende a família do céu e da terra em perfeita unidade. Sendo assim, por que atualmente deveria ser diferente? Com tantas provas já expostas, como não crer na alma imortal que desfruta da presença do Senhor após a morte?

PREGAÇÃO AOS “MORTOS (OS ESPÍRITOS EM PRISÃO)”

Eis aqui mais uma prova direta da alma que sobrevive a separação do corpo. Rezamos no credo apostólico que cremos que “Cristo desceu a mansão dos mortos”, pois assim está manifestado através das sagradas escrituras:

Ef 4,9Que significa “subiu”, senão que ele também DESCEU às profundezas da terra?

Antes que Jesus Ressuscitasse, a palavra de Deus deixa claro que o mesmo esteve nas regiões subterrâneas (Nm 16,33) que é a chamada “regiões dos mortos”. O apóstolo Pedro ao escrever de Roma (I Pe 5,13) sua primeira epístola afirma que Cristo “pregou aos espíritos”:

I Pe 3,18-19Com efeito, também Cristo morreu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, a fim de vos conduzir a Deus. Morto na carne, foi vivificado no espírito, no qual foi também pregar aos espíritos em prisão.

E anunciou a boa nova da salvação:

I Pe 4,6Eis por que a Boa Nova foi pregada também aos mortos, a fim de que sejam julgados como os homens na carne, mas vivam no espírito, segundo Deus.

Estes versos são emblemáticos, entretanto, temos aqui a mais clara prova de um local onde as almas ficavam antes do advento do Senhor, sendo assim, como podemos decifrar  essas duas enigmáticas passagens? Bom, o ponto gerador de toda a dificuldade na interpretação desses versos é em tentar  entender como Jesus Cristo teria descido as profundezas da terra para pregar a boa nova se a própria escritura ensina que após a morte vem o juízo (Hb 9,27)? Pois bem, Cristo não esteve ali na "mansão dos mortos" para libertar os condenados como alguns teólogos sugerem erroneamente, pelo contrário, essa libertação registrada pelo príncipe dos apóstolos consiste nas almas dos justos que o precediam, isto é, todos esse "espíritos" eram os que esperavam no Salvador o paraíso celeste, nada mais eram que os Santos que pela fé tinham recebido um bom testemunho, porém "não se beneficiaram das realizações das promessas (Hb 11,39)", sendo que, tiveram que aguardar a ressurreição de Nosso Senhor que inaugurou essa nova etapa concedendo acesso a vida celeste e por isso as escrituras dizem: "Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro (Ef 4,8)". Cremos que essa descida as profundezas da terra, ressuscitaram alguns dos santos que aguardavam essa ressurreição de Jesus Cristo para assim entrar em Jerusalém, a cidade santa (Mt 27,53).

Sendo assim, fica impossível não crer na imortalidade da alma ao nos depararmos com este perfeito registro apostólico que nos ensina que Jesus vivificado no espírito, desceu as “profundezas da terra” a fim de resgatar os mortos.

AS ORAÇÕES DE TODOS OS SANTOS E A CONSCIÊNCIA DAS ALMAS QUE CLAMAM POR JUSTIÇA

O livro do apocalipse, talvez, seja a obra em que presta maior serviço no entendimento das condições em que alma se encontra antes “do dia do Senhor”, isto porque, o ambiente em que foi escrito, embora repleto de visões, nos passa um cenário de pessoas que haviam morrido e já contemplavam a face de Deus e aguardavam o julgamento universal e a ressurreição de seus corpos. Para tanto, existem alguns versículos que são considerados pontos chaves para que entendamos definitivamente o que temos escrito até aqui sobre a imortalidade da alma. Como já mencionado nos tópicos anteriores, existe um céu e esse céu é o local onde a família de Deus habita. João descreve esse cenário com total maestria, já que, embora ele estivesse vivenciando “visões proféticas” a respeito do que aconteceria, o mesmo tinha a certeza que os elementos do oráculo eram reais, já que seu espírito estava presente em tudo o que precedia (Ap 4,2). Sendo assim, o apóstolo descreve que no céu havia um trono onde Deus se assentava (Ap 4,3), ao seu redor existiam vinte e quatro anciões (Ap 4,4), diante do trono haviam os sete Espíritos de Deus (Ap 4,5), no meio do trono haviam quatro viventes cheios de olhos (Ap 4,6) e se ouvia um clamor de milhares de anjos (Ap 5,11).

Percebam que até aqui, o relato joanino se assemelha a Igreja Celeste já narrada pelo escritor da epístola aos hebreus anos anteriores aos registros de apocalipse:

Hb 12,22-24Mas vós aproximastes do monte Sião e da Cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestes e de milhões de anjos reunidos em festa, e da ASSEMBLÉIA dos PRIMOGÊNITOS cujos nomes estão inscritos nos céus, e de Deus, o Juiz de todos, e dos ESPÍRITOS dos justos que chegaram à perfeição, e de Jesus, mediador da nova aliança (...).

Ao ler tais passagens, conseguimos entender o porquê de Paulo, ao escrever a comunidade de Corinto, registrou que conheceu um homem que havia sido arrebatado ao paraíso e que o mesmo ouviu palavras “inefáveis” que ao homem não seria lícito repetir (II Cor 12,2-3). Ficamos maravilhados ao entender que o céu é nossa morada após a morte enquanto aguardamos pela ressurreição. Sendo assim, um pouco adiante, nas palavras de João, percebemos o primeiro indício do serviço que os Santos prestam à Igreja. Ao narrar o momento em que o “cordeiro” recebe o livro, percebemos que os anciões ao redor do trono, possuíam taças cheias de incenso que correspondem às orações de todos os santos:

Ap 5,8 E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos.

Há quem argumente dizendo que essas “orações” seriam das pessoas vivas, entretanto, será que poderíamos considerar essa posição? Bom, dificilmente. A primeira coisa a se pensar é que as sagradas escrituras, ao denominar o povo escolhido, os chamam de “santos” (At 9,13) e isso implica em vivos e mortos. Paulo, em sua primeira carta aos Tessalonicenses escreve que Cristo, ao retornar, virá com todos os seus santos (I Ts 3,13), isto é, todos os que já morreram, pois os que aqui estão, serão transformados:

I Cor 15,51-52 Eis que vos dou a conhecer um mistério: nem todos morreremos, mas  todos seremos transformados. Num instantes, num abrir e fechar de olhos, ao som da trombeta final, sim a trombeta tocará e os mortos ressurgirão incorruptíveis e NÓS (vivos) SEREMOS TRANSFORMADOS.

Segundo que ao lermos alguns versículos do livro do Apocalipse, posteriores a esse (5,8), veremos que as pessoas que compõem o cenário do “céu”, são de homens e mulheres que já partiram. Lemos que as almas clamam por justiça contra os habitantes da terra que os haviam martirizado pelo bom testemunho:

Ap 6,9-10 - E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? 

Assim como vemos que a multidão perante o cordeiro já estava morta, mesmo estando apenas com suas “almas”, não cessavam de servir a Deus diariamente:

Ap 7,9-15Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas em suas mãos; E clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro. E todos os anjos estavam ao redor do trono, e dos anciãos, e dos quatro animais; e prostraram-se diante do trono sobre seus rostos, e adoraram a Deus, Dizendo: Amém. Louvor, e glória, e sabedoria, e ação de graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus, para todo o sempre. Amém. E um dos anciãos me falou, dizendo: Estes que estão vestidos de vestes brancas, quem são, e de onde vieram? E eu disse-lhe: Senhor, tu sabes. E ele disse-me: Estes são os que VIERAM DA GRANDE TRIBULAÇÃO da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, e o servem de dia e de noite no seu templo; e aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a sua sombra.

Paulo em sua segunda carta aos Coríntios, deixa claro que nós, estando neste corpo (vivo) ou fora dele (morto), continuamos a nos esforçar em agradar ao Senhor:

II Cor 5,9É também por isso que vivos ou mortos, nos esforçamos por agradar-lhe.

Definitivamente, é difícil pensar que as orações sejam somente dos “santos vivos”, quando temos infindáveis provas de todos aqueles que compõem a nuvem de testemunhas (Hb 12,1) e que estão diante do altar de Deus. É por isso que o livro das revelações deixa claro, que de todos os habitantes do céu, os santos intercedem por nós pelos méritos de Jesus Cristo, Nosso Senhor!

Ap 8.3Deram-lhe grande quantidade de incenso para que oferecesse com as orações de todos os santos, sobre o altar de ouro que está diante do trono. E, da mão do Anjo, a fumaça do incenso com as orações dos santos subiu diante de Deus. 

COMO ENTENDER JOÃO 3,13?

Até o presente momento, procurei detalhar as principais provas que se encontram nas escrituras canônicas a respeito do que a Igreja crê desde o início dos séculos sobre a doutrina da “imortalidade da alma” e como visualizamos, até aqui, existem as mais variadas verdades na bíblia sobre a consciência das almas após a morte, entretanto, é necessário que entendamos um único versículo que em muitos casos é sempre utilizado para desmerecer o que cremos, sendo assim, como entender João 3,13 que ensina que “ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu (Jesus)”?

Assim diz a palavra de Deus:

Jo 3,13Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem.

Parece confuso, porém, basta um olhar sincero sobre o contexto da narrativa para entender que Cristo não fazia alusão a uma possível “ascensão”, pelo contrário, Nosso Senhor manifestava uma verdade que tinha a ver com os “entendimentos celestiais” daquele que desceu dos céus e nos fez conhecer a verdade da salvação. Quando Jesus proferiu essas palavras, o mesmo conversava com Nicodemos (Fariseu de grande reputação entre os judeus) a respeito do “nascer de novo”, porém, a palavra não era entendida por aquele velho homem que indagava a Cristo sobre como ele poderia estar novamente do ventre de sua mãe já que a idade não permitia (Jo 3,4). Nosso Senhor respondeu de forma categórica ao afirmar que se Nicodemos não entendia as explicações feitas na terra, como poderia ele entender as vindas do céu (Jo 3.12)? Na continuação na passagem, Cristo afirma que ninguém havia subido ao céu, a não ser ele mesmo que de lá desceu, fazendo assim, alusões a determinados textos do antigo testamento que já tratavam de temas semelhantes:

Dt 30,12b – “Quem subirá por nós até o céu, para trazê-lo a nós, para que possamos ouvi-lo e pô-lo em prática”?

Br 3,29“Quem subiu ao céu e apoderou-se dela, e a fez descer do alto das nuvens”?

Isto é, quando Jesus afirma esse mistério, faz menção que ele foi o único a estar no mais alto dos céus (II Cor 12,1-3) e a direita do Pai (Ap 12,5). O único que pode nos dar a conhecer os mistérios da vontade divina (Sb 9,16-17). Quando o Senhor afirma que “ninguém subiu aos céus” significa, que de fato, não existiu qualquer homem que possa ter estado lá e descido à terra a fim que de que nos trouxesse o pleno conhecimento das “coisas do alto”, este, encontra-se no nome do único filho de Deus. Além de que, essa interpretação corrobora com o fato de que antes da chegada do messias, Elias e Henoc já haviam “subido ao céu”:

Gn 5,24Henoc andou com Deus, depois desapareceu, pois Deus o arrebatou.

II Rs 2,11E aconteceu que, enquanto andavam e conversavam, eis que um carro de fogo e cavalos de fogo os separaram um do outro, e Elias subiu ao céu no turbilhão.

Outro ponto de grande importância que devemos entender é que quando Jesus disse tais palavras a Nicodemos, o mesmo ainda estava no meio dos homens em sua condição humana, sendo que de fato, até ali, conforme já visto até o presente momento, no velho testamento os mortos habitavam no “Xeol”. Com sua morte e ressurreição, a ida das almas ao paraíso foi possível. O céu Foi aberto e os santos puderam adentrar e isso incluiu os justos do antigo testamento que aguardavam por esse grande momento (Hb 11,39-40).

Como costumo dizer caros leitores, fundamentar uma ideia, sem analisar o contexto proposto pelas palavras do Senhor, na passa de mera conjectura e como é possível ver, nosso salvador nada disse sobre “ascensão” e sim, sobre o conhecimento trazido do alto. Sendo assim, entendemos que ninguém foi capaz de subir aos céus a fim de nos trazer toda a redenção da parte de Deus Pai, o único, foi aquele que desceu: Cristo Jesus Nosso Senhor!

CONCLUSÃO

Ap 7,13-15Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me: “Estes que estão trajados com vestes brancas, quem são e de onde vieram”? Eu lhe respondi: “Meu Senhor, és tu quem o sabe”! Ele então me explicou: “Estes são os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestes e alvejaram-nas no sangue do Cordeiro. É por isso que estão diante do Trono de Deus, servindo-o dia e noite em seu templo”.

Amigos;

Quando iniciei a escrita deste artigo, tinha um único desejo: demonstrar através das escrituras e da tradição da Igreja que a imortalidade da alma não foi uma doutrina adotada dos gregos, mas sim, uma crença genuinamente cristã que tomou forma e conhecimento a partir do advento de Jesus Cristo que nos concedeu acesso livre ao paraíso celeste, enquanto aguardamos o grande dia da ressurreição de nossos corpos.

Paulo manifestou seu desejo de partir, de abandonar seu corpo para estar, para habitar com Senhor. Penso que os mortalistas não podem desfrutar de tamanha esperança já que acreditam que após a morte, exista um “vácuo” que se completará apenas na ressurreição. Dizem eles que se cremos, é por influência platônica, mas, se esquecem de que na Grécia antiga, um filósofo chamado “Epícuro” também não acreditava que a alma se perpetuava após a morte, pelo contrário, pensava que a mesma morria com o corpo, sendo assim, sempre me questiono qual seria o critério para os defensores da alma mortal em anexar influências helênicas a doutrina cristã, se a própria crença dos mesmos se baseia em uma ideia de um também filósofo grego? Coisas a se pensar ou quem sabe a se avaliar.

Neste artigo foram colocadas diversas fontes bíblicas e assim, peço a Virgem Maria, Mãe da Igreja que rogue por todos para que a mente se abra a fim de conhecer as verdades cristãs deixadas por nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Embora saiba que muitos não creem, ainda sim, prefiro eu ficar com as palavras de Jesus:

Mt 10,28aNão temais os que matam o corpo, mas NÃO PODEM matar alma.

Que a paz do Senhor esteja com todos!

Érick Gomes. 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

NOSSAS CRENÇAS SÃO BASEADAS NA TRADIÇÃO?


II Tessalonicenses 2,15 - Assim, pois, irmãos, ficais firmes e conservai os ensinamentos de nós aprendestes, seja ORALMENTE, seja por carta nossa. 

INTRODUÇÃO

A Igreja Católica possui uma base de fé que se constitui de três pilares: Magistério, Escritura e Tradição. O Magistério constitui do oficio de interpretar a palavra de Deus, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo (CIC85), sendo ele (magistério) a serviço da palavra e não acima dela. As Santas Escrituras compõem os livros canônicos que regem a Igreja com os ensinos apostólicos deixados por aqueles que foram testemunhas oculares das manifestações de Deus, seja pelo velho ou pelo novo testamento. Já a tradição (que será aqui comentada) constitui o que conhecemos e recebemos pela fé apostólica através da manutenção do Espírito Santo que interage pelos séculos de forma ORAL, isto é, sem papel ou tinta (Irineu de Lião, livro III, pg 253, 4.1-2). Essa “Tradição” constitui os pontos de fé que interpretam as escrituras sagradas, os registros históricos da Igreja antiga e conceitos e costumes vividos e aplicados por muitos padres através dos anos. Para nós católicos, a tradição é um dos pontos de apoio da fé, já que ela representa o cuidado de Deus para com a comunidade cristã, entretanto, um dos frequentes questionamentos por parte de outras confissões cristãs é a alegação de que as doutrinas católicas possuem base apenas na tradição e não nas sagradas escrituras, embora saibamos que a Igreja nasceu primeiro que os registros bíblicos do novo testamento, os adeptos da “sola scriptura” insistem em associar as doutrinas universais unicamente com a tradição da Igreja. Por conta disso, colocarei alguns pontos da fé e faremos alguns comparativos entre a tradição e as sagradas escrituras e assim, verificaremos que ambas se completam. Não quero aqui propor um aprofundamento teológico e sim, manifestar a simplicidade da fé católica tão erradamente constada por alguns.


IMORTALIDADE DA ALMA

O que as sagradas escrituras ensinam?

A Bíblia é recheada de afirmações a respeito da alma imortal. Embora o velho testamento não tenha uma alusão clara sobre esse tema (tendo em vista que a revelação não estava concluída) o novo testamento apresenta provas de que após a morte o espírito preserva suas faculdades e lembranças. Na transfiguração de Cristo, Moisés que já havia morrido, aparece ao Senhor e tinha consciência das coisas que se passavam (Mc 9,4). O apostolo Paulo escreve aos Filipenses que embora na carne o evangelho de Cristo tenha se fortificado, seu desejo era partir para estar com o Senhor:

Fp 1,23
Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. 

Assim como diz na segunda carta aos Coríntios que tem o desejo de deixar o corpo para habitar com o Senhor:

II Cor 5,8-9Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor. Pois que muito desejamos também ser-lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes.

O que a Sagrada Tradição ensina?

A história da Igreja confirma aquilo que os apóstolos acreditavam: que após a morte, encontramos o Senhor e esse estado caracterizado como “intermediário” prefigura o aguardo dos justos (ou injustos / Hades) pela tão aguardada ressurreição. Irineu de Lião (180) escreveu em seu livro “Contra as Heresias” que o Senhor deixou claro o ensino a respeito das almas após a morte:


Contra as Heresias, pg. 239, Livro II / 34.1 – “O Senhor ensinou de forma clara que as almas não só perduram sem passar de corpo em corpo, mas conservam imutadas as características dos corpos em que foram colocadas e se lembram das ações que fizeram aqui na terra e das que deixaram de fazer”.


Eusébio, importante historiador da Igreja, deixou claro em um de seus escritos que a “morte” ou “sono” da alma era uma doutrina alheia à verdade:


História Eclesiástica, pg. 322, divergência dos árabes / cap 37 – “Apareceram ainda, na Arábia, no tempo a que nos referimos, introdutores de uma doutrina alheia a verdade. Asseveravam que a alma humana neste mundo, no momento final provisoriamente morre com o corpo e com ele se corrompe, mas no futuro, por ocasião da ressurreição, com ele reviverá. Então, foi convocado um IMPORTANTE concílio” 


INTERCESSÃO DOS SANTOS E ANJOS

O que as sagradas escrituras ensinam?

Os santos estão no céu e por nós intercedem incessantemente. Pouco antes do advento de Jesus Cristo, lemos um relado interessante no livro de Macabeus onde Jeremias que já estava morto, intercedia muito pela cidade santa e pelo povo judeu (II Mac 15,12), assim como lemos no livro de Tobias que um dos sete anjos (Rafael) que assiste perante o Senhor (Ap 8,2) intercedia por Tobias (Tb 12,12). No livro de Genesis, lemos que o sangue de Abel, que havia morrido, clamava a Deus (Gn 4,10). Já no novo testamento, possuímos vários testemunhos de que aqueles que morrem em estado de graça intercedem pelos vivos. Em Hebreus, lemos que existe uma nuvem de testemunhas (santos) que nos rodeia (Hb 12,1), sendo que esses espíritos aperfeiçoados fazem parte da Igreja celeste (Hb 12,22-23). Lemos em Apocalipse que as almas dos justos “clamam a Deus por justiça” (Ap 6,9-10).

É verdadeiramente claro que as sagradas escrituras manifestam essa possibilidade. 

O que a Sagrada Tradição ensina? 

A Sagrada Tradição, por sua vez, manifesta o que a patrística sempre entendeu: que os espíritos aperfeiçoados (Hb 12,22-23) intercedem pela Igreja. Vejamos alguns relatos da tradição que corrobora com a bíblia:

Orígenes (185-254 d.C. - Da Oração)  "O Pontífice não é o único a se unir aos orantes. Os anjos e as almas dos justos também se unem a eles na oração." 

Cipriano de Cartago, 200-258 – Epístola 57 – “Se um de nós partirmos primeiro deste mundo, não cesse as nossas orações pelos irmãos”.

Santo Hilário de Poitiers, 310-367 – “Aos que fizeram tudo o que tiveram ao seu alcance para permanecer fieis, não lhes faltará, nem a guarda dos anjos, nem a proteção dos santos”.

São Cirilo de Jerusalém, 315-386, Catequeses Mistagógicas – “Em seguida (oração eucarística), mencionamos os que já partiram: primeiro os patriarcas, profetas, apóstolos e mártires, para que Deus, em virtude de suas preces e intercessões, receba nossa oração”. 


UTILIZAÇÃO DE IMAGENS

O que as sagradas escrituras ensinam?

Ao contrário do que muitos pensam, o uso de imagens por parte da Igreja não foi um costume adotado do paganismo. É claro que analisando o contexto histórico que o cristianismo cresceu, veremos que  algumas culturas foram cristianizadas e a aderência de ícones e imagens passou a ter uma grande receptividade no seio da comunidade, entretanto, é importante salientar que a veneração de imagens, começou muito antes do advento de Cristo. A religião judaica fazia grande uso desses objetos, que para os judeus, retratavam um modelo do paraíso (Ex 25,40; Hb 8,5) que foi consagrado (Ex 40,9) e um local onde Deus habitava (Ex 25,8; Ex 40,34). Sendo assim, quais eram as imagens que faziam parte desse templo? Veremos abaixo, que tanto o tabernáculo construído por Moisés, quanto o templo erguido por Salomão possuíam muitas imagens! 


TABERNÁCULO

·         Cortinas e véus do templo pintados com imagens de querubins (Ex 26,1; 26,31);
·         Duas imagens de querubins no propiciatório da arca (Ex 25,18).

TEMPLO

·         Duas imagens de querubins no oráculo (I Rs 6,23);
·         Paredes (Internas e Externas) estavam entalhadas de anjos e palmas (I Rs 6,29);
·         Portas entalhadas e cobertas de ouro com querubins, palmas e flores (I Rs 6,32);
·         Almofadas e Juntas continham imagens de leões, bois e querubins (I Rs 7,29);
·         Na placa do templo haviam lavrados querubins, leões e palmas (I Rs 7,36);
·         Acima da porta, no interior do templo e por toda a parte, estavam coberto por figuras (Ez 41,17);
·         Dois querubins esculpidos da seguinte forma: um lado da face era humano e o outro lado era de um leão (Ez 41,18-19);
·         Na parede do templo, do piso até a porta, mais representações de querubins (Ez 41,20);
·         Outras por todas do templo que continham figuras de querubins (Ez 41,25);
·         Figuras de bois (II Cr 4,3);
·         Doze imagens de Bois que estavam apontados para locais distintos (II Cr 4,4)

 COBRA ERGUIDA POR MOISÉS

Além de tantos exemplos colocados, ainda possuímos a passagem onde Moisés constrói uma serpente de metal para curar o povo Deus. Todo aquele que olhasse para a cobra, era curado da “picada”.

Nm 21,8 - E Iahweh respondeu-lhe: “Faze uma serpente abrasadora e coloca-a em uma haste. Todo aquele que for mordido e a contemplar viverá”


O que a Sagrada Tradição ensina?

Desde o início da era cristã, o uso de imagens era amplamente difundido (basta verificar as catacumbas do primeiro século), não só por ascender aos olhos detalhes do que seria o paraíso (Hb 8,5), mas sim por funções catequéticas onde a imagem ensinava os menos instruídos. Aquilo que a bíblia ensinava pelo ler, a imagem evangelizava por cores. O segundo concílio de Nicéia (787) confirmou a fé católica, reafirmando a crença na veneração das imagens.

Assim ensina o catecismo da Igreja Católica:

CIC 1161 - "Na trilha da doutrina divinamente inspirada dos nossos santos Padres, e da Tradição da Igreja Católica, que sabemos ser a tradição do Espírito Santo que habita nela, definimos com toda a certeza e acerto que as veneráveis e santas imagens, bem como a representação da cruz preciosa e vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos, tanto a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, quanto a de Nossa Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos".

Assim os padres ensinaram:

Gregório de Nissa – “O desenho mudo sabe falar sobre paredes das Igrejas e ajuda grandemente”

João Damasceno – “O que a bíblia é para os que sabem ler, a imagem é para os iletrados”. 


CELIBATO SACERDOTAL

O que as sagradas escrituras ensinam?

Muitos questionam o celibato católico já que as sagradas escrituras ensinam o matrimonio como benção divina, entretanto, aprendemos com o próprio Cristo que muitos, por amor ao Reino de Deus, se fizeram eunucos:


Mt 19,12Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o.


No início da Igreja Cristã, o celibato não era uma regra obrigatória, mas sim, aqueles que poderiam “receber” está dádiva o faziam com a alegria no coração, assim como S.Paulo diz que o casado se preocuparia em cuidar de sua mulher, o solteiro cuidaria das coisas de Deus:

I Cor 7,32-33 – E bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor; Mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher.

O mesmo apóstolo na continuidade de sua linha celibatária, posteriormente enfatiza que o que se casa, faz bem, mas aquele que se guarda para o Senhor o faz ainda melhor!

I Cor 7,38 - De sorte que, o que a dá em casamento faz bem; mas o que não a dá em casamento faz melhor.

Nesses pequenos textos, já conseguimos visualizar o motivo pelo qual a Igreja nasceu celibatária, o processo pelo que isso se tornou regra disciplinar transcende os séculos e não fere os ensinamentos bíblicos, já que só se vira sacerdote aquele que realmente possui o chamado e se faz de eunuco pelo reino dos céus

E estes, são os que seguem o cordeiro para onde que que ELE vá!

o início da Igreja Cristã, o celibato não era uma regra obrigatória, mas sim, aqueles que poderiam “receber” está dádiva o faziam com a alegria no coração, assim como S.Paulo diz que o casado se preocuparia em cuidar de sua mulher, o solteiro cuidaria das coisas de Deus:

Ap 14,4Estes são os que não estão contaminados com mulheres; porque são virgens. Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vá. Estes são os que dentre os homens foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro. 

O que a Sagrada Tradição ensina?

Conforme o Cristianismo ia se difundindo sobre a terra, o celibato passava a ser observado com mais sacralidade, embora não tivesse um direto aplicado a essa normal que existe atualmente, no passado, foram muitos os concílios e padres que defenderam sua conduta para o clero. No concílio de Elvira (300 – 305), em seu cânon 33, reza o celibato para Bispos, Sacerdotes e até diáconos e isso se confirma no cânon 3 do concílio Ecumênico de Nicéia (325).

São Jerônimo em um de seus escritos (Ad Pammachium – 392) diz:

"Cristo é virgem, virgem é Maria; mostraram a cada um dos sexos a preeminência da virgindade. Os Apóstolos são ou virgens, ou após o casamento, continentes. Escolhem-se para bispos, sacerdotes e diáconos, quer virgens, quer viúvos, ou pessoas que em todo caso, depois do sacerdócio, observam para sempre a continência".

O PURGATÓRIO

O que as sagradas escrituras ensinam?

Embora as sagradas escrituras não tragam ao leitor o nome “purgatório” (assim como não existe a palavra “Trindade”), a Igreja, sempre reconheceu em algumas passagens da Bíblia o local onde a alma “purga” os pecados após a morte, isto é, pecados não perdoados durante a vida. Alguns protestantes sempre procuram afirmar que, uma vez que o sangue de Cristo nos limpa de todo pecado, seria uma absurdo acreditar em tal local, entretanto, os mesmos se esquecem que embora acreditem que Jesus morreu por nossas faltas, enquanto estamos em vida, nunca deixamos de clamar pela misericórdia de Deus, afim de que nossos pecados sejam perdoados, sendo assim, as possibilidades de partirmos, sem antes nos redimirmos com o Pai, é um fato provável, já que não sabemos nem o dia e nem à hora de nossa morte. Se o argumento protestante tivesse algum valor, teríamos que pensar que não precisaríamos que nossas falhas fossem redimidas diariamente, já que o sangue redentor nos limpou uma única vez, porém, sabemos que o sacrifício de Cristo foi perfeito, mas, nós como humanos continuamos a pecar e precisamos do seu perdão e isso conseguimos na carne, para as faltas “deixadas” por conseqüência da morte, conquistamos posteriormente através do fogo que purifica.


Sendo assim, no que consiste o purgatório?

Gosto de pensar no purgatório como o “fogo do amor de Deus”. Embora a palavra não exista nas sagradas escrituras, já que foi a Igreja que nomeou esse “estado”, podemos facilmente encontrar passagens bíblicas que relatam uma chama purificadora que limpa e purga os nossos pecados. Como já vimos anteriormente, a alma é imortal e após deixarmos esse mundo, retornamos a Deus que nos criou (Ec 12,7). Sabemos pela própria bíblia que o pecado não entra no céu (Ap 21,27), sendo assim, se ao morrermos, não tivermos a chance de alcançar o perdão de algum pecado, sabemos que antes de adentrar ao céu, passaremos por essa “purificação”. O estado de purgação é exclusivo dos salvos em Cristo, pessoas essas que morreram na amizade de Deus.

Pois bem, encontramos no livro do profeta Isaias fontes primárias que nos revelam uma “brasa” ou um “fogo” que purifica os pecados, vejamos:

Is 6,5-8 - Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos. Porém um do serafins voou para  mim, trazendo na sua mãe uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; e com a brasa tocou a minha boca e  disse: Eis que isto que tocou os teus lábios; e a tua iniquidade foi tirada, e expiada o teu pecado.

Conforme lemos, o profeta Isaías se achava indigno de estar na presença e Deus por conta de seus pecados. A fim de expiar suas faltas, uma "brasa" o tocou nos lábios e limpou sua alma. Lemos situações semelhantes em outros textos bíblicos, como em Malaquias que relata o mesmo "fogo" que purifica (Ml 3,1-5). No novo testamento, alguns textos, continuam a fazer referência ao fogo que purifica e salva. Essa manifestação divina, foi entendida pela Igreja como o estado de explicação dos pecados que nos limpa dos pecados que não foram perdoados em vida. 

Lemos em Marcos 9.47-49 que existe um "fogo" que castiga, entretanto, existe outro que nos "salga" fazendo referência a nossa purificação. Assim como o apóstolo Paulo confirma essa ideia ao dizer que nossas obras passarão por uma prova  e seremos "salvos" através da passagem pelo fogo.

I Cor 3,13 - A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um.

I Cor 3,15 - Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo.

Dessa forma, o magistério católico, apenas nomeou o que conhecemos por purgatório, porém, pelas próprias escrituras, conhecemos o fogo do amor de Deus, que nos purifica nas faltas e expia nosso pecado. Provavelmente, por isso, Nosso Senhor tenha dito que os "pecados contra o Espirito Santo" não podem ser perdoados nesse mundo e muito menos "no outro" (Mt 12,32).


O que a Sagrada Tradição ensina?

Muitos alegam que o purgatório foi uma “invenção” do Papa Gregório no ano 593. Como já mencionamos, embora as sagradas escrituras não tragam um nome propriamente dito, esse lugar de purgação dos pecados, já era referenciado e os antigos cristãos, anos antes de Gregório, já manifestavam essa verdade. É certo afirmar que a Igreja posteriormente reconheceu esse estado como de purgação ou expiação dos pecados, entretanto, os cristãos primitivos já intercediam em sufrágio das almas. Como poderemos ler nas citações abaixo, o fogo purificador era entendido como aquele que “limpa a alma”. 

Santa Perpétua (203 / Paixão de Perpétua e Felicidade 2.3-4)
- "Imediatamente, nessa mesma noite, isto me foi mostrado em uma visão: eu vi Dinocrate saindo de um lugar sombrio, onde se encontravam também outras pessoas; e ele estava magro e com muita sede, com uma aparência suja e pálida, com o ferimento de seu rosto quando havia morrido. Dinocrate foi meu irmão de carne, tendo falecido há 7 anos de uma terrível enfermidade... Porém, eu confiei que a minha oração haveria de ajudá-lo em seu sofrimento e orei por ele todo dia, até irmos para o campo de prisioneiros... Fiz minha oração por meu irmão dia e noite, gemendo e lamentando para que [tal graça] me fosse concedida. Então, certo dia, estando ainda prisioneira, isto me foi mostrado: vi que o lugar sombrio que eu tinha observado antes estava agora iluminado e Dinocrate, com um corpo limpo e bem vestido, procurava algo para se refrescar; e onde havia a ferida, vi agora uma cicatriz; e essa piscina que havia visto antes, vi que seus níveis haviam descido até o umbigo do rapaz. E alguém incessantemente extraía água da tina e próximo da orla havia uma taça cheia de água; e Dinocrate se aproximou e começou a beber dela e a taça não reduziu [o seu nível]; e quando ele ficou saciado, saiu pulando da água, feliz, como fazem as crianças; e então acordei. Assim, entendi que ele havia sido levado do lugar do castigo"

Abércio (Fim do século II e início do III / Epitáfio de Abércio)
- "Cidadão de pátria ilustre, / Construí este túmulo durante a vida, / Para que meu corpo - num dia - pudesse repousar. / Chamo-me Abércio: / Sou discípulo de um Santo Pastor, / Que apascenta seu rebanho de ovelhas, / Por entre montes e planícies. / Ele tem enormes olhos que tudo enxergam, / Ensinou-me as Escrituras da Verdade e da Vida / [...] / Eu, Abércio, ditei este texto / E o fiz gravar na minha presença / Aos setenta e dois anos. / O irmão que o ler por acaso / Ore por Abércio."

Atos de Paulo e Tecla (160) - "E após a exibição, Trifena novamente a recebeu. Sua filha Falconila havia morrido e disse para ela em sonhos: 'Mãe: deverias ter esta estrangeira, Tecla, como a mim, para que ela ore por mim e eu possa ser levada para o lugar dos justos".

Clemente de Alexandria (215 / Stromata 8.6) - "Porém, nós dizemos que o fogo santifica não a carne, mas as almas pecadoras; referindo-se não ao fogo comum, mas o da sabedoria, que penetra na alma que passa pelo fogo" 

Tertuliano (195 / Da Alma 58: PL2.751) - "Por isso, é muito conveniente que a alma, sem esperar a carne, sofra um castigo pelo que tenha cometido sem a cumplicidade da carne. E, igualmente, é justo que, em recompensa pelos bons e piedosos pensamentos que tenha tido sem a cooperação da carne, receba consolos sem a carne. Mais ainda: as próprias obras realizadas com a carne, ela é a primeira a conceber, dispor, ordenar e pô-las em alerta. E ainda naqueles casos em que ela não consente em pô-las em alerta, no entanto, é a primeira a examinar o que logo fará no corpo. Enfim, a consciência não será nunca posterior ao fato. Consequentemente, também a partir deste ponto de vista, é conveniente que a substância que foi a primeira a merecer a recompensa seja também a primeira a recebê-la. Em suma: já que por esta lição que nos ensina o Evangelho entendemos o inferno, já que 'por esta dívida, devemos pagar até o último centavo', compreendemos que é necessário purificar-se das faltas mais ligeiras nesses mesmos lugares, no intervalo anterior à ressurreição; ninguém poderá duvidar que a alma recebe logo algum castigo no inferno sem prejuízo da plenitude da ressurreição, quando receberá a recompensa juntamente com a carne"

São Cipriano (246 / Epístola 51.20) - "Uma coisa é pedir perdão; outra coisa, alcançar a glória. Uma coisa é estar prisioneiro sem poder sair até ter pago o último centavo; outra coisa, receber simultaneamente o valor e o salário da fé. Uma coisa é ser torturado com longo sofrimento pelos pecados, para ser limpo e completamente purificado pelo fogo; outra coisa é ter sido purificado de todos os pecados pelo sofrimento. Uma coisa é estar suspenso até que ocorra a sentença de Deus no Dia do Juízo; outra coisa é ser coroado pelo Senhor"

Orígenes (231 / P.G 13,col. 445, 448) - "Pois se sobre o fundamento de Cristo construístes não apenas ouro e prata mas pedras preciosas e ainda madeira, cana e palha, o que esperas que ocorra quando a alma seja separada do corpo? Entrarias no céu com tua madeira, cana e palha e, deste modo, mancharias o reino de Deus? Ou em razão destes obstáculos poderias ficar sem receber o prêmio por teu ouro, prata e pedras preciosas? Nenhum destes casos seria justo. Com efeito, serás submetido ao fogo que queimará os materiais levianos. Para nosso Deus, àqueles que podem compreender as coisas do céu, encontra-se o chamado 'fogo purificador'. Porém, este fogo não consome a criatura, mas aquilo que ela construiu: madeira, cana ou palha. É manifesto que o fogo destrói a madeira de nossas transgressões e logo nos devolve o prêmio de nossas grandes obras"


DOGMAS MARIANOS

Maternidade Divina

O que as sagradas escrituras ensinam?

Jesus Cristo, ao se encarnar no seu da virgem Maria, preservou sua divindade e por esse motivo é ponto de fé de qualquer cristão assumir e crer que Nosso Senhor, enquanto esteve no corpo foi 100% homem e 100 % Deus. Por esse motivo, a Igreja crê que Nossa Senhora, pelos méritos de sua santidade foi agraciada com a maternidade divina. Não porque ela seja Mãe de Deus segundo a eternidade, mas sim, porque gerou o “Emanuel – Deus Conosco (Mt 1,23)”, o “Verbo de Deus (Jo 1,1 e 1,14)”, aquele que é o “Deus de Isaque, Abraão e Jacó (Mt 22,32)”

Maria cooperou no plano de salvação, já que com o seu sim generoso (Lc 1,38), abriu as portas para que o redentor entrasse no mundo. Maria “advogou” o pecado de Eva. Assim como o pecado entrou no mundo através da desobediência de uma mulher, a salvação chegou até nós por meio da obediência de Maria.

Dessa forma, lemos que Maria Santíssima ao visitar sua parenta Isabel (Lc 1,41) foi chamada por ela de “Mãe do meu Senhor (Lc 1,43)”. Esse pequeno trecho das sagradas escrituras constituem um dos dogmas marianos mais importantes da Igreja, já que confirma que Maria sendo verdadeiramente a Mãe do Senhor (Deus), verdadeiramente Nosso Senhor era totalmente Deus em sua carne humana.

A Maternidade Divina de Maria possui a importância de confirmar a divindade de Jesus.

O que a Sagrada Tradição ensina? 


A Tradição, a exemplo das escrituras, segue a crença bíblica. No ano 431, no concílio de Éfeso, Maria foi confirmada como “Mãe de Deus” para que a divindade de Cristo fosse afirmada. Desde o início, os Pais da Igreja viam em Maria o exemplo de mulher, a nova Eva, aquela que cuidou e alimentou o homem Deus.

Vejamos alguns testemunhos da patrística, onde a tradição se faz presente nesta crença genuinamente cristã.

Hipólito, 170, Philosophoumena, X,33: PG 16,34-51 – “Sabemos que ele assumiu o corpo da Virgem, que revestiu o homem velho mediante uma nova criança, que passou através de toda idade da vida, para se converter em norma de toda idade. Sabemos que esse homem nasceu de uma massa como a nossa: se não tivesse sido de nossa mesma massa, vã seria a lei de imitar o mestre. Se esse homem tivesse sido de outra substância, por que me teria mandado tais coisas a mim, que sou fraco por natureza? Seria bom e justo”?

Alexandre de Alexandria, Ep. Ad Alex. Const. N. 12, em Teodoreto, História Ecclesiastica, 1,3: PG 82,908 – “Nosso Senhor Jesus Cristo recebeu real e não aparentemente um corpo da Theotokos Maria”.

Santo Atanásio de Alexandria, 318, da Trindade – “A Sagrada Escritura, como tantas vezes fizemos notar, tem por finalidade e característica afirmar de Cristo Salvador essa duas coisas: que Ele é Deus e nunca deixou de o ser, visto que é a palavra do Pai, seu esplendor e sabedoria e também que nestes últimos tempos, por causa de nós, se fez homem, assumindo um corpo da Virgem Maria, Mãe de Deus”.

Oração Egípcia, 211 d.C. – “Sob a vossa proteção procuramos refúgio, santa Mãe de Deus: não desprezeis as nossas súplicas, pois estamos sendo provados, mas livrai-nos de todo o perigo, ó Virgem gloriosa e bendita”.

Lutero, o precursor da reforma protestante, acreditava na maternidade divina de Maria:

Martinho Lutero, Auslegung dês Magnificat, 1522: LW 7,572 – “As grandes coisas que Deus realizou em Maria se reduzem a ser a Mãe de Deus. Com isso lhe foram concedidos muitíssimos outros bens, que ninguém poderá nunca compreender. Daí deriva toda a sua honra, toda a sua bem-aventurança e que ela seja no meio de toda a raça humana uma pessoa de todo singular e incomparável. Ela teve com o Pai celeste um filho, e um filho tal. Compreende-se toda a sua honra, quando se chama a ela de Mãe de Deus. Ninguém pode dizer coisa maior dela, mesmo que tivesse tantas línguas como folhagem tem a erva, como estrelas têm o céu ou areia têm as praias. Deve-se meditar no coração o que significa ser Mãe de Deus”.

Virgindade Perpétua

O que as sagradas escrituras ensinam?

Embora o novo testamento manifeste a ideia de que o Senhor possuía irmãos, não há qualquer registro histórico que esses filhos sejam de Maria ou de José. Tanto que, em todas as passagens que se encontram aspectos familiares dessa “tribo”, Jesus é o único a ser chamado de filho de Maria (Mc 6,3) ou filho do carpinteiro (Mt 13,55), ainda soma-se a alguns fatos importantes como a não presença desses irmãos na subida dos pais de Jesus a Jerusalém (Lc 2,42) ou quando o próprio Cristo, no alto da cruz, entrega sua mãe aos cuidados do apóstolo João (Jo 19,26-27), sendo que o mesmo não fazia parte da família. Fatos como esses, até hoje não são bem explicados por aqueles que não acreditam na virgindade perpétua de Maria. A Igreja desde os tempos mais remotos, viu nestes irmãos, membros da família, mas não irmãos uterinos. Vemos por exemplo que a própria Maria, mãe de Jesus, tinha uma irmã ou cunhada também chamada Maria (esposa de Clopas / Jo 19,25) cujos filhos são chamados de “Tiago Menor e José (Mc 15,40)”, nomes esses que são parecidos aos supostos irmãos do Senhor. Lemos também que Paulo em sua epístola aos Gálatas diz que ao ir para Jerusalém, encontrou além de Cefas (Pedro) o apóstolo Tiago, “irmão do Senhor” (Gl 1,19). Embora não existam afirmações concretas que esse Tiago possa ser um dos doze chamados inicialmente, há que interprete que este apostolo citado por Paulo seja o filho de Alfeu (Mc 3,18) e aqui, teríamos mais uma prova que de fato esses irmãos não passam de membros do mesmo clã, já que Alfeu poderia ser “Clopas”, esposo da outra Maria (Mt 28,1), mãe de Tiago e José. Judas também afirma ser irmão deste Tiago (Jd 1,1).


O que a Sagrada Tradição ensina?

A virgindade perpétua de Maria nunca foi um tema que tivesse trazido discórdia da Igreja antiga. Embora existissem casos esporádicos, como foi o caso de Elvídeo e Bonoso de Naiso (Bispo na Dácia), a maioria esmagadora dos Padres defendia que Nossa Senhora nunca teve outros filhos, a não ser Jesus, o Senhor. O dogma da virgindade não foi confirmado em determinado ano e sim, entendido e abrigado nos corações das comunidades desde os primórdios do cristianismo.

Vejamos algumas declarações:

Santo Agostinho, Sermo 72A,8: PL 46,938 – “Esta mãe santa, honrada, semelhante a Maria, dá a luz e é virgem”. 

Cromácio de Aquileia, Sermo 30,1-2; SC 164,135-136 – “Efetivamente, a Igreja de Cristo está ali onde se prega a encarnação de Cristo por meio da virgem”.

João Crisóstomo, In psalmum 44,7: PG 55,193 – “Uma virgem nos fez expulsar do paraíso, por meio de uma virgem encontramos a vida eterna”.

Efrém, Diatessaron, 2,6: SC 121,69-70; cf. id, Himni de Nativitate, 10,6-9: CSCO 187,59 – “Como teria sido possível que aquela que foi morada do Espírito, que esteve coberta com a sombra do poder de Deus, se convertesse em mulher de um mortal e desse à luz na dor, segundo a primeira maldição”?

Orígenes, In Mt. Comm. 10,17: GCS 10,21 – “Maria conservou sua virgindade até o fim para que o corpo que estava destinado a servir à palavra não conhecesse uma relação sexual com um homem”.

Gregório de Nissa, Hom, in Nativ.: PG 46,1140s – “O anjo lhe anunciou o nascimento e ela se agarra à virgindade, por que pensa que manter-se intacta é superior à mensagem do anjo”.

Basílio, Hom. De Natividade: PG 31,1468s – “Não suportam que se diga que a Theotokos deixou de ser virgem em um determinado momento”.

Imaculada Conceição

O que as sagradas escrituras ensinam? 


As sagradas escrituras não ensinam de forma clara e objetiva que Maria tenha sido concebida de forma imaculada, entretanto, não menciona qualquer pecado ou falta que a Mãe de Deus tenha cometido. Um dos argumentos escriturísticos que frequentemente tem sido utilizado para indicar a primícia desse ensinamento, diz respeito à saudação do Anjo no momento da anunciação da maternidade divina. Lemos no evangelho de Lucas a seguinte afirmação:

Lc 1,26-30 – No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria. Entretanto onde ela estava, disse-lhe: “Alegra-te, CHEIA DE GRAÇA, o Senhor está contigo”! Ela ficou intrigada com essa palavra e pôs-se a pensar qual seria o significado da saudação. O Anjo, porém, acrescentou: “Não temas, Maria! Encontraste GRAÇA junto de Deus”.

Dentro de toda a literatura bíblica, a ÚNICA VEZ que aparece o termo κεχαριτωμένη (Cheia de graça) é nesta passagem de Lucas que e é destinada única e exclusivamente a Maria. Através dos tempos, a Igreja entendeu que o fato de Nossa Senhora ser “cumulada de graça por Deus (Lc 1,28)” fez com que ela tivesse sido redimida desde a concepção, uma vez que Nosso Senhor, sendo Deus, não possuía pecados, o ventre o qual abrigaria o santo de Deus, deveria ser puro e livre de qualquer mancha do pecado.

Embora a Bíblia não dê como assertiva a isenção de pecados de Maria, temos como primícia a declaração do Anjo que originou as profundas reflexões pelos séculos que levaram a confirmação dessa verdade de fé.

O que a Sagrada Tradição ensina?

A tradição comumente afirmava que Maria havia sido isenta de pecados pessoais e isso se dava ao fato de sua intima relação com o Espírito Santo uma vez que Jesus Cristo havia nascido do ventre que foi tomado pela “Sombra do Altíssimo (Lc 1,35)”. Era tão grande a manifestação dessa crença na Igreja Antiga que alguns padres chamavam Maria de “templo santo”. Vemos isso ao ler a declaração de Cirilo de Alexandria no Concílio de Éfeso (431):

Cirilo de Alexandria, Discurso pronunciado em el Concilo de Efeso: PL 77,1029-1040 – “Salva, Maria, templo onde Deus habita, templo santo, como o chama o profeta Davi quando diz: “Teu templo é santo e admirável em sua justiça (SL 64.6)”. Salve Maria, a criatura mais preciosa da criação; salve Maria, pomba puríssima”. 

Assim, Gregório de Nissa (335) e André de Creta (650) seguiam a mesma língua de pensamento:

Gregório de Nissa, De virginitate, 2 – “A plenitude da divindade que residia em Cristo, brilhou através de Maria, a imaculada”.

André de Creta, Encom. II in dies Natalis: PG 97,832B – “Eu proclamo Maria a única santa, a mais santa entre todos os santos”.

Encontramos semelhantes afirmações de outros estudiosos, que viam na virgem o templo no qual Deus habitou por nove meses, sendo que por méritos do Senhor, antecipou Maria fazendo com que ela tivesse sido concebida sem a macha do pecado de Adão.

Alguns teólogos como Raimundo Lúlio (1315) emanaram a ideia dessa isenção da culpa original:

Raimundo Lúlio, Dispotatio Eremitae ET Raymundi, q.96 – “A semente da qual procede Maria não herdou o pecado original de seus pais”

O teólogo Franciscano Duns Scoto (1308) afirmou que:

Cf. A. Villamonte, Qué ES ló que celebramos em La fiesta de La inmaculada?, em EphMar 35, 323 – “Não poderíamos chamar Cristo perfeitíssimo Redentor nem Maria perfeitíssima redimida se não afirmássemos a preservação do pecado original”.

O dogma da Imaculada Conceição foi oficializado somente no dia oito de dezembro de 1854, porém, como lemos em alguns relatos, as afirmações sobre a santidade da virgem derivaram de muitos séculos atrás e muitas das afirmações aqui colocadas foram as responsáveis pela definição desse ponto de fé.

Para aqueles que não acreditam, fica o ônus da questão de provar pelas próprias escrituras que Maria tinha pecados. 


Assunção / Dormição

O que as sagradas escrituras ensinam?

Não há qualquer livro canônico que mencione o destino final de Maria, quanto a isso, o único registro histórico que confirma o destino da virgem é através da tradição.

O que temos por conhecimento, pelo pouco que o novo testamento passa é que após a Crucificação, João passou a receber Maria em sua casa (Jo 19,26-27) e que no Cenáculo, relatado por Lucas, a Mãe de Jesus, juntamente com sua família perseverava em oração (At 1,14).

O que a Sagrada Tradição ensina?

O registro histórico da tradição diverge no que diz respeito à morte ou sono da virgem. Alguns mencionam que Maria teria morrido, ressuscitado e posteriormente havia sido assunta aos céus, enquanto outras descrevem que a Mãe de Deus, no fim do curso de sua vida, adormeceu e foi também elevada aos céus.

O texto que coloco abaixo foi transcrito por um “pseudo-Melitão” e é colocado pela tradição como Trânsito B. O relato está registrado no livro de José Cristo Rey García Paredes / Mariologia, Síntese bíblica, histórica e sistemática / Pg 261. Narra à morte, sepultamento, ressurreição e assunção da Virgem.

“Quando o Senhor estava crucificado, viu a Virgem e João, o evangelista, a quem amava mais que aos outros apóstolos porque havia se conservado virgem, que estava junto da cruz. A ele recomendou o cuidado de Santa Maria dizendo-lhe...e quando os apóstolos se dispersaram pelo mundo para pregar, segundo lhe coube em sorte, ela ficou em casa de seus pais no monte das Oliveira (N.2) No segundo ano depois que Cristo, vencia a morte, havia subido ao céu, Maria começou a chorar sozinha no refúgio de sua câmara. E um anjo de vestes refulgentes se apresentou diante dela e a saudou dizendo: ‘Salve, bendita do Senhor. Recebe a saudação daquele que mandou a salvação a Jacó por meio dos pobres. Vê este ramo de palma; eu o trouxe do Paraíso do Senhor; tu o farás levar diante do teu féretro quando, daqui a três dias, sereis levada do teu corpo. Teu filho te espera acompanhado dos coros angélicos’. Maria disse ao anjo: ‘Peço-te que se reúnam junto de mim todos os apóstolos do Senhor Jesus Cristo. Rogo-te que me abençoes, para que no momento em que minha alma saia do corpo, não encontre nenhum poder infernal nem veja o príncipe das trevas’. O anjo respondeu: ‘As potencias infernais não te causarão dano, pois teu Senhor te deu tua bênção eterna; mas o não ver o príncipe das trevas não posso conceder-te eu, e sim Aquele a quem levaste em teu seio. É Ele quem tem o poder sobre tudo, pelos séculos dos séculos’. Dizendo isso, retirou-se o anjo com grande resplendor. Porém, a palma ficou resplandecente com uma grande luz. Maria então vestiu suas melhores veste. E tomando a palma que havia recebido da mão do anjo, subiu para orar no monte das Oliveiras. Isso feito, retornou para sua cama (N.3). De repente, no domingo, na hora terceira, quando São João pregava em Éfeso, houve um grande terremoto; uma nuvem o elevou, o tirou dos olhos de todos e o depositou diante da porta da casa onde estava Maria (N.4)”.

Depois, há um diálogo entre Maria e João:

“Daqui a três dias abandonarei o corpo”

Maria ainda acrescenta que os judeus estão esperando o momento de sua morte para queimar seu corpo. Dá instruções a João para que a sepultasse com uma determinada veste e lhe pediu que fizesse levar diante do féretro, ao ir para o sepulcro, a palma luminosa que havia recebido do anjo (N.4).

“No momento foram trazidos em uma nuvem todos os apóstolos desde os lugares nos quais pregavam e se perguntavam uns aos outros ao ser depositados em terra na porta da casa da Virgem: ‘Para que nos reuniu o Senhor’? (N.5). ‘O Senhor vos trouxe aqui para que me consoleis nas tribulações que me aguardam. Peço-vos que vigiemos juntos sem interrupção até o momento no qual o Senhor vier e eu seja separada do corpo’ (N.6). Passaram três dias louvando a Deus. No terceiro dia, lá pela hora terceira, adormeceram todos os que estavam na casa, com exceção dos apóstolos e três virgens que estavam ali. De repente veio o Senhor Jesus Cristo com grande resplendor e disse: ‘Vem pérola preciosíssima; entra na morada da vida eterna’ (N.7)”.

Depois de uma oração ajoelhados, Maria se levantou do solo, deitou-se na cama e, dando graças a Deus, entregou o espírito.

“Os apóstolos viram que sua alma era tão cândida que nenhuma língua humana podia descrevê-la de maneira digna: irradiava tamanha claridade que superava a brancura da neve, da prata e de todos os metais (N.8). O Senhor pediu a Pedro que sepultasse o corpo de Maria em um sepulcro novo, e entregou a Miguel – guardião do Paraíso e príncipe do povo judeu – a alma de Maria. Gabriel o acompanhava (N.9) O corpo de Maria era semelhante a uma flor de lírio e exalava um perfume tão suave que não se pode encontrar outro igual (N.10)”.

“Perguntam-se Pedro e João quem deverá levar a palma diante do féretro. Pedro achou que obrigado era João, o discípulo amado. Ao tomar o corpo e levá-lo ao lugar da sepultura, Pedro começou a cantar: ‘Saiu Israel do Egito. Aleluia’! Os apóstolos levavam o corpo e cantavam suavemente (N.11). O cortejo era de uma multidão de cerca de umas quinze mil pessoas. Um príncipe dos sacerdotes, cheio de ira, disse aos outros: Vede que glória recebe o tabernáculo daquele que nos confundiu! Aproximando-se, quis derrubar o féretro e lançar o corpo por terra. Mas suas mãos secaram desde o cotovelo e ficaram agarradas ao féretro. Os anjos que estavam na nuvem golpearam o povo de cegueira (N.12). O sacerdote pedia para ser curado. Pedro lhe disse que o curaria se acreditasse ‘de todo o coração no poder de Jesus Cristo, a quem Maria levou em seu seio ficando virgem depois do parto’ (N.13). Acreditou e foi curado. João lhe deu a palma. Entrou na cidade e aos que impunham a palma sobre os olhos recobravam a visão (N.15)”.

“Os apóstolos levaram Maria ao vale de Josafá e a depositaram em um sepulcro novo. Apareceu-lhes então o Senhor. E lhes disse: ‘Por ordem de meu Pai escolhi esta dentre todas as tribos de Israel para nela habitar. Que quereis que lhe faça’? Pedro e os outros apóstolos lhe responderam: ‘Se possível à graça do teu poder, nós teus servos veríamos com bons olhos que ressuscitasses o corpo de tua mãe e o conduzisse contigo ao céu, do mesmo modo que Tu vencias a morte, reinas na glória’ (N.16). Então Jesus ordenou ao arcanjo Miguel trazer a alma de Santa Maria; girou a pedra do sepulcro. O Senhor disse: ‘Sai amiga minha, tu que não aceitaste a corrupção do coito, não sofrerás a dissolução do corpo no sepulcro’. E no instante ressuscitou Maria e se prostrou aos pés de Jesus adorando-o (N.17). O Senhor a beijou e se retirou, entregando-a aos anjos para que a levassem ao céu. A seus apóstolos também os beijou e se elevou em uma nuvem e entrou no céu e com ele os anjos que levavam Maria para o Paraíso de Deus. Os apóstolos foram devolvidos pelas nuvens cada um ao lugar onde estava pregando (N.18)”.

CONCLUSÃO

Amigos leitores;

Conforme vimos nestas poucas linhas, conseguimos verificar que as doutrinas católicas estão respaldadas também nas sagradas escrituras e se caso, dentro da bíblia, houve insuficiência para a comprovação, temos os registros históricos através da tradição da Igreja.

Que Deus nos conceda o verdadeiro discernimento! 

Fiquem no amor de Jesus Cristo;

Érick Gomes