terça-feira, 10 de março de 2015

É BÍBLICO O DOGMA DA SANTÍSSIMA TRINDADE?


“A fé de todos os cristãos consiste na trindade” (S.Cesário de Arles; Expositio Sympoli [sermo 9]: CCL 103,48).

O mistério da Trindade é a verdade central da fé de todo cristão. Para entender todo o corpo doutrinário dos conceitos católicos é necessário que, antes de tudo, tenha-se conhecimento do que é a Trindade para nós. O catecismo ensina em seu parágrafo 234 que a trindade é o “mistério de Deus em si mesmo”:

“É o mistério (trindade) de Deus em si mesmo. É, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé, é a luz que ilumina. É o ensinamento mais fundamental e essencial na ‘hierarquia das verdades da fé’”.

A trindade não é a crença em três deuses e sim, em um único Deus que relaciona-se consubstancialmente em três pessoas: O Pai, o Filho e o Espírito Santo.  Atualmente, é muito comum que cristãos heterodoxos professem essa crença de forma natural, entretanto, é importante salientar que o dogma da trindade não está exposto claramente nas sagradas escrituras e que por esse motivo, coube a Igreja Católica, guiada pelo Santo Espírito, em formular o dogma trinitário, uma vez que, a fé primitiva sofria constantemente com erros que a deformariam e a Igreja como testemunha do Senhor, sempre teve como missão defender a ortodoxia católica. Com a ajuda dos antigos Padres e através de dois concílios (Nicéia [325] e Constantinopla [381]) é que se afirmou e conservou a expressão de que o “filho é consubstancial ao Pai”. 

Sendo assim, é de inteira responsabilidade da fé católica a propagação do dogma da trindade. Se você está lendo esse texto e não é católico, acredite, você crê em um dogma confirmado pela Igreja. Isto é, se as escrituras não ofereceriam o total respaldo para afirmar a crença, como poderíamos encontrá-la na bíblia? Pois bem, sabemos que ao lermos determinadas passagens, podemos encontrar alguns textos que nos concedem a tranquilidade para crer que o Pai, o Filho e o Espírito Santo compõem uma única essência. 

Descubra aqui, três passagens do velho testamento e cinco passagens do novo que reforçarão a sua fé na santíssima trindade.  

A TRINDADE NO VELHO TESTAMENTO

A ideia de trindade no períodovétero-testamentário, em um primeiro momento é quase nula. Grande parte dos teólogos católicos e padres da Igreja antiga procuraram atribuir ao Deus de Israel certa “pluralidade” para assim, aceitar que antes da vinda de Jesus, Iahweh era de fato, o Senhor trino cultuado pelos cristãos. Uma das obras fortemente usadas para comprovar a existência da consubstancialidade das três essências é o livro de Gênesis, onde no ato da criação, ao que tudo indica, Deus não está só e sim, relacionando-se com o “verbo” (Jo 1,1) e o “espírito santo” (Gn 1,2).

“Façamos”
Gn 1,26a“Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança’”. 

Neste primeiro verso do gênesis onde existe a ordenança da criação do homem, notamos aqui um “plural majestático”, isto é, o uso da primeira pessoal, só que no plural. A palavra que define essa pluralidade hebraísta é “Elohim” que é designada como o nome próprio do verdadeiro Deus. Embora a passagem não diga que de fato, existiam “três pessoas” em um único Deus, os primeiros padres da Igreja já enxergavam aqui o mistério da Trindade. 

“Um de nós”
Gn 3,22a“Depois disse Iahweh Deus: ‘Se o homem já é como um de nós’”.

Após a queda, o homem torna-se igual a Deus por obter para si o conhecimento do “bem e do mal” e neste verso, mais uma vez, lemos Deus utilizar-se de um pluralismo para indicar a manifestação de que não está só em sua obra: “o homem já é como um de nós”.   

“Vinde! Desçamos!”
Gn 11,6-7“E Iahweh disse: ‘Eis que todos constituem um só povo e falam uma só língua. Isso é o começo de suas iniciativas! Agora, nenhum desígnio será irrealizável para eles. Vinde! Desçamos! Confundamos a sua linguagem para que não mais se entendam uns aos outros’”.

A torre de babel foi um evento onde o povo de forma errônea, desafiou a soberania de Deus ao acreditar que poderiam realizar uma construção que chegasse ao céu (Gn 11,4) e assim, todas as nações seriam reunidos ao seu redor. A fim de, eliminar as obras humanas, Iahweh confunde as línguas de toda a face da terra e assim, dispersa-os. Nesta passagem, notamos que há novamente a pluralidade das pessoas e embora o verso seis apenas diga que “Iahweh” ordenou a ação, lemos que no verso sete, ao descer para confundir as línguas, os dois verbos escritos (vir e descer) são mencionados no plural. Nestes versos, conseguimos visualizar, ainda que primitivamente, a comunhão trinitária.

A TRINDADE NO NOVO TESTAMENTO

Jesus Cristo ao nascer da virgem Maria, consumiu a promessa pregada pelos antigos profetas. Ao dizer que o salvador de Israel viria ao mundo para endireitar os caminhos de seu povo (Is 7,14-17; Mq 5,1-3) os homens do antigo testamento já testificavam que um grande rei surgiria para a salvação do gênero humano e esse rei foi encontrado na pessoa de Jesus. É esse Jesus que foi revelando-se como o único Deus. Com a exceção de Pedro, que declarou a sua divindade (Mt 16,16), os demais escritores passaram a entender que após a ressurreição, o próprio Senhor crucificado era de fato o Deus de Israel. 

“Deus conosco”
Mt 1,23“Eis que a virgem conceber e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel, o que traduzido significa: ‘Deus está conosco’”.

Jesus Cristo foi anunciado profeticamente por homens de fé do antigo testamento. Ao chegar à plenitude dos tempos (Gl 4,4-5), as escrituras concretizaram-se e o messias foi anunciado mediante a aparição do Anjo Gabriel a Maria Santíssima (Lc 1,26-27). Inicialmente, José não acreditou no milagre e sendo justo, resolveu repudiar a virgem secretamente, entretanto, o Anjo do Senhor apareceu em sonho a ele dizendo que não temesse, pois, aquele que nasceria, salvaria o povo de seus pecados, sendo assim, a palavra dirigida a Isaías estaria cumprida no projeto salvador do Pai, mediante o Cristo que é o verdadeiro “Emanuel”, o próprio Deus conosco.  

“Batizar em nome da Trindade”
Mt 28,19“Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.

A fórmula batismal que hoje é realizada na Igreja tem a sua origem nos evangelhos. Esse registro que afirma que devemos ser batizados em nome do “Pai, Filho e Espírito Santo” reflete o pensamento primitivo das primeiras comunidades que já entendiam, mesmo que de forma tímida, a unidade das três pessoas que compõem a trindade. O primeiro sacramento que inicia-nos na fé é o batismo e é através da trindade, anunciada sobre o nosso corpo e mediante a água derramada é que podemos assumir sobre si o nome de cristãos.   

“O verbo era Deus”
Jo 1,1“No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”.

O evangelista João em seus escritos, enfatiza a verdade da divindade de Jesus. Ele (Cristo) não foi um simples homem, ou um simples profeta e sim, o próprio Deus (Mt 1,23). A encarnação se dá mediante a palavra, isto é, mediante ao verbo de Deus que era e continua sendo Deus, se fez carne para a salvação do gênero humano. No primeiro verso de seu evangelho, João nos remete ao início da criação, onde Deus usa da palavra (façamos) para moldar do barro o ser humano. A teologia do apóstolo afirma que desde o início, Jesus é a palavra viva de Deus e que Ele é o próprio Deus.  

“Somos um”
Jo 10,29-30“Meu Pai, que me deu tudo, é maior que todos e ninguém pode arrebatar da mão do Pai. Eu e o Pai somos um”.

No momento da festa da dedicação (I Mc 4,59; Jo 10,22), os judeus rodearam a Cristo, a fim de obter dele o anuncio formal de que Ele seria verdadeiramente o messias (Jo 10,24). Nosso Senhor responde de forma dura, afirmando que, “suas obras testificam” a sua missão e que eles não creem, pois, não fazem parte de suas ovelhas. Ao fim do seu discurso, Jesus afirma sua divindade dizendo que “Ele e o Pai são um”. É muito provável que as pessoas que ali estavam, tenham entendido a profundidade das palavras do Cristo, ao afirmar seu ser divino, tanto que, queriam apedrejá-lo por blasfêmia (Jo 10,33).

“A benção apostólica”
II Cor 13,13“A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós”.

O apóstolo Paulo ao finalizar a sua segunda carta aos cristãos de Corinto, usa uma fórmula trinitária para abençoar todos os crentes. Essa benção estendeu-se a toda a Igreja, fazendo dela, uma grande fonte da base argumentativa ao afirmar a doutrina da trindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo atuam em toda a comunidade com um poder único (I Pd 1,2).

CONCLUSÃO

I Jo 5,7 – “Porque três são os que testemunham”.

Não há uma meia verdade, há apenas uma. A Igreja Católica, a quem Deus confiou à fé universal (Mt 16,18 – Rm 1,8I Tm 3,15) na intenção de afirmar aquilo que é real, defendeu o mistério da trindade como verdade irrefutável.

Assim como a Tradição Apostólica, as Santas Escrituras dão o testemunho daquilo que cremos e daquilo que adoramos.

Paz e bem a todos!