sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

SÃO PEDRO, ROMA E OS TESTEMUNHOS PRIMITIVOS DA IGREJA



INTRODUÇÃO

A centralidade da fé católica está enraizada na pessoa do Cristo. Sendo ele Deus e Senhor, antes mesmo de findar seu ministério terreno, deixou as bases principais para que o evangelho fosse propagado de forma imaculada. Jesus era judeu, Jerusalém era a capital do rito cultual de todos os hebreus, porém, desde o início da Igreja, a fé tem sido guiada e tratada com certa particularidade a partir do mundo grego-romano, uma vez que, os novos convertidos eram os frutos gerados da pregação apostólica direcionada não apenas a israelitas, mas também, ao povo gentílico. 


São Mateus em seu evangelho, registra às importantes palavras de Jesus no que diz respeito a “nova nação” que assumiria a frente do Reino de Deus:  

Mt 21,43 – “Por isso vos afirmo que o Reino de Deus vos será tirado e confiado a um povo que o fará produzir seus frutos”.

Após a ascensão de Jesus, a Igreja se espalhou rapidamente por outras regiões e deixou de ser uma religião estritamente judaica para assim, tornar-se uma fé puramente universal. Essa universalidade foi se concretizando através de novas sedes que surgiam, onde, haviam novos sacerdotes e bispos. Santo Inácio de Antioquia (107 d.C) em sua epístola aos Efésios comenta sobre os “bispos que são nomeados em todo o mundo” (Ef 3,2) , assim como da importância do cristão de estar unido a ele (bispo) para celebrar a unidade de toda a Igreja (Ef 5,1-2).

É notável afirmar que grande parte da patrística dos primeiros séculos da Igreja, parece ter entendido que de todas as novas sedes que se instalavam nas províncias, uma gozava de particular reputação: Roma. Embora tivesse sido em Antioquia o local onde os crentes tenham ganhado pela primeira vez o nome de cristãos (At 11,26), foi na cidade romana que a nova crença ganha novos ares de poder. São Paulo em sua carta aos cristãos de Roma, exalta a fé que já era celebrada em todo o mundo (Rm 1,8).

Um dos motivos principais pela estruturação do forte mover da sede episcopal em Roma, deve-se ao fato do seu primeiro Bispo, São Pedro o apóstolo. O discípulo que teve seu nome alterado (Simão = Cefas = Pedro = Pedra Jo 1,42), recebeu do próprio Cristo o poder de “ligar e desligar” (Mt 16,19) e tinha como missão confirmar a fé dos seus irmãos (Lc 22,31-32), está intimamente ligado a antiga cidade chamada de babilônia, uma vez que, segundo forte tradição, teria Pedro ali, exercido seu episcopado e posteriormente tornado-se mártir ao ser crucificado de cabeça para baixo nos tempos do Imperador Nero. Ainda que boa parte do mundo protestante, tente afirmar o contrário quando o tema é referente ao ministério petrino e a sede romana, a história dos primeiros 6 (seis) séculos da Igreja demonstra grande segurança no que diz respeito a cátedra de Pedro.

O presente artigo não irá explorar linhas interpretativas ou análises de outros teólogos, entretanto, serão colocadas citações que procurarão esclarecer ao leitor a respeito da fé primitiva que repousa na Santa Igreja, coluna e sustentáculo da verdade (1 Tm 3,15). 


I SÉCULO (0 a 100 d.C)

Epístola de São Paulo aos Romanos (55-58 d.C):

Em primeiro lugar, dou graças ao meu Deus mediante Jesus Cristo, por todos vós, porque vossa fé é celebrada em todo o mundo” (Rm 1,8).


1ª Epístola de São Pedro (64 d.C):

Por Silvano, que considero irmão fiel, vos escrevi em poucas palavras, exortando-vos e testificando que esta é a verdadeira graça de Deus, na qual deveis permanecer firmes. A que está em Babilônia (Roma), eleita como vós, vos saúda, como também Marcos, meu filho” (1 Pe 5,12-13).


Evangelho segundo São Marcos (64 d.C):

Jesus saiu com os seus discípulos para as aldeias de Cesaréia de Filipe e pelo caminho perguntou-lhes: <Quem dizem os homens que eu sou?>. Responderam-lhes os discípulos: <João Batista; outros, Elias; outros, um dos profetas>. Então, perguntou-lhes Jesus: <E vós, quem dizeis que eu sou?> Respondeu Pedro: <Tu és o Cristo>” (Mc 8,27-29).


Evangelho segundo São Mateus (70 d.C):

Simão Pedro respondeu: <Tu és o Cristo, o filho de Deus vivo!> Jesus, então, lhe disse: <Feliz és Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: <tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; às portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei às chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus>”  (Mt 16,16-19).


Evangelho segundo São Lucas (80 d.C):

Num dia em que ele estava a oras a sós com os discípulos, perguntou-lhes: <Quem dizem que eu sou?> Responderam-lhes: <Uns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros pensam que ressuscitou algum dos antigos profetas>. Perguntou-lhes, então: <E vós, quem dizeis que eu sou?> Pedro respondeu: <O Cristo de Deus>”  (Lc 9,18-20).

Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneiras como o trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua confiança não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos” (Lc 22,31).


Atos dos Apóstolos, segundo São Lucas (70 ou 80 d.C):

Pedro, então, de pé, junto com os Onze, levantou a voz e assim lhes falou: <Homens da Judéia e todos voz, habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto e prestai ouvidos às minhas palavras>” (At 2,14).

Então Pedro, repleto do Espírito Santo, lhes disse: <Chefes do povo e anciãos! Uma vez que hoje somos interrogados judicialmente a respeito do benefício feito a um enfermo e de que maneira ele foi curado>” (At 4,8).

Mais e mais aderiam ao Senhor, pela fé, multidões de homens e de mulheres a ponto de levarem os doentes até para as ruas, colocando-os sobre leitos e em macas, para que, ao passar Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse algum deles” (At 5,14-15).

Tornado-se acesa a discussão, levantou-se Pedro e disse: <Irmãos, vós sabeis que, desde os primeiros, aprouve a Deus, entre vós, que por minha boca ouvissem os gentios a palavra da Boa Nova e abraçassem a fé” (At 15,7).


Evangelho segundo São João (95 d.C):

 “Levou-o a Jesus, e Jesus fixando nele o olhar, disse: <Tu és Simão filho de João; serás chamado Cefas (que quer dizer pedra)>” (Jo 1,40-42).

Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: <Simão, filho e João, amas-me mais do que estes?> Respondeu ele: <Sim, Senhor, tu sabes que te amo>”. Disse-lhe Jesus: <Apascenta os meus cordeiros>” (Jo 21,15).


Epístola aos Coríntios, segundo o Papa Clemente de Roma (aproximadamente: 81-96 ou 96-98 d.C)

OBS: Clemente, no exercício de sua autoridade, envia uma Carta à Igreja de Corinto na intenção de corrigi-los fraternalmente. 

Eu vos chamei, e não obedecestes; prolonguei meus discursos, e não prestastes atenção. Ao contrário, tornastes inúteis os meus conselhos e rejeitastes minhas admoestações. Por isso, eu também rirei da vossa ruína, e me alegrarei quando alastrar sobre vós o extermínio, quando caírem sobre vós à tempestade, quando vier à catástrofe semelhante ao furacão, e cair sobre vós à aflição e a angústia. Então me chamareis, mas eu não vos escutarei. Os maus me procurarão, porém não me encontrarão, porque eles odiaram a Sabedoria e não escolherem o temor do Senhor; não quiseram dar atenção aos meus conselhos, e desprezaram as minhas admoestações” (Aos Coríntios 57,4-5).

“Se alguns desobedecem ao que nós lhe dissemos da parte de Deus, saibam eles que estão incorrendo em falta e não poucos perigos” (Aos Coríntios 59,1).

“Vós nos dareis alegria e contentamento, se obedecerdes ao que escrevemos por meio do Espírito Santo, se acabardes com a cólera injusta da vossa inveja, segundo o pedido, que vos dirigimos nesta carta, tendo em vista a paz e a concórdia” (Aos Coríntios 63,2).


II SÉCULO (101 a 200 d.C) 


Epístola aos Romanos, segundo Santo Inácio de Antioquia (aproximadamente: 107 a 110 d.C):

Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja que recebeu a misericórdia, por meio da magnificência do Pai Altíssimo e de Jesus Cristo, seu Filho único; à Igreja amada e iluminada pela bondade daquele que quis todas as coisas que existem, segundo fé e amor por Jesus Cristo, nosso Deus; à Igreja que preside na região dos romanos, digna de Deus, digna de honra, digna de ser chamada feliz, digna de louvor, digna de sucesso, digna de pureza, que preside ao amor, que porta a lei de Cristo, que porta o nome do Pai; eu a saúdo em nome de Jesus Cristo, o Filho do Pai” (Aos Romanos, saudação). 


Contra as Heresias, segundo Santo Irineu de Lião (180 d.C):

Assim, Mateus publicou entre os judeus, na língua deles, o escrito dos Evangelhos, quando Pedro e Paulo evangelizavam em Roma e aí fundavam a Igreja. Depois da morte deles, também Marcos, o discípulo e intérprete de Pedro, nos transmitiu por escrito o que Pedro anunciava. Por sua parte, Lucas, o companheiro de Paulo, punha num livro o Evangelho pregado por ele. E depois, João, o discípulo do Senhor, aquele que recostara a cabeça ao peito dele, também publicou o seu Evangelho, quando morava em Éfeso, na Ásia” (Contra as Heresias [III livro] 1,1).

Mas visto que seria coisa bastante longa elencar, numa obra como esta, as sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à maior e mais antiga e conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo, e, indicando a sua tradição recebida dos apóstolos e a fé anunciada aos homens, que chegou até nós pelas sucessões dos bispos, refutaremos todos os que de alguma forma, quer por enfatuação ou vanglória, quer por cegueira ou por doutrina errada, se reúnem prescindindo de qualquer legitimidade. Com efeito, deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nela sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos” (Contra as Heresias [III livro] 3,2).

 Os bem-aventurados apóstolos que fundaram e edificaram a Igreja transmitiram o governo episcopal a Lino, o Lino que Paulo lembra na carta a Timóteo. Lino teve como sucessor Anacleto. Depois dele, em terceiro lugar, depois dos apóstolos, coube o episcopado a Clemente, que vira os próprios apóstolos e estivera em relação com eles, que ainda guardava viva em seus ouvidos a pregação deles e diante dos olhos a tradição. E não era o único, porque nos seus dias viviam ainda muitos que foram instruídos pelos apóstolos. No pontificado de Clemente surgiram divergências graves entre os irmãos de Corinto. Então a Igreja de Roma enviou aos coríntios uma carta (carta mencionada no campo “I Século”) importantíssima para reuni-los na paz, reavivar-lhes a fé e reconfirmar a tradição que há pouco tempo tinham recebido dos apóstolos, isto é, a fé num único Deus todo-poderoso, que fez o céu e a terra, plasmou o homem e provocou o dilúvio, chamou Abraão, fez sair o povo do Egito, conversou com Moisés, deu a economia da Lei, enviou os profetas, preparou o fogo para o diabo e os seus anjos. Todos os que o quiserem podem aprender desta carta que este Deus é anunciado pelas Igrejas como o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo e conhecer a tradição apostólica da Igreja, porque mais antiga do que os que agora pregam erradamente outro Deus superior ao Demiurgo e Criador de tudo o que existe” (Contra as Heresias [III livro] 3,3).

A este Clemente sucedeu Evaristo; a Evaristo, Alexandre; em seguida, sexto depois dos apóstolos foi Sisto; depois dele, Telésforo, que fechou a vida com gloriosíssimo martírio; em seguida Higino; depois Pio; depois dele, Aniceto. A Aniceto sucedeu Sóter e, presentemente, Eleutério, em décimo segundo lugar na sucessão apostólica, detém o pontificado. Com esta ordem e sucessão chegou até nós, na Igreja, a tradição apostólica e a pregação da verdade. Esta é a demonstração mais plena de que é uma e idêntica a fé vivificante que, fielmente, foi conservada e transmitida, na Igreja, desde os apóstolos até agora” (Contra as Heresias [III livro] 3,3).


III SÉCULO (201 a 300 d.C)


Tratado sobre os princípios, segundo Orígenes (220 a 230 d.C):

 Penso, com efeito, que a natureza humana tem limites definidos, mesmo quando se trata de Paulo, de quem está escrito: <Este é para mim um vaso de eleição (At 9,15)>, ou de Pedro, contra quem nada podem as portas do inferno” (Tratado sobre os princípios [Livro III] 2,5).



Homilias sobre o evangelho de São Lucas, segundo Orígenes (240 d.C):

<Todos vós sereis escandalizados nesta noite>. Por tanto, todos foram escandalizados, a tal ponto que o próprio Pedro, o chefe dos apóstolos, renegou Jesus três vezes” (Homilia 17, capítulo 6).


IV SÉCULO (301 a 400 d.C)

História Eclesiástica, segundo Eusébio de Cesaréia (303 a 324 d.C):

“Imediatamente depois, ainda no começo do império de Cláudio, a Providência universal, boníssima e cheia de amor aos homens, conduziu pela mão a Roma, qual adversário deste destruidor da vida, o valoroso e grande apóstolo Pedro, o primeiro dentre todos pela virtude. Autêntico general de Deus, munido de armas divinas (Ef 6,14-17; 1Ts 5,8), trazia do Oriente ao Ocidente a preciosa mercadoria da luz inteligível, e anunciava, como a própria luz (cf. Jo 1,9) e palavra de salvação para as almas, a boa nova do reino dos céus”  (HE [Livro II] 14,6).

“Diz-se que o apóstolo conheceu o fato por uma revelação do Espírito. Alegrou-se com o desejo deles e aprovou o livro por meio de leitura nas assembleias. Clemente, no sexto livro das Hypotyposes conta essa história e a confirma com seu testemunho o bispo de Hierápolis, chamado Papias. Pedro menciona Marcos na sua primeira carta que, diz-se, ele mesmo compôs em Roma, assinalando-a com o nome simbólico de Babilônia, no seguinte trecho: “A que está em Babilônia, eleita como vós, vos saúda, como também Marcos, o meu filho” (1Pd 5,13).”  (HE [Livro II] 15,2).

“Foi também ele, o primeiro de todos os figadais inimigos de Deus, que teve a presunção de matar os apóstolos. Com efeito, conta-se que sob seu reinado Paulo foi decapitado em Roma. E ali igualmente Pedro foi crucificado (cf. Jo 21,18-19; 2Pd 1,14). Confirmam tal asserção os nomes de Pedro e de Paulo, até hoje atribuídos aos cemitérios da cidade” (HE [Livro II] 25,5).

“Pedro, contudo, parece ter pregado aos judeus da Diáspora, no Ponto, na Galácia, na Bitínia, na Capadócia e na Ásia (cf. 1Pd 1,1), e finalmente foi para Roma, onde foi crucificado de cabeça para baixo, conforme ele mesmo desejara sofrer” (HE [Livro III] 1,2).

“Depois do martírio de Pedro e Paulo, o primeiro a obter o episcopado na Igreja de Roma foi Lino. Paulo, ao escrever de Roma a Timóteo, cita-o na saudação final da carta (2Tm 4,21)” (HE [Livro III] 2,1).

“E em primeiro lugar as pertencentes aos santos evangelhos. São as seguintes: <Mateus, no entanto, publicou entre os hebreus e em sua própria língua um Evangelho escrito, enquanto Pedro e Paulo anunciavam a boa nova em Roma e lançavam os fundamentos da Igreja. Mas, após a morte deles, Marcos, discípulo e intérprete de Pedro, transmitiu-nos por escrito igualmente o que Pedro pregara>” (HE [Livro V] 8,2-3).

“Tais os fatos. Quanto a Adamâncio (pois Orígenes usava também este apelativo), na época em que Zeferino guiava a Igreja de Roma, esteve em Roma, conforme ele próprio escreveu numa passagem: <Tivera desejos de ver a muito antiga Igreja de Roma>. 95 Após rápida permanência, dali voltou a Alexandria,” (HE [Livro VI] 14,10).

“No quinto livro dos Comentários ao Evangelho segundo João, o mesmo Orígenes declara o seguinte acerca das Epístolas dos apóstolos: “Paulo, digno ministro do Novo Testamento, não segundo a letra, mas segundo o espírito, depois de ter anunciado o evangelho desde Jerusalém e suas cercanias até o Ilírico (Rm 15,19), não escreveu a todas as Igrejas que ele havia instruído; mesmo àquelas a que escreveu, enviou apenas poucas linhas. Pedro, sobre quem está edificada a Igreja de Cristo, contra a qual não prevalecerão as portas do inferno (Mt 16,18), deixou apenas uma carta incontestada, e talvez ainda outra, porém controvertida. (HE [Livro VI] 25,7-8).


Explicação dos Símbolos, segundo Santo Ambrósio de Milão (387 a 393 d.C):

Tu me dirás: Em seguida surgiram as heresias. De fato, também o Apóstolo diz: <É necessário que haja heresias, para que os bons sejam provados> (1Cor 11,19). O que dizer, portanto? Vede a simplicidade, vede a pureza. Quando surgiram os patripassianos, também os católicos desta região julgaram que se devia acrescentar invisível e impassível, como se o Filho de Deus fosse visível e passível. Se ele foi visível na carne, essa carne é que foi visível, não a divindade, a carne é que foi passível, não a divindade. Além disso, escuta o que ele diz: <Deus, meu Deus, olha para mim; por que me abandonaste?> (Sl 21,2; cf. Mt 27,46). Nosso Senhor Jesus Cristo disse isso na paixão. Disse isso enquanto homem, enquanto carne, como se a carne dissesse à divindade: <Por que me abandonaste?> Suponhamos que os nossos anciãos tenham sido médicos, que eles quiseram trazer saúde à doença mediante o remédio. Não se pergunta se o remédio não foi necessário naquele tempo em que as almas de certos hereges estavam com doença grave; se naquele tempo foi necessário, agora não o é. Por qual razão? Tendo sido conservada íntegra a fé contra os sabelianos, os sabelianos foram expulsos, principalmente das regiões do Ocidente. Os arianos encontraram para si nesse remédio uma espécie de calúnia, de modo que, enquanto conservamos o símbolo da Igreja Romana, eles consideraram o Pai todo-poderoso invisível e impassível” (Explicação dos Símbolos, 4).

Se nada pode ser tirado ou acrescentado aos escritos de um só apóstolo, como poderíamos mutilar o símbolo que recebemos como tendo sido composto e transmitido pelos apóstolos? Nada devemos tirar e nada acrescentar. Este é o símbolo conservado pela Igreja Romana, onde Pedro, o primeiro dos apóstolos, sentou-se e onde lhe conferiu a sentença comum” (Explicação dos Símbolos, 7).


Sobre os Sacramentos, segundo Santo Ambrósio de Milão (387 a 393 d.C):

Nós não ignoramos que a Igreja Romana não tem esse costume, da qual seguimos em tudo o exemplo e forma. Contudo, ela não tem esse costume de lavar os pés. Considera, porém, que ela deixou de lado por causa do grande número. Há também aqueles que dizem, tentando desculpá-la, que isso não se deve fazer no mistério, não no batismo, não na regeneração, mas que se deve lavar os pés como se fossem de hóspede. Contudo, uma coisa é a humildade, outra a santificação. No entanto, escuta: é mistério e também santificação: “Se eu não lavar os teus pés, não terás parte comigo” (Jo 13,8). Não digo isso, porém, para repreender outros, mas para que eu exerça as minhas funções. Desejo seguir em tudo a Igreja romana, mas nós também temos razão humana. O que, em outro lugar, se observa de maneira mais correta, nós também guardamos de maneira mais correta. Seguimos o próprio apóstolo Pedro e estamos apegados ao seu próprio fervor. O que a Igreja Romana responde a isso? Sim, o próprio apóstolo Pedro é, para nós, autor dessa afirmação, ele que foi sacerdote da Igreja Romana. É o próprio Pedro que diz: “Senhor, não só os pés, mas também as mãos e a cabeça” (Jo 13,9). Vê a fé. O que ele recusou antes foi por causa da humildade; depois, quando ofereceu a si mesmo, foi por causa do fervor e da fé” (Sobre os Sacramentos [Livro III] 1,5-6).


Sobre a Penitência, segundo Santo Ambrósio de Milão (387 a 393 d.C):

É certamente isto que eles confessam a seu próprio respeito — e com razão; de fato, não podem ter a herança de Pedro aqueles que não têm a cátedra de Pedro, a qual despedaçam com uma ímpia divisão. Contudo, é sem razão que negam também que na Igreja os pecados possam ser perdoados. Com efeito, foi dito a Pedro: “A ti eu darei as chaves do Reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será também desligado nos céus” (Mt 16,19), e o próprio “vaso de eleição” (cf. At 9,15) do Senhor diz: “Se perdoais algo a alguém, também eu perdoo; pois também eu, o que perdoei, foi em vosso favor, na pessoa de Cristo” (2Cor 2,10). Por que então eles leem Paulo, se pensam que ele errou com tal impiedade, que chegou a reivindicar para si um direito do seu Senhor? Mas ele reivindicou o que recebera; não usurpou o indevido” (Sobre a Penitência [I livro] 7,34).

Finalmente diz Pedro a Simão, que, pervertido pelo exercício da magia, julgava poder comprar com dinheiro a graça de Cristo pela imposição da mão e a infusão do Espírito Santo: <Não tens parte nem sorte nesta fé, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Assim sendo, faze penitência por esta tua perversão e roga a Deus para que te seja talvez perdoada esta lembrança do teu coração: pois eu vejo que tu estás nos laços da iniquidade e na amargura do fel” (At 8,21-23). Tu vês que a este, que blasfemou contra o Espírito Santo> pela vaidade da magia, Pedro condena pela autoridade apostólica, — ainda mais que não tinha a consciência pura a para fé. E no entanto não lhe cortou a esperança do perdão, pois que o convidou à penitência” (Sobre a Penitência [II livro] 4,23).

Portanto, se Pedro usou as mesmas palavras que Deus usou sem prejuízo do próprio saber, por que não admitimos também que Pedro tenha empregado esta expressão sem prejuízo de sua fé? E Pedro, realmente, não poderia ter dúvidas a respeito do dom de Cristo, que lhe concedera o poder de perdoar pecados (cf. Mt 16,19), sobretudo porque não devia dar espaço às astúcias dos hereges, que na verdade querem destruir a esperança dos homens para introduzirem com maior facilidade entre os desesperançados a persuasão de repetir o batismo” (Sobre a Penitência [II livro] 5,34).


Confissões, segundo Santo Agostinho (
397 a 400 d.C):

Vamos a Igreja, quero tornar-me cristão. Este, não cabendo em si de alegria, o acompanhou imediatamente. Foi aí iniciado nos primeiros mistérios da catequese e, pouco tempo depois, deu o nome para regenerar-se no batismo, para admiração de Roma e alegria de toda Igreja" (VIII livro; 2,5).



V SÉCULO (401 a 500 d.C)



Apologia contra os livros de Rufino, segundo São Jerônimo (402 d.C):

Ele não pode, agora que é meu inimigo, tratar-me como herege, eu sobre quem ele disse recentemente em seu prefácio que não estava em desacordo com a sua fé. Ao mesmo tempo, aproveito para lhe fazer também esta pergunta: Que quer dizer esta linguagem moderada e dúbia? <O leitor latino, diz ele, nada encontrará aqui que esteja em desacordo com nossa fé.> O que ele chama <sua> fé? Aquela pela qual a Igreja romana exerce seu poder ou aquela que está contida nos volumes de Orígenes? Se ele responde: a fé romana, então nós somos católicos, nós que nada traduzimos do erro de Orígenes. Mas se sua fé são blasfêmias de Orígenes, ele demonstra que é herege, lançando-me sua acusação de inconstância. Ou a fé daquele que me louva é sã e, por sua própria confissão, ele me associa a si, ou então é errônea, e ele mostra que, se fez meu elogio, é porque acreditava que eu fosse participante de seu erro” (Apologia contra Rufino, [I Livro] 4).

Nunca meu trabalho suscitou algum problema, nunca Roma foi abalada por ele” (Apologia contra Rufino, [I Livro] 8).

Porque não ambicionamos o sacerdócio, nós que estamos escondidos em nossas celas; e não temos pressa, reprovando a humildade, de comprar a preço de ouro o episcopado. Também não temos, em um espírito de revolta, o desejo de degolar o pontífice escolhido por Deus, nem damos a entender que somos hereges, mostrando-nos favoráveis aos hereges” (Apologia contra Rufino, [I Livro] 32).

Sabe, porém, que a fé romana, louvada pela voz do Apóstolo, não admite artifícios desta natureza, e que, mesmo se um anjo anunciasse diferentemente do que foi pregado uma vez por todas, a fé sustentada pela autoridade de Paulo não poderia mudar” (Apologia contra Rufino, [III Livro] 12).

Da comunhão que nos unia, a mim e ao nosso papa Teófilo, eu não invocarei nenhum outro testemunho” (Apologia contra Rufino, [III Livro] 18).

Na epístola de nosso santo papa Anastásio, tu te mostraste inconstante; e na tua agitação, tu não encontras nada em que possas fincar o pé.” (Apologia contra Rufino, [III Livro] 20).


Aliás, que a epístola tenha sido escrita por ele ou que ela não tenha sido, tu atestas que não te cabe em nada, porque tens o testemunho de seu predecessor e que, por amor de tua cidadezinha fortificada, tu desprezaste o pedido de Roma de que tu a honrasses pelo brilho de tua presença. Se tu suspeitas que esta carta tenha sido forjada por mim, por que não a procuras no arquivo da Igreja Romana” (Apologia contra Rufino, [III Livro] 20).


Cartas, segundo o Papa Leão Magno (
430 a 461 d.C):

“Por causa de Pedro, o bem-aventurado príncipe dos apóstolos, a santa Igreja romana possui a primazia (princi-patus) sobre todas as Igrejas do mundo inteiro” (Carta 65,2).


Sermão sobre a transfiguração do Senhor, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):

“O apóstolo Pedro, por revelação do Pai supremo, supera o corpóreo e vai além do humano. Vê com os olhos do espírito o Filho de Deus vivo, confessa a glória da divindade, porque não se detém na substância da carne e do sangue. A sublimidade desta fé agradou tanto ao Senhor que ele o chamou feliz e bem-aventurado e outorgou-lhe a sagrada firmeza da pedra inconcussa, sobre a qual seria fundada a Igreja e contra a qual não prevaleceriam as portas do inferno, nem as leis da morte. Além disso, para ligar ou desligar qualquer causa, não seria ratificado nos céus senão o que sentenciasse Pedro.” (sermão transf. Do Senhor, 1).


Sermão na ascensão do Senhor, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):

“Neles, pelo sopro do Senhor, infundiu-se o Espírito Santo nos apóstolos todos; ao bem-aventurado apóstolo Pedro, com primazia, foi entregue após as chaves do reino, o cuidado das ovelhas do Senhor” (I sermão na ascensão do Senhor, 2).


Sermão sobre a quaresma, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):

“Jejuemos pois, na segunda, na quarta e na sexta-feira; no sábado, porém celebramos as vigílias junto do apóstolo Pedro, que não descuidando do rebanho que lhe foi confiado, conseguirá para nós a proteção de suas preces.” (IV sermão sobre a quaresma, 6).


Sermão de pentecostes, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):

“Jejuemos, pois, quarta e sexta-feira e no sábado celebremos as vigílias junto do bem-aventurado apóstolo Pedro. Que ele patrocine nossas orações a fim de merecermos em tudo a misericórdia de Deus” (II sermão de pentecostes, 9).


Tratado contra a heresia de Êutiques, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):



“Vós, pois, amados de Deus e comprovados pelo testemunho apostólico, vós, aos quais o bem aventurado apóstolo Paulo, doutor dos gentios, diz: “Porque a vossa fé é anunciada em todo o mundo”, guardai em vós o que sabeis que tão grande pregador pensava de vós” (tratado contra a heresia de Êutiques, 3).


VI SÉCULO (501 a 600 d.C)


Regra pastoral, segundo o Papa Gregório Magno ( 591 d.C):

“Compreenderemos mais plenamente em que consiste esse discernimento se considerarmos o exemplo do primeiro pastor. Pela iniciativa de Deus, Pedro ocupava o primeiro lugar na Igreja. Ora, como Cornélio, homem justo, se prostrasse humildemente diante dele, Pedro rejeitou esse excessivo sinal de respeito e, reconhecendo-se semelhante a ele, disse: Levanta-te, não o faças, sou um homem também eu. Quando, porém, descobriu o pecado de Ananias e Safira, imediatamente manifestou de modo claro com qual poder tinha sido posto à frente dos demais. Com uma só palavra, tirou-lhes a vida, vida que ele havia escrutado pelo Espírito, e se recordou, então, de haver a mais alta autoridade na Igreja contra os pecados, coisa que não havia reconhecido quando, vivamente, seus irmãos lhe tributavam honra na presença dos justos” (Regra pastoral [segunda parte – a vida do pastor]; capitulo 6).

“É de fato compreensível, como já dissemos, que os fiéis se desencorajem de ouvir a pregação se o pastor se descuida de dar ajuda nas concretas necessidades. Por isso, o primeiro pastor (Pedro) admoesta com solicitude, dizendo: <Exorto os presbíteros que estão entre vós, eu que sou presbítero como eles, testemunha dos sofrimentos de Cristo e participante da glória que vai ser revelada: apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado> (1 Pd 5,1-2). Recomendava, nessa passagem, dar alimento para o coração ou aquele para o corpo? Ele esclareceu, acrescentando: Provendo às necessidades não por imposição, mas de livre e espontânea vontade, como Deus o quer; não por causa de lucro sujo, mas com generosidade” (Regra pastoral [segunda parte – que o pastor não deixe, nas suas ocupações exteriores, enfraquecer seu cuidado com a vida interior]; capitulo 7).

“Não existe ninguém que viva de modo que não caia em alguma culpa. Deseja, por conseguinte, ser amado mais do que a verdade aquele que pretende, contra toda a evidência, que ninguém lhe deva perdoar alguma coisa. Por isso, Pedro acolheu de boa vontade a repreensão de Paulo, e Davi ouviu com humildade a correção de um súdito. Assim, os verdadeiros pastores não cultivam sentimentos de amor-próprio e consideram humilde gentileza uma palavra livre e clara por parte dos fiéis” (Regra pastoral [segunda parte – que o pastor não se proponha a agradar aos homens com seu zelo]; capitulo 8).

“Levantem sem demora a arca do testamento e ensinem com prontidão quando se apresenta a necessidade. Por isso, diz bem o primeiro pastor (Pedro) da Igreja exortando os outros pastores: <Sempre prontos a responder a todo aquele que vos pedirá a razão da esperança que está em vós> (1 Pd 3,15)” (Regra pastoral [segunda parte – quando o pastor de almas deve se aplicar a meditar a lei divina]; capitulo 11).

“Por isso, Pedro, vendo que alguns estavam aterrorizados pelo espetáculo das suas ações iníquas, lhes dá este aviso: <Arrependei-vos e cada um de vós se faça batizar> (At 2,38). Antes de falar do batismo, ele falou das lágrimas de arrependimento, para que antes se imergissem na água da própria aflição e, em seguida, se lavassem pelo sacramento do batismo. Por conseguinte, aqueles que não se preocupam de chorar os pecados cometidos, com que ânimo vivem seguros de obter o perdão, se o mesmo sumo pastor da Igreja (Pedro) considerou que se devesse acrescentar a penitência ao sacramento instituído, sobretudo com a finalidade de extinguir os pecados?” (Regra pastoral [terceira parte – É preciso admoestar de modo diferente aqueles que choram os próprios pecados]; capitulo 30).


CONCLUSÃO

A fé da Igreja é inegável, sagrada, santa e verdadeira.

A crença de que São Pedro foi o primeiro líder da Santa Igreja e de que seus sucessores possuem missão continua e inacabada na Igreja de Deus, perdura desde os primeiros tempos apostólicos.

É interessante afirmar que grande parte dos textos posteriores às escrituras, demonstram total coerência com os versos bíblicos que atestam o ministério petrino, sendo assim, crer na missão encabeçada por São Pedro é um ato totalmente bíblico e histórico.

Tornado-se acesa a discussão, levantou-se Pedro e disse: <Irmãos, vós sabeis que, desde os primeiros, aprouve a Deus, entre vós, que por minha boca ouvissem os gentios a palavra da Boa Nova e abraçassem a fé (At 15,7).

OBS: Esse texto sofrerá modificações à medida que, novas citações sejam encontradas. 






segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A VIRGEM MARIA E OS TESTEMUNHOS PRIMITIVOS DA IGREJA



INTRODUÇÃO

Ainda que frequentemente, católicos e ortodoxos sejam atacados por outros segmentos “cristãos” no que se refere à devoção mariana taxando-nos de “idólatras”, poucos sabem que o culto a Mãe de Deus não é fenômeno atual e tão pouco, iniciou com a liberdade religiosa concedida pelo imperador Constantino no ano 313 através do Edito de Milão. A veneração a virgem Maria é produto sagrado da fé cristã, conteúdo básico para todo aquele que declara que Jesus Cristo é seu único e suficiente salvador. 

Entretanto, a grande questão sempre girará em torno do que Maria Santíssima representa para a fé católica. Ao analisar o conteúdo bíblico que está ligado diretamente a uma mariologia pura e verdadeira, encontramos uma simbologia grandiosa entre a mãe do Senhor e a Arca da Aliança, objeto esse de grande veneração do povo judeu. Para um hebreu, a “arca da aliança” tinha uma representatividade tão grande perante a fé que, havia até mesmo a crença de que o objeto (que possuía imagens) poderia salvá-los das mãos de seus inimigos (1 Sm 4,3). A peculiaridade de tal artefato tem ligação clara com o novo sacrário cristão (Maria) pelos seguintes aspectos:

1 – A arca continha à vara de Arão (Nm 17,25; Hb 9,4 = símbolo do sacerdócio), um pedaço do maná (Ex 16,33; Hb 9,4 = pão que vinha dos céus para alimento dos judeus) e as tábuas da lei (Ex 25,16; Hb 9,4 = símbolo da antiga aliança);

2 – Maria, sendo a representação da “nova arca”, carregou dentro seu sagrado ventre o Cristo que era o próprio sumo sacerdote (Hb 4,14), o verdadeiro maná, o pão vivo que desceu dos céus para o nosso alimento (Jo 6,51-55) e por fim, a nova aliança (Hb 12,24).

Tal ligação, levou muitos padres dos primeiros séculos, a considerar a plena participação da virgem na obra salvadora do seu filho e que por consequência, Maria Ss mereceria ser digna de veneração por parte de todo o povo cristão. 

Biblicamente, encontramos nos registro lucanos, profundo entrelace do que seria aprofundado na Igreja com tão bela devoção. A primeira criatura a venerar Maria, foi o próprio anjo do Senhor ao dizer: “Ave cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1,28).

A Igreja Católica, fiel às palavras dos escritores bíblicos, segue piamente os primeiros teólogos que enxergaram na virgem, a filha de Sião: 

Exulta muito, filha de Sião! Grita de alegria, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti: ele é justo e vitorioso, humilde, montado sobre um jumento (...)” (Zc 9,9).


Dessa forma, podemos entender o porquê a grande maioria dos escritores primitivos, tinham pela Mãe de Deus tão grande estima e devoção. Sendo assim, através das citações aqui apresentadas, percorra conosco esse grande caminho mariano e aprenda com a bíblia e com a patrística a fé milenar da Igreja!


I SÉCULO (0 a 100 d.C)

Epístola de São Paulo aos Gálatas (55-60 d.C):

 “Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma Lei” (Gl 4,4).


Evangelho segundo São Marcos (64 d.C):

Não é ele o carpinteiro, filho de Maria (...)” (Mc 6,3a). 


Evangelho segundo São Mateus (70 d.C):

Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus que é chamado Cristo” (Mt 1,16). 

Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: <José, filho de Davi, não temas receber Maria por sua esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz a um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados>. Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta: Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel (Is 7,14), que significa: Deus conosco. Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa. E, sem que ele a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho, que recebeu o nome de Jesus” (Mt 1,20-25).


Evangelho segundo São Lucas (80 d.C):

No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria. Entretanto, o anjo disse-lhe: <Ave, Cheia de graça, o Senhor é contigo>. Perturbou-se ela com essas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. O anjo disse-lhe: <Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado filho do altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim>. Maria perguntou ao anjo: <Como se fará isso, pois não conheço homem?> Respondeu-lhe o anjo: <O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquele que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível>. Então disse Maria: <Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra>. E o anjo afastou-se dela” (Lc 1,26-38).

“Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: <Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio. Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas>” (Lc 1,39-45).

“E Maria disse: <Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem. Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre>. Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa” (Lc 1,46-56).


Atos dos Apóstolos, segundo São Lucas (70 ou 80 d.C): 

Todos eles perseveravam unanimemente na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele” (At 1,14).


Evangelho segundo São João (95 d.C):

 “Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galiléia, e achava-se ali a mãe de Jesus. Também foram convidados Jesus e os seus discípulos. Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: Eles já não têm vinho. Respondeu-lhe Jesus: Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou. Disse, então, sua mãe aos serventes: Fazei o que ele vos disser. Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos judeus, que continham cada qual duas ou três medidas. Jesus ordena-lhes: Enchei as talhas de água. Eles encheram-nas até em cima. Tirai agora, disse-lhes Jesus, e levai ao chefe dos serventes. E levaram. Logo que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho, não sabendo de onde era (se bem que o soubessem os serventes, pois tinham tirado a água), chamou o noivo e disse-lhe: É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galiléia. Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele” (Jo 2,1-11).

Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: <Mulher, eis aí teu filho>. Depois disse ao discípulo: <Eis ai tua mãe>. E dessa hora em diante o discípulo a recebeu como sua” (Jo 6,54-57).


Apocalipse, segundo São João (70 ou 95 a 100 d.C):

 “Abriu-se o Templo de Deus no céu e apareceu, no seu templo, a arca do seu testamento. Houve relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e forte saraiva. Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 11,14 e 12,1).


II SÉCULO (101 a 200 d.C)


Epístola aos Efésios, segundo Santo Inácio de Antioquia (aproximadamente: 107 a 110 d.C):

Existe apenas um médico, carnal e espiritual, gerado e não gerado, Deus feito carne, Filho de Maria e Filho de Deus” (Aos Efésios 7,2). 

De fato, o nosso Deus Jesus Cristo, segundo a economia de Deus, foi levado no seio de Maria, da descendência de Davi e do Espírito Santo. Ele nasceu e foi batizado, para purificar a água na sua paixão” (Aos Efésios 18,2). 

“Ao príncipe deste mundo ficou escondida a virgindade de Maria, seu parto, e igualmente a morte do Senhor. Três mistérios retumbantes, que foram realizados no silêncio de Deus. Como, então, foram manifestados ao mundo? Um astro brilhou no céu mais que todos os astros, sua luz era indizível e sua novidade causou admiração. Todos os astros, juntamente com o sol e a lua, formaram coro em torno do astro, e ele projetou sua luz mais do que todos. Houve admiração. Donde vinha a novidade tão estranha a eles? Então, toda magia foi destruída, e todo laço de maldade abolido, toda ignorância dissipada e todo reino foi arruinado, quando Deus apareceu em forma de homem, para uma novidade de vida eterna. Aquilo que havia sido decidido por Deus começava a se realizar. Tudo ficou perturbado no momento em que se preparava a destruição da morte” (Aos Efésios 19,1-3).


Apologia segundo os fragmentos gregos, por Aristides de Atenas (117 a 138 d.C):

“Os cristãos, porém, descendem do Senhor Jesus Cristo e este é confessado como Filho do Deus Altíssimo no Espírito Santo, descido do céu para a salvação dos homens. Gerado de uma virgem santa, sem germe nem corrupção, encarnou-se e apareceu aos homens, para afastá-los do erro do politeísmo” (Apologia s.f. gregos 15,1).


I Apologia, segundo Justino de Roma (155 d.C):

Nós anunciamos que Ele nasceu de uma virgem (...)” (I Apologia 22,5).

Nos livros dos profetas já encontramos anunciado que Jesus, nosso Cristo, deveria vir nascido de uma virgem” (I Apologia 31,7).

De fato, ele foi concebido com a força de Deus, por uma virgem descendente de Jacó, que foi pai de Judá, antepassado dos judeus, de quem eu já falei; segundo o oráculo, Isaí foi o seu avô e Cristo, segundo a sucessão das gerações, é filho de Jacó e de Judá” (I Apologia 32,13).

Escutai agora como foi literalmente profetizado por Isaías que Cristo seria concebido por uma virgem. Ele diz o seguinte: <Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe porão o nome ‘Deus conosco’>. O que os homens poderiam considerar incrível e impossível de acontecer, Deus o indicou antecipadamente por meio do Espírito profético, para que quando acontecesse, não lhe fosse negada a fé, e sim, justamente por ter sido predito, fosse acreditado. Esclareçamos agora as palavras da profecia para que, por não entendê-la, objetem o mesmo que nós dizemos contra os poetas, quando nos falam de Zeus que, para satisfazer sua paixão libidinosa, uniu-se com diversas mulheres. Portanto, ‘Eis que uma virgem conceberá’ significa que a concepção seria sem relação carnal, pois, se esta houvesse, ela não mais seria virgem; mas foi a força de Deus que veio sobre a virgem e a cobriu com a sua sombra e fez com que ela concebesse permanecendo virgem. Foi assim que naquele tempo, o mensageiro, enviado da parte de Deus à mesma virgem, deu-lhe a boa notícia, dizendo: <Eis que conceberás do Espírito Santo em teu ventre e darás à luz um filho, que se chamará Filho do Altíssimo, e lhe porás o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo de seus pecados>. Assim nos ensinaram os que consignaram todas as lembranças referentes ao nosso Salvador Jesus Cristo, e nós lhes demos fé, pois o Espírito Santo profético, como já indicamos, disse pelo citado Isaías que o geraria. Portanto, por Espírito e força que procede de Deus não é lícito entender a não ser o Verbo, que é o primogênito de Deus, como Moisés, profeta antes mencionado, o deu a entender. Vindo ele sobre a virgem e cobrindo-a com sua sombra, não por meio de relação carnal, mas por sua força, fez com que ela concebesse. Quanto a Jesus, é nome da língua hebraica, que significa em grego Sotér, isto é, Salvador. Daí que o mensageiro disse à virgem: <Tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo de seus pecados>. Que aqueles que profetizam não são inspirados por nenhum outro, mas pelo Verbo divino, suponho que mesmo vós o admitis” (I Apologia 33,1-9).


Diálogo com Trifão, segundo Justino de Roma (aproximadamente +150 d.C): 

Como ninguém dissesse nada, continuei: — Por isso, ó Trifão, para ti e para todos aqueles que querem tornar-se prosélitos vossos, anunciarei uma palavra divina, que ouvi daquele homem: Não vedes que os elementos nunca descansam, nem guardam o sábado; permanecei como nascestes. Se antes de Abraão não havia necessidade de circuncisão e antes de Moisés não havia necessidade do sábado, das festas ou dos sacrifícios, também agora ela não existe, depois de Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido sem pecado de Maria Virgem, que da descendência de Abraão” (Diálogo com Trifão 23,3-5).

Este é aquele que existia antes do luzeiro da manhã e da lua. Todavia, ele se dignou nascer feito homem daquela virgem da descendência de Davi, para, por meio desta sua economia, destruir a serpente perversa desde o princípio, assim como os anjos a ela semelhantes e fazer-nos desprezar a morte” (Diálogo com Trifão 45,4).

Pois bem. Se sabemos que esse Deus se manifestou em várias formas a Abraão, Jacó e Moisés, como duvidamos e não cremos que ele poderia, conforme o desígnio do Pai do universo, nascer homem da virgem, tendo tantas Escrituras pelas quais literalmente é fácil entender que assim de fato aconteceu, conforme o desígnio do Pai?” (Diálogo com Trifão 75,4).

Com efeito, todo demônio se submete e é vencido, e é esconjurado no nome desse mesmo Filho de Deus e primogênito de toda a criação, que nasceu da virgem” (Diálogo com Trifão 85,2).

Por outro lado, confessamos que ele nasceu da virgem como homem, a fim de que pelo mesmo caminho que iniciou a desobediência da serpente, por esse também ela fosse destruída. De fato, quando ainda era virgem e incorrupta, Eva, tendo concebido a palavra que a serpente lhe disse, deu à luz a desobediência e a morte. A virgem Maria, porém, concebeu fé e alegria, quando o anjo Gabriel lhe deu a boa notícia de que o Espírito do Senhor viria sobre ela e a força do Altíssimo a cobriria com sua sombra, através do que o santo que dela nasceu seria o Filho de Deus. A isso, ela respondeu: “Faça-se em mim segundo a palavra” E da virgem nasceu Jesus, ao qual demonstramos que tantas Escrituras se referem, pelo qual Deus destrói a serpente e os anjos e homens que a ela se assemelham, e livra da morte aqueles que se arrependem de suas más ações e nele creem” (Diálogo com Trifão 100,4-6).

Embora tenha vindo para nascer da virgem Maria como homem, ele é eterno” (Diálogo com Trifão 113,14).

Vede como as mesmas coisas são prometidas a Isaac e Jacó. Com efeito, diz o seguinte para Isaac: <Em tua descendência serão abençoadas as nações da terra>. E para Jacó: <Em ti e em tua descendência serão abençoadas todas as tribos da terra>. Isso ele não diz a Esaú, Rubem ou a nenhum outro, mas somente para aqueles dos quais, por dispensação através de Maria virgem, haveria de nascer o Cristo” (Diálogo com Trifão 120,1).

Portanto, nem Abraão, nem Isaac, nem Jacó, nem qualquer outro homem jamais viu aquele que é Pai inefável e Senhor absoluto de todas as coisas e também do próprio Cristo, mas viu seu Filho, que também é Deus por vontade daquele, e Anjo por estar a serviço de seus desígnios, aquele mesmo que o Pai quis que nascesse homem por meio da virgem” (Diálogo com Trifão 127,4).


Contra as Heresias, segundo Santo Irineu de Lião (180 d.C):

Com efeito, a Igreja espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra recebeu dos apóstolos e seus discípulos a fé em um só Deus, Pai onipotente, que fez o céu e a terra, o mar e tudo quanto nele existe; em um só Jesus Cristo, Filho de Deus, encarnado para nossa salvação; e no Espírito Santo que, pelos profetas, anunciou a economia de Deus; e a vinda, o nascimento pela Virgem” (Contra as Heresias [I livro] 10,1).

Cerinto [herege], asiático, ensina que o mundo não foi feito pelo primeiro Deus, mas por uma Potência distinta e bem afastada da Potência que está acima de todas as coisas, que não conhecia o Deus que está acima de tudo. Jesus, segundo Cerinto, não nasceu da Virgem, porque isto lhe parecia impossível” (Contra as Heresias [I livro] 26,1).

 Jesus Cristo, Filho de Deus, o qual, pela sua imensa caridade para com os homens, a obra por ele modelada, submeteu-se à concepção da Virgem para unir por seu meio o homem a Deus” (Contra as Heresias [III livro] 4,2).

Era, ao mesmo tempo homem para poder ser tentado e Verbo para poder ser glorificado. A atividade do Verbo estava suspensa para que pudesse ser tentado, ultrajado, crucificado e morto; e o homem era absorvido quando o Verbo vencia, suportava o sofrimento, ressuscitava e era levado ao céu. É, portanto, o Filho de Deus nosso Senhor, Verbo do Pai e ao mesmo tempo Filho do homem, que de Maria, nascida de criaturas humanas e ela própria criatura humana, teve nascimento humano, tornando-se Filho do homem. Por isso, o próprio Senhor nos deu um sinal que se estende da mais profunda mansão dos mortos ao mais alto dos céus, sinal não pedido pelo homem, porque sequer poderia pensar que uma virgem, permanecendo virgem, pudesse conceber e dar à luz um filho, nem que este filho fosse o Deus conosco” (Contra as Heresias [III livro] 19,3).

Foi, portanto, Deus que se fez homem, o próprio Senhor que nos salvou, ele próprio que nos deu o sinal da Virgem” (Contra as Heresias [III livro] 21,1).

Único e idêntico é, pois, o Espírito de Deus que nos profetas anunciou as características da vinda do Senhor e que nos anciãos traduziu bem as coisas profetizadas. Foi ainda ele que, pelos apóstolos, anunciou ter chegado à plenitude dos tempos da adoção filial, que o Reino dos céus estava próximo e que se encontrava dentro dos homens que criam no Emanuel nascido da Virgem” (Contra as Heresias [III livro] 21,4).

Da mesma forma, encontramos Maria, a Virgem obediente, que diz: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”, e, em contraste, Eva, que desobedeceu quando ainda era virgem. Como esta, ainda virgem se bem que casada — no paraíso estavam nus e não se envergonhavam, porque, criados há pouco tempo ainda não pensavam em gerar filhos, sendo necessário que, primeiro, se tornassem adultos antes de se multiplicar —, pela sua desobediência se tornou para si e para todo o gênero humano causa da morte, assim Maria, tendo por esposo quem lhe fora predestinado e sendo virgem, pela sua obediência se tornou para si e para todo o gênero humano causa da salvação. É por isso que a Lei chama a que é noiva, se ainda virgem, de esposa daquele que a tomou por noiva, para indicar o influxo que se opera de Maria sobre Eva. Com efeito, o que está amarrado não pode ser desamarrado, a menos que se desatem os nós em sentido contrário ao que foram dados, e os primeiros são desfeitos depois dos segundos e estes, por sua vez, permitem que se desfaçam os primeiros: acontece que o primeiro é desfeito pelo segundo e o segundo é desfeito em primeiro lugar. Eis por que o Senhor dizia que os primeiros serão os últimos e os últimos os primeiros. E o profeta diz a mesma coisa: Em lugar dos pais nasceram filhos para ti. Com efeito, o Senhor, o primogênito dos mortos, reuniu no seu seio os patriarcas antigos e os regenerou para a vida de Deus, tornando-se ele próprio o primeiro dos viventes, ao passo que Adão fora o primeiro dos que morrem. Eis por que Lucas, iniciando a genealogia a partir do Senhor subiu até Adão, porque não foram aqueles antepassados que lhe deram a vida, e sim foi ele que os fez renascer no evangelho da vida. Da mesma forma, o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria, e o que Eva amarrara pela sua incredulidade Maria soltou pela sua fé” (Contra as Heresias [III livro] 22,4).

Quando o Senhor veio de modo visível ao que era seu, levado pela própria criação que ele sustenta, tomou sobre si, por sua obediência, no lenho da cruz, a desobediência cometida por meio do lenho. A sedução de que foi vítima, miseravelmente, a virgem Eva, destinada a varão, foi desfeita pela boa-nova da verdade, maravilhosamente anunciada pelo anjo à Virgem Maria, já desposada a varão. Assim como Eva foi seduzida pela fala de anjo e afastou-se de Deus, transgredindo a sua palavra, Maria recebeu a boa-nova pela boca de anjo e trouxe Deus em seu seio, obedecendo à sua palavra. Uma deixou-se seduzir de modo a desobedecer a Deus, a outra deixou-se persuadir a obedecer a Deus, para que, da virgem Eva, a Virgem Maria se tornasse advogada. O gênero humano que fora submetido à morte por uma virgem, foi libertado dela por uma virgem; a desobediência de uma virgem foi contrabalançada pela obediência de uma virgem; mais, o pecado do primeiro homem foi curado pela correção de conduta do Primogênito e a prudência da serpente foi vencida pela simplicidade da pomba: por tudo isso foram rompidos os vínculos que nos sujeitavam à morte” (Contra as Heresias [V livro] 19,1).


III SÉCULO (201 a 300 d.C)


Papiro Egípcio (250 d.C):

Sob a tua misericórdia nos refugiamos, ó Mãe de Deus. As nossas suplicas tu não rejeitaras na necessidade, mas, no perigo liberta-nos: tu só és casta, tu só és bendita” (Sub Tuum Praesidum [sob a vossa proteção] – Em posse da “John Rylands Library Manchester").



Orígenes (
220 d.C):

Os filhos atribuídos a José não nasceram de Maria e não existe nenhuma Escritura que o prove” (In Lc. 7: GCS 9,45).

Conservou sua virgindade até o fim para que o corpo que estava destinado a servir à palavra não conhecesse uma relação sexual com um homem, desde o momento que sobre ela havia descido o Espírito Santo e a força do Altíssimo como sombra. Creio que está bem fundamento dizer que Jesus se fez para os homens a primícia da pureza que consiste na castidade e Maria por sua vez para as mulheres. Não seria bom atribuir a outra a primícia da virgindade” (In Mt. comm. 10,17: GCS 10,21").


Homilias sobre o evangelho de São Lucas, segundo Orígenes (240 d.C):

É por isso que encontrei elegantemente escrito na epístola de certo mártir (refiro-me Inácio, segundo Bispo de Antioquia depois de Pedro, que, na perseguição de Roma foi entregue às feras): <A virgindade de Maria se  fez oculta ao príncipe desse século>” (Homilia 6, capítulo 4).

Pois, na verdade, o anjo saudou Maria como uma fórmula nova, que não pude encontrar em [nenhuma] outra parte da Escritura e da qual pouca coisa se deve dizer. Eis, de fato, o que diz: <Ave, cheia de graça>, que em grego se diz: <kekharitoméne>. Não me recordo em que outra parte da Escritura eu tenha lido. Nunca essa fórmula foi dirigida a um homem: <Salve cheio de graça>. Somente a Maria essa saudação estava reservada” (Homilia 6, capítulo 7).

Lê-se bem que a bem-aventura Virgem Maria profetizou, como encontramos em grande número de exemplares (Lc 1,46-55)” (Homilia 7, capítulo 3).

Exultou, pois, a criança no ventre de Isabel e ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, exclamou e disse: <Tu és bendita entre as mulheres>. Nessa passagem, devemos, para que os homens simples não sejam enganados, refutar o que os hereges costumam objetar. Com efeito, não sei quem prorrompeu em tamanha loucura a ponte de afirmar que Maria tinha sido renegada pelo Salvador, porque, depois do seu nascimento, ela teria se unido a José. [Foi] o que alguém disse; que ele tenha sabido com que intenção a disse. Se algumas vezes os hereges vos fizeram tal objeção, respondei-lhes e dizei: é, certamente, cheia do Espírito Santo que Isabel disse: <Tu és bendita entre as mulheres>. Se Maria é proclamada bendita pelo Espírito Santo, como o Salvador a pôde renegar? Quanto aos que afirmam que ela contraiu bodas depois do parto virginal, eles não têm como prová-lo; pois, os que eram filhos atribuídos a José não tinham nascido de Maria, nem há nenhum texto da Escritura que mencione esse fato” (Homilia 7, capítulo 4).

“<Tu és bendita entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre. De onde me vem que a mãe do meu Senhor venha a mim?> Estas palavras: <De onde me vem> não são sinal de ignorância, como se Isabel, muitíssimo cheia do Espírito Santo, não soubesse que a mãe do Senhor tinha vindo até ela, segundo a vontade de Deus” (Homilia 7, capítulo 5).

Assim a alma de Maria primeiramente <engradece o Senhor> e depois <o espírito exulta em Deus>; se nós não tivermos crescido antes, não podemos exultar. Ela diz: <Ele voltou os olhos para a humildade de sua serva>. Para qual humildade de Maria o Senhor voltou os olhos? O que tinha a mãe do Salvador de humilde e de abjeto, que gerava o Filho de Deus no ventre? O que, portanto, disse: <voltou os olhos para a humildade de sua serva>, é tal como se dissesse: <voltou os olhos  para a justiça de sua serva>, <voltou os olhos para sua temperança>, <voltou os olhos para sua fortaleza e sabedoria>. De fato, é normal que Deus volte seus olhos para as virtudes” (Homilia 8, capítulo 4).


IV SÉCULO (301 a 400 d.C)


São Gregório Nazianzeno (296 a 373 d.C):

Além do mais, tendes o gênero de vida de Maria, que é o modelo e a imagem da vida própria do céu” (Lettere alle vergini, CSCO 151,76).


Santo Efrém da Síria (306 a 373 d.C):

Bem-aventurada és tu, ó Maria, porque em ti habitou o Espírito Santo, que Davi cantou: bem-aventurada és tu, que te tornaste como que uma carruagem para o Filho de Deus” (T.J. Lamy, S. Ephroemy Syri Hymni ET Sermones, Malinas 1882-1902, II, 588).


Sermões, segundo São Gregório Nazianzeno (329 a 390 d.C):

Foi concebido pela Virgem, já santificada pelo Espírito Santo na alma e no corpo, para honra do seu Filho e glória da virgindade” (Sermão 45, 9; PG 36,634; 1ª terça-feira).


Da virgindade, segundo São Gregório de Nissa (380 d.C):

O seio da bem-aventurada Virgem, por ter servido a um nascimento imaculado, é proclamado santo no evangelho, uma que o nascimento não destruiu a virgindade, es ta não foi obstáculo a tão grande nascimento” (De virginitate, 19).

A plenitude da divindade que residia em Cristo, brilhou através de Maria, a imaculada” (De virginitate, 2).


Sobre os Sacramentos, segundo Santo Ambrósio de Milão (387 a 393 d.C):

Não tenho homem, ele disse. Isto é: “a morte veio por um homem e a ressurreição vem por outro homem” (1Cor 15,21). Não poderia descer, não poderia ser salvo aquele que não acreditava que nosso Senhor Jesus Cristo tinha assumido o carne por meio de uma virgem” (Sobre os Sacramentos [Livro II] 2,7).

Por outro lado, nasceu sem pai, quando nasceu da virgem. Ele, de fato, não foi gerado por sêmen de homem, mas nasceu do Espírito Santo e da virgem Maria; saído de seio virginal” (Sobre os Sacramentos [Livro IV] 3,12).

Mas porque o Senhor quis, porque escolheu esse sacramento, Cristo nasceu do Espírito Santo e de uma virgem, isto é, “o homem Jesus Cristo é mediador entre Deus e os homens” (1Tm 2,5). Vês, portanto, que um homem nasceu de uma virgem contra as leis e ordem da natureza” (Sobre os Sacramentos [Livro IV] 4,17).


Sobre os Mistérios, segundo Santo Ambrósio de Milão (387 a 393 d.C):

Ouves que nossos pais ficaram sob a nuvem e sob uma boa nuvem, que resfria o incêndio das paixões carnais. Sob uma boa nuvem: ela protege aqueles que o Espírito Santo visitou. Depois, ele veio sobre a virgem Maria e o poder do Altíssimo a cobriu com a sua sombra, quando ela gerou a redenção para o gênero humano. Este milagre foi realizado em figura por Moisés. Se o Espírito Santo esteve presente na figura, não estará na realidade, quando a Escritura te diz: “A lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”? (Lc 1,35)” (Sobre os Mistérios 3,13).

Depois, aquele paralítico esperava um homem. Quem era este senão o Senhor Jesus, nascido da virgem, com a vinda do qual já não é a sombra que sara um a um, mas a verdade que cura todos juntos?” (Sobre os Mistérios 4,24).

Mas para que nos servir de argumentos? Sirvamo-nos de seus exemplos e estabeleçamos pelos mistérios da encarnação a verdade do mistério. Por acaso, o curso da natureza precedeu o nascimento do Senhor Jesus de Maria? Se procurarmos a ordem, a mulher costuma conceber depois das relações com um homem. É evidente, portanto, que a Virgem concebeu fora da ordem da natureza. E aquilo que nós produzimos é corpo nascido da Virgem. Por que procuras a ordem da natureza no corpo de Cristo, quando o próprio Senhor Jesus foi concebido por uma virgem fora do curso da natureza? É a verdadeira carne de cristo que foi crucificada, que foi sepultada. Portanto, é de fato o sacramento da carne dele” (Sobre os Mistérios 9,53).

Nós professamos que Cristo Senhor foi concebido de uma virgem e negamos a ordem da natureza. Com efeito, Maria não concebeu de um homem, mas ficou grávida pelo Espírito Santo, como diz Mateus: <Ela se encontrou grávida pelo Espírito Santo> (Mt 1,18). Portanto, se o Espírito Santo, vindo sobre uma virgem, produziu a concepção e realizou a obra da geração, não deve haver dúvida que o Espírito Santo, vindo sobre a fonte ou sobre aqueles que se apresentam para o batismo, não realize a verdade da regeneração” (Sobre os Mistérios 9,59).


Sobre a Penitência, segundo Santo Ambrósio de Milão (387 a 393 d.C):

Seriam estes mais santos do que Davi, de cuja família Cristo escolheu nascer, pelo mistério da encarnação? Cuja posteridade é o átrio do céu, o útero virginal que acolheu o redentor do mundo?” (Sobre a Penitência [I livro] 1,4).

Com efeito, não foi gerado, como todos os homens, pela união de um homem e uma mulher, mas, nascido do Espírito Santo e da Virgem, recebeu um corpo imaculado” (Sobre a Penitência [I livro] 3,13).

Por isso obteve graça tão grande: de sua família foi escolhida a Virgem que daria à luz Cristo para nós, com seu parto. É também por esta razão que aquela mulher é enaltecida no evangelho (cf. Lc 7,44-46)” (Sobre a Penitência [I livro] 8,69).


Da Trindade, segundo Santo Agostinho (397 a 400 d.C):

Se um Deus deve nascer, só pode nascer de uma virgem; e, se uma virgem deve gerar, só pode gerar um Deus” (De Trinitate 13, PL 18,23).


Confissões, segundo Santo Agostinho (
397 a 400 d.C):

E com voz de trovão chamou para que voltássemos a ele, ao lugar inacessível de onde veio até nós, entrando primeiro no seio da Virgem para unir-se à natureza humana” (IV livro; 12,19).

Em relação a ele, nada eu acreditava, a não ser o que minha ignorância deixava conceder. Sustentava, portanto, que uma natureza de tal gênero não podia nascer da Virgem Maria sem unir-se à carne. Mas eu não conseguia ver como poderia unir-se à carne, e ao mesmo tempo não se contaminar, este ser que eu imaginava” (V livro; 10,20).

Contudo, eu pensava de outro modo. Para mim, Cristo Jesus, o meu Senhor, era apenas um homem de extraordinária sabedoria, ao qual ninguém poderia igualar-se, sobretudo pelo milagroso nascimento de uma Virgem” (VII livro; 19,25). 


Enquirídio, segundo Santo Agostinho (
420 a 425 d.C):

Pois quem explicaria com palavras adequadas que o <Verbo se fez carne e habitou entre nós>, para que crêssemos no Filho único de Deus Pai onipotente, nascido por obra do Espírito Santo e da Virgem Maria? (...) Mas, como a que convinha nascer de uma virgem; que a fé da mãe, não a libido, concebera; já que se ao nascer, se tivesse comprometido a integridade dela, ele não mais seria nascido de uma virgem, e - nem convém pensar - seria falso toda a Igreja confessar que ele nasceu da virgem Maria, esta Igreja que, imitando a mãe dele, todos os dias dá à luz seus próprios membros e é virgem.” (Enquirídio: sobre a fé, esperança e caridade; 34).

Assim o anjo saudou sua mãe, quando lhe anunciou o futuro nascimento: <Ave>, disse ele, <cheia de graça!> E pouco depois [acrescentou]: <Encontraste graça junto a Deus>. E isso, que é cheia de graça e que encontrou graça junto a Deus, seguramente foi dito para que ela fosse a mãe do seu Senhor, ou melhor, do Senhor de todos” (Enquirídio: sobre a fé, esperança e caridade; 36).

É certo que o mesmo Jesus Cristo, Filho unigênito, isto é, único de Deus, Senhor nosso, nasceu do Espírito Santo e de Maria Virgem (...). Pois quando a Virgem perguntou ao anjo como se realizaria o que lhe anunciava, já que ela não conhecia homem, o anjo respondeu: <O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; e por isso, aquele que vai nascer de ti será chamado santo, filho de Deus>” (Enquirídio: sobre a fé, esperança e caridade; 37).

Pois, assim confessamos, o Senhor nosso Jesus Cristo, que é Deus de Deus, mas nasceu como homem do Espírito Santo e da Virgem Maria numa e na outra Substância, isto é, na divina e na humana (...). Aqui, portanto, quando confessamos que ele nasceu do Espírito Santo e da Virgem Maria, é difícil explicar como não seja filho do Espírito Santo e da Virgem Maria, quando nasceu daquele e desta. Certamente, sem dúvida, não nasceu dele como de um pai, enquanto dela nasceu como de uma mãe” (Enquirídio: sobre a fé, esperança e caridade; 38).

Cristo nasceu do Espírito Santo, não como filho, e de Maria Virgem, como filho” (Enquirídio: sobre a fé, esperança e caridade; 40).


A fé nas coisas invisíveis, segundo Santo Agostinho (420 a 425 d.C):

Entre esses doze filhos havia Judá, de onde o nome dos judeus, dos quais nasceu a Virgem Maria, que deu à luz à Cristo (...). Não duvideis de que uma virgem dê à luz, se quereis crer que Deus nasce, que não deixa de governar o mundo mesmo ao vir na carne entre os homens, que confere fecundidade à mãe, [e] não fere a sua integridade” (A fé nas coisas invisíveis; 5).

Com efeito, aqueles que, naquele tempo, presentes na terra da Judeia, foram fiéis conheceram como realidades presentes o nascimento de Cristo de uma Virgem” (A fé nas coisas invisíveis; 7).


Explicação do Símbolo, segundo Santo Agostinho (
420 a 425 d.C):

Mas vejamos o que esse Filho Único de Deus fez por nós, o que enfrentou por nossa causa: nasceu do Espírito Santo e da Virgem Maria. Ele, Deus tão grande como o Pai, nasceu do Espírito Santo e da Virgem Maria, humilde para curar os soberbos (...). O seu inclinar-se a nós nada mais é senão o nascer do Espírito Santo e da Virgem Maria. E esse nascimento humano é humilde e sublime. Por que humilde? Porque nasceu humano de humanos. Por que sublime? Porque nasceu de uma virgem. A virgem concebeu, deu à luz e, após o parto, permaneceu virgem” (O símbolo aos catecúmenos; 6).

Ele - nascido do Pai, coeterno, de cuja geração disse o profeta: <Quem narrará a sua geração> - nasceu do Pai fora do tempo e nasceu da Virgem Maria na plenitude dos tempos (Gl 4,4) (...). Nasceu como quis, de uma virgem, morreu como quis, na cruz” (O símbolo aos catecúmenos; 8).


V SÉCULO (401 a 500 d.C)


São Cirilo de Alexandria ( 431 d.C):


“Salve, Maria, templo onde Deus habita, templo santo, como o chama o profeta Davi quando diz: <Teu templo é santo e admirável em sua justiça> (Sl 64,6). Salve, Maria, a criatura mais preciosa da criação; salve Maria, pomba puríssima” (Discurso pronunciado en el Concilio de Efeso: PL 77,1029-1040).


IV Concílio Ecumênico de Calcedônia ( 451 d.C):

“Gerado pelo Pai antes de todos os séculos segunda a divindade, e nestes últimos tempos, por nós e pela nossa salvação, de Maria virgem e mãe de Deus segundo a humanidade” (DS 301).


Sermões referente ao natal do Senhor, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):

“Cristo, que viria na carne, designando assim aquele que, ao mesmo tempo Deus e homem, nascido de uma virgem, condenaria, por seu nascimento sem mancha, o profanador da raça humana.” (II sermão do natal do Senhor, 1).

“Nascimento novo esse pelo qual ele quis nascer, concebido por uma virgem, nascido de uma virgem, sem que um pai misturasse a isso seu desejo carnal, sem que fosse atingida a integridade de sua mãe.” (II sermão do natal do Senhor, 2).

“Porque o Pai desse Deus que nasce na carne é Deus, como atesta o arcanjo à bem-aventurada Virgem Maria: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com sua sombra; por isso, o Santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus” (II sermão do natal do Senhor, 2).

“Origem dessemelhante, natureza comum: que uma virgem conceba, que uma virgem dê à luz e permaneça virgem é humanamente inabitual e insólito, mas depende do poder divino” (II sermão do natal do Senhor, 2).

“Foi necessário, com efeito, que a integridade do filho preservasse a virgindade sem exemplo de sua mãe, e que o poder do divino Espírito, derramado sobre ela, mantivesse intato esse recinto sagrado da castidade e essa mansão da santidade, na qual ele se comprazia; porque ele tinha decidido elevar o que era desprezado, restaurar o que estava quebrado e dotar o pudor de uma força múltipla, para dominar as seduções da carne, a fim de que a virgindade, incompatível, nas outras, com a transmissão da vida, se tornasse para as outras graça imitável ao renascerem” (II sermão do natal do Senhor, 2).

“Para esse fim, Cristo foi concebido de uma virgem, sem intervenção de homem; de uma virgem fecundada não por uma união carnal, mas pelo Espírito Santo” (II sermão do natal do Senhor, 3).

“Para esse fim, Cristo foi concebido de uma virgem, sem intervenção de homem; de uma virgem fecundada não por uma união carnal, mas pelo Espírito Santo” (II sermão do natal do Senhor, 3).

“Enquanto em todas as mães a concepção não se dá sem a mancha do pecado, essa mulher (Maria) encontrou sua purificação no próprio fato de conceber. Porque onde não intervém o sêmen paterno, o princípio manchado de pecado não vem misturar-se. A virgindade inviolada da mãe ficou isenta da concupiscência e forneceu a substância carnal” (II sermão do natal do Senhor, 3).

“Que nenhuma dúvida aflore em vós no tocante à fé na integridade da Virgem e em seu parto virginal. Honrai com uma obediência santa e sincera o mistério sagrado e divino da restauração do gênero humano” (II sermão do natal do Senhor, 6).

“Deus, pois, Filho de Deus, igual ao Pai e tendo do Pai a mesma natureza que o Pai, Criador e Senhor do universo, todo presente em toda parte e todo excedendo tudo, no curso dos tempos, que se escoam como ele mesmo dispôs, escolheu esse dia para nascer da bem-aventurada Virgem Maria para a salvação do mundo.” (III sermão do natal do Senhor, 1).

“Por isso o Criador e Senhor de todas as coisas se dignou ser um dos mortais, depois de ter escolhido uma mãe que ele tinha feito e que, salva sua integridade virginal, forneceu-lhe somente a substância de seu corpo; assim, cessado o contágio do sêmen humano, habitariam num homem novo a pureza e a verdade. Portanto, no Cristo, nascido de uma virgem, mesmo sendo o nascimento admirável, a natureza não é dessemelhante da nossa” (IV sermão do natal do Senhor, 3).

“A terra da natureza humana, maldita no primeiro prevaricador, produziu nesse único parto da Santa Virgem um germe abençoado e isento do vício de sua estirpe; sua origem espiritual está adquirida para qualquer um na regeneração, e, para todo homem que nasce de novo, a água do batismo é como o seio virginal: o mesmo Espírito que veio sobre a Virgem vem agora à fonte batismal; assim, o pecado, que foi então aniquilado por uma santa concepção, aqui é tirado pela ablução mística.” (IV sermão do natal do Senhor, 3).


Sermões referente à Quaresma, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):

“Alma cristã que foge da mentira, que é discípula da verdade, procure servir-se confiantemente da história evangélica: considere as ações visíveis do Senhor ora a partir de uma inteligência espiritual, ora de uma visão corporal, como se estivesse em companhia dos apóstolos. Atribui ao homem o fato que a criança nasceu de mulher; a Deus, o fato que nem sua concepção, nem seu nascimento violaram a virgindade de sua mãe” (VIII sermão sobre a quaresma, 2).

“Porque a natureza humana só poderia ser curada das feridas deixadas nela pela antiga culpa original se o Verbo de Deus, tomando para si uma carne no útero da Virgem, nascesse numa só e mesma pessoa a carne e o Verbo” (VIII sermão sobre a quaresma, 2).

“Dentre as coisas narradas, algumas são próprias da humanidade, outras, da divindade, mas todas são relembradas sob o nome do Filho do Homem: poder-se-ia temer que uma fé dirigida a crer que o Senhor Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria, é ao mesmo tempo Deus e Homem, não hesitasse em confessar seja a humanidade em Deus, seja a divindade no homem, quando se encontram, no Verbo, da humildade verdadeira a humanidade assumida e, na carne, a verdadeira majestade de Deus que a assume” (VIIII sermão sobre a quaresma, 2).

“No seio da Virgem, com efeito, recebeu carne mortal: nesta carne mortal completou-se a disposição da paixão; assim aconteceu por inefável desígnio da misericórdia divina que ela foi para nós um sacrifício redentor, abolição do pecado e primícias de ressurreição para a vida eterna” (X sermão sobre a quaresma, 1).

“Do mesmo Espírito de que nasce Cristo nas entranhas da mãe imaculada, nasce também o cristão no seio da santa Igreja” (Serm. 29,1 Pl 54, 227B).


Sermão sobre a ressurreição do Senhor, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):

“Reconheceis, sem separação alguma da divindade, ser verdadeiro o Cristo nascido do seio da Virgem” (II sermão sobre a ressurreição do Senhor, 7).


Sermão na ascensão do Senhor, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):

“O anjo anunciou à bem-aventurada Virgem que Cristo haveria de ser concebido do Espírito Santo. Quando nasceu da Virgem, também a voz dos anjos celestes cantou para os pastores” (II sermão na ascensão do Senhor, 4).


Tratado contra a heresia de Êutiques, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):

“Assim, não escapou à nossa solicitude, toda devotada à vossa Caridade, que egípcios, principalmente comerciantes, chegaram à cidade defendendo ideias criminosamente introduzidas em Alexandria por hereges que pretendem que Cristo teria só a natureza divina e que a carne tomada por ele da bem-aventurada Virgem Maria não teria tido nenhuma realidade; é uma doutrina ímpia, a qual diz que em Jesus o homem é falso, e que Deus é passível” (tratado contra a heresia de Êutiques, 1).

“Ele, verdadeiro Deus, sem contrair nenhuma mancha de pecado, uniu a si, na verdade da carne e da alma, nossa natureza inteira e perfeita; concebido pela operação do Espírito Santo no seio da santa Virgem sua mãe, ele não se aborreceu com o nascimento segundo a carne nem com os começos da primeira idade” (tratado contra a heresia de Êutiques, 2).


Tomo a Flaviano, segundo o Papa Leão Magno ( 430 a 461 d.C):

“Creio em Deus Pai todo poderoso e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, concebido pelo poder do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria. Estes três artigos destroem as invenções de quase todos os hereges” (tomo a Flaviano, 2).

“O mesmo sempiterno Filho unigênito de um sempiterno Genitor nasceu pelo poder do Espírito Santo e de Maria Virgem” (tomo a Flaviano, 2).

“Visto que foi concebido por virtude do Espírito Santo no seio da Virgem Mãe, esta o deu à luz conservando intata a virgindade, como seu detrimento da virgindade o concebera.” (tomo a Flaviano, 2).

“Não proferiria palavras vãs afirmando que o Verbo se fez carne de sorte que Cristo nascido do seio da Virgem tivesse a condição externa de homem, mas não a verdadeira carne da mãe. Acaso julgou que nosso Senhor Jesus Cristo não era de nossa natureza porque o anjo enviado à bem-aventurada sempre Virgem Maria disse: “virá sobre ti o Espírito Santo e a potência do Altíssimo te recobrirá, e por isso também o santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lc 1,35)” (tomo a Flaviano, 2).

“Vem à luz por novo nascimento, porque a virgindade inviolada, que ignorava a concupiscência, ministrou-lhe a matéria corporal. Recebeu o Senhor de sua mãe a natureza, mas isenta de culpa. A natureza humana de nosso Senhor Jesus Cristo, nascido do seio da virgem, não difere da nossa por ter tido ele admirável natividade. Sendo verdadeiro Deus, é também verdadeiro homem. Nesta unidade não há mentira, pois mutuamente se coadunam humildade humana e grandeza divina” (tomo a Flaviano, 4).


Comentários, segundo o São João Crisóstomo (
 407 d.C):

“Virgem, madeiro e morte eram os símbolos da nossa ruína. A virgem Eva, que ainda não conhecia homem. O madeiro era a árvore, a morte era a condenação de Adão. Mas eis aqui de novo a virgem, o madeiro e a morte. Lá eram símbolos de ruína. Aqui se transforaram em símbolos de vitória. Porque em lugar de Eva está Maria” (De coemeterio et de cruce 2: PG 49,395; cf. id., in sanctum Pascha 2: PG 52,767-768).

VI SÉCULO (501 a 600 d.C)


São Sofrônio ( 560 a 638 d.C):

“O insigne (discípulo) acolheu em sua casa a perfeita mãe de Deus como sua própria mãe (...). Tornou-se filho da mãe de Deus” (Anacreontica xi. In Ioannem theologum, VV. 77-87, Pg, 87,3789-3790).



VIII SÉCULO (701 a 800 d.C)

André de Creta ( 730 d.C):

“O corpo da Virgem é uma terra que Deus trabalhou a primícia da massa adamítica que foi divinizada em Cristo, a imagem do todo semelhante à beleza divina, a argila modelada pelas mãos do artista divino” (Hom. I in dorm.: PG 97,1068)

“Eu proclamo Maria a única santa, a mais santa entre todos os santos (Encom. II dies natalis: PG 97,832B)


CONCLUSÃO


A fé da Igreja é inegável, sagrada, santa e verdadeira.

A crença de que Maria, a mãe de Deus e nossa, possui missão continua e inacabada na Igreja de Deus, perdura desde os primeiros tempos apostólicos. Ainda que de forma tímida, é nítido que uma pura Cristologia só poderia ser entrelaçada com o princípio ativo da escolha da virgem como ponte de acesso, onde Jesus, nosso Senhor, viria até nós para remir e purificar nossos maus caminhos.   

São Paulo diz aos Gálatas que na plenitude do tempo, Deus enviou seu filho, “nascido de mulher” (Gl 4,4). Mulher essa, escolhida pelo próprio altíssimo, antes de todos os séculos, para que assim, se cumprisse o oráculo do Senhor:

Pois sabei que o Senhor mesmo vos dará um sinal: <Eis que a virgem está grávida e dará à luz um filho e dar-lhe-a o nome de Emanuel>” (Is 7,14).

Sendo assim, saibamos que o Cristo, Senhor e Salvador de todo o gênero humano, encarnou-se no seio da Santa Virgem Maria a fim de resgatar-nos!

Ave Maria, cheia de graça (Lc 1,28)!

OBS: Esse texto sofrerá modificações à medida que, novas citações sejam encontradas.