terça-feira, 5 de abril de 2016

VIRGINDADE DE MARIA SANTÍSSIMA


INTRODUÇÃO


 “Maria, uma virgem não profanada, Virgem tornada inviolável pela graça, livre de toda mancha do pecado” (Ambrósio de Milão; Sermão 22,30; +337 d.C)

A virgindade de Maria Santíssima, nunca foi objeto de um debate tão infrutífero como o que vivemos atualmente. São inúmeras as contradições apresentadas pelos mais variados “teólogos” que procuram desacreditar em algo que sempre, foi matéria de fé para os cristãos primitivos. Assim como outros artigos, minha responsabilidade recai sobre a verdade em apresentar provas concretas da fé de mais de dois mil anos. 

Para facilitar a leitura do texto, separei por tópicos os principais questionamentos levantados sobre o tema:

A – Entendendo o termo “Até que”;
B – Entendendo o termo “Primogênito”;
C – Entendendo os termos de parentesco do Aramaico, Hebraico e Grego;
D – A Sagrada Família (Jesus, Maria e José);
E– Jesus, o filho de Maria;
F – Quem são os irmãos de Cristo? Filhos da mesma Maria?
G – João 19,26-27 (Mulher, eis ai teu filho);
H– O salmo Messiânico (69);
I – Conclusão

A – Entendendo o termo “Até que”

Mt 1,25   “E não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus.

Em um debate teológico, a utilização desse verso do evangelho de São Mateus, sempre é o carro chefe para os que procura dizer que após o parto, São José teria tido relações sexuais com Maria Santíssima. Se lermos essa passagem isoladamente e sem qualquer compreensão do ambiente vivido pelos hebreus, teremos à clara impressão de que o escritor, de fato, queria transmitir essa mensagem, porém, uma análise elaborada de outros versos, irá revelar-nos a compreensão correta do que a Igreja sempre entendeu, desde os tempos apostólicos. 

É necessário entender que essa partícula das escrituras, não confirma e nem afirma a virgindade perpétua de Maria. “Até que” é um termo comum empregado no vocábulo hebraico que normalmente designa para a confirmação de “ações passadas” sem indicações para acontecimentos futuros. Neste caso, o uso é empregado para enfatizar que a concepção do Cristo, foi tida por uma mulher que não tinha tido qualquer contato sexual, no caso, Jesus nasceu sem que Maria tivesse coabitado com José.

E como poderemos ter a certeza de que essa é a correta interpretação do texto? Vejamos as seguintes passagens:

Mt 28,20   “Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias; até a consumação dos séculos. Amém”. 

O texto do capítulo vinte e oito do evangelho de Mateus, possui a mesma essência hebraísta do cenário vivido por Maria e José. Jesus afirma que estará conosco “até” a consumação dos séculos, isto é, o fragmento não afirma que após a consumação dos séculos, nosso Senhor nos deixaria, ao contrário, o escritor manifesta que o amor infindável do Cristo permanecerá até o fim.

2 Sm 6,23  “E Mical, a filha de Saul, não teve filhos, até o dia da sua morte”.

Se aplicarmos o princípio interpretativo de alguns teólogos, seríamos obrigados a pensar que se “Maria teve relações sexuais com José” Mical, a filha de Saul, teria tidos filhos a pós a “sua morte”. É impossível pensar que essa possibilidade existisse e o escritor do livro de Samuel, ao usar o termo “até”, jamais quis afirmar essa probabilidade, ao contrário, o fragmento está afirmando o que ocorreu no passado: a filha do primeiro Rei de Israel, não teve filhos.

Sl 110,1  “[Salmo de Davi] Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés”.

Aqui, temos mais um caso onde o “Até que”, nada conclui do futuro. Ou será que após o Senhor colocar os inimigos aos seus pés, o Salvador não poderia sentar-se a direita de Deus? Sendo assim, o uso desse termo para indicar que Maria Santíssima teria coabitado com José, não passa de sofisma, uma vez que, o uso dessa palavra pelo evangelista, implica em apontar que o nascimento de Cristo se deu por milagre, já que, Maria Santíssima havia concebido o salvador por intermédio do Espírito Santo. 

B – Entendendo o termo “Primogênito”

Mt 1,25   E não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus.

Ainda que o uso do termo “primogênito” possa significar o primeiro de muitos outros filhos, engana-se quem acredita que essa definição seja a única a ser compreendida. Há quem entenda que o fato do evangelista usar essa palavra, implica necessariamente que a Mãe de Cristo tivesse outros filhos, já que, o primogênito revelaria o primeiro de uma ninhada de filhos. Para completar, mencionam que se Jesus Cristo não tivesse irmãos de sangue, o escritor teria usado “unigênito”, assim como especificado na passagem de Jo 3,16.

Uma rápida verificação nos escritos bíblicos, nos concederá algumas informações importantes sobre o porquê dessa argumentação, ser desprovida de qualquer entendimento teológico. Basta procurarmos o termo “unigênito” em outras passagens do velho ou do novo testamento. Encontramos em Gn 22,12, o Anjo do Senhor afirmando a Abraão que não permitiria que ele ceifasse seu “único” filho ou em Zc 12,10 onde, está escrito que o sofrimento pelo único ou pelo primeiro filho é igual, isto é, a grande verdade é que em praticamente todos os casos onde à bíblica trata de primeiro ou único filho, o termo sempre usado é “primogenitura” e por quê? 

Encontramos a resposta no livro do Êxodo:

Ex 13,2  “Consagra-me todo primogênito, todo o que abre o útero materno, entre os filhos de Israel. Homem ou animal serão meus”.

Em quase toda a literatura bíblica, todas às vezes que havia o nascimento de uma criança, esse (a) por sua vez, era o primogênito e isso não significava a existência de outros irmãos. Ao contrário, aquele que “abria o útero” materno, seja ele filho único ou não, carregaria a primogenitura.  

Ex 34,19  “Todo o que sair por primeiro do seio materno é meu: todo macho, todo primogênito (...)”.

O evangelista João, ao usar a palavra “unigênito” para Jesus (Jo 3,16), estava afirmando a existência do único filho de Deus como Senhor e Salvador de todo o mundo. 

Maria Santíssima, ainda que toda pura e toda santa, recebeu dos autores do evangelho, o termo corrente de toda escritura ao falar do “primeiro” filho, ainda que, Ela tivesse tido apenas Jesus.  Um exemplo claro do uso da palavra primogênito pelos escritores bíblicos ao indicar aquele que “abre o útero da mãe”, sem que signifique a existência de irmãos, está registrado no segundo livro do Pentateuco:

Ex 12,29  “E aconteceu, à meia noite, que o Senhor feriu a todos os primogênitos da terra do Egito, desde o primogênito do Faraó, que se sentava em seu trono (...)”.

A escritura não narra que o Faraó possuía outros filhos e sim, apenas um, porém, ao relatar que o Senhor iria ferir todos os primogênitos do Egito e enfatizar o filho do rei egípcio, o autor recorre ao termo corrente para seu único filho: “o Senhor feriu a todos os primogênitos da terra do Egito, desde o primogênito do Faraó”.

C – Entendendo os termos de parentesco do Aramaico, Hebraico e Grego. 

Para entendermos a virgindade de Maria, se faz necessário visualizar as línguas originais, onde, às sagradas escrituras foram escritas. E por qual motivo, torna-se isso importante? Através das palavras que aqui serão apresentados, poderemos entender que cada termo designado aos chamados “irmãos do Senhor”, não designam a literalidade no parentesco como normalmente algumas traduções tendem à indicar. 

A língua falada na época por Cristo era o aramaico e o antigo testamento, inicialmente, fora escrito em hebraico e posteriormente traduzido para o grego através da versão dos setenta (LXX – Septuaginta). Para essas duas línguas (aramaico e hebraico), não existia um termo que definisse o grau de parentesco, isto é, para definir irmãos, primos, sobrinhos o único termo presente era o “AHA” (aramaico) e o “AH” (hebraico). Um exemplo clássico do uso dessas palavras, pode ser encontrado em Gn 13,8 onde, às traduções demonstram Abraão chamando Ló de seu irmão, porém, ele era seu sobrinho (Gn 11,27-28). Dessa forma, podemos encontrar em toda a escritura, situações similares a essa no que diz respeito à formação de famílias tribais e do respectivo uso desses termos sem que, fossem definidos os graus de familiaridade. Já o novo testamento, foi escrito em um ambiente “semítico”, isto é, embora os livros estejam em grego, para os autores, foi apropriado que se conservasse o linguajar judaico da época.

No grego, encontramos a palavra “adelphos” que possui o mesmo sentido dos termos aramaicos e gregos, isto é, para essa palavra, seu uso poderia ser adequado a qualquer grau de familiaridade, seja ele sanguíneo ou não. O termo Adelphos, concede-nos uma amplitude na interpretação que corrobora com toda a tradição da Igreja e dos primeiros padres que viam nos irmãos do Senhor, parentes ou primos. Vejamos alguns exemplos:

Na primeira epístola de São Paulo aos Coríntios, o apóstolo escreve que Cristo apareceu a mais de “500 irmãos”.

1 Cor 15,6  “Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte ainda vive (e alguns já são mortos)”.

1 Cor 15,6πειτα φθη πάνω πεντακοσίοις δελφος φάπαξ, ξ ν ο πλείους μένουσιν ως ρτι, τινς δ καὶἐκοιμήθησαν

Ao olharmos os versículos que os parentes do Senhor aparecem, podemos perceber que a palavra utilizada no grego é a mesma:

Mt 13,55  “Não é ele o filho do carpinteiro? Não se chama a mãe dele Maria e os seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas”?

Mt 13,55 – μιϲ ουχ ουτοϲ ε ϲτιν ο του τεκτο νοϲ υϲ ουχ η μηρ  αυτου λεγετε μα ριαμ και οι αδελφοι  αυτου ϊακω βοϲ και ϊωϲηφ  και ϲιμων και ιου

É importante afirmar que a palavra “primo” no grego, possui tradução, sendo ela “anépsios”, porém, o único emprego dela, está novo testamento e encontra-se em Cl 4,10:

Cl 4,10  Saúda-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, primo de Barnabé.

São muitos os que procuram encontrar nesse único verso, um refúgio teológico para afirmar que se Cristo tivesse primos, essa deveria ser a palavra usada. Como já mencionado neste artigo, os evangelhos que descrevem os irmãos de Cristo, foram escritos em um ambiente semítico, isto é, o termo apropriado que contemplaria o uso da língua mãe do povo, seria adelphos. Assim como as palavras do hebraico e aramaico não poderiam trazer uma melhor aproximação familiar, os evangelistas usaram um substantivo do grego que obtivesse o mesmo peso gramatical para os viventes daquela região.

São Paulo, o responsável pelo único uso de anépsios nos escritos neo-testamentários, aos escrever aos Colossenses, não estava traduzindo um ambiente vivido pelos judeus e sim, escrevendo em grego koiné (forma popular da língua) para cristãos que residiam no império grego-romano, isto é, longe de qualquer cenário semita e com intenções diferentes das palavras do evangelho que foram traduzidas do próprio aramaico, idioma esse, falado por Jesus e seus apóstolos. Dessa forma, “adelphos” (grego), “aha” (aramaico) e “ah” (hebraico) encontram-se em plena conformidade com a orientação do ensino antigo dos primeiros padres da Igreja.

Outro fator importante de se mencionar sobre os termos gregos, encontra-se no livro de Tobias, capítulo 7 (sete), onde, Raguel é apresentado como parente de Tobit (pai de Tobias). No verso 2 (dois) Raguel vira a sua esposa e intrigado pela aparência de Tobias, menciona que ele parecia muito com seu “primo”:

Tb 7,2 – κα επε Ραγουλ Εδν τ γυναικ ατο· ς μοιος νεανίσκος Τωβτ τ νεψι.

Tb 7,2  Disse à sua esposa Efna: “Como esse rapaz se parece com meu primo Tobit!”.

Avançando dois versos (4), percebemos que a palavra usada já não é mais primo (τ νεψι) e sim, irmão (δελφν), ambas, possuindo o mesmo significado:

Tb 7,4 - κα επεν ατος γινσκετε Τωβιτ τν δελφν μν ο δ επαν γινσκομεν

Tb 7,4  “Conheceis Tobit, nosso irmão?” – “Conhecemos sim”, responderam – “Ele está bem?” 

É fato que Tobias e Raguel faziam parte da mesma tribo que era a de Neftali, porém, Tobias era filho de Tobiel (Tobit) enquanto Raguel poderia ser primo ou irmão de seu pai, porém, em um primeiro momento, ele o chama de primo (vr 2) e logo após, irmão (vr 4). Aqui, são usados os dois empregos das palavras para designar uma questão de parentesco por um mesmo clã. Sendo assim, podemos perceber que até mesmo “anépsios” em determinados contextos, pode refletir a realidade de irmãos ou parentesco de mesmo sangue. Dessa forma, entendemos que à Igreja Católica, sempre ensinou que o uso na escrita para a palavra adelphos é amplo e não indica a irmandade sanguínea de Cristo e sim um parentesco próximo.

D – A Sagrada Família (Jesus, Maria e José). 

Lc 2,41-42  Ora, todos os anos iam seus pais (José e Maria) a Jerusalém à festa da páscoa; E, tendo ele (Jesus) já com doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume do dia da festa.

Um dos primeiros indícios que identificamos nas sagradas escrituras a respeito da particularidade da sagrada família, encontra-se nas passagens do evangelho de Lucas. Anualmente, José e Maria subiam a Jerusalém em decorrência das festividades da Páscoa e seguindo aquilo que está registrado, Jesus sempre estava ao lado deles. Naquela época, era comum que as famílias judaicas possuíssem muitos filhos e até pela pouca estrutura, a descendência era muito numerosa (1 Cr 15,5 e 1 Cr 16,38). Seria improvável pensar que aos 12 anos de idade, os irmãos do Cristo não estivessem ao lado de seus pais. Levando em consideração que a distancia entre Nazaré e Jerusalém sobressaia os 100 km, é estranho pensar que seus pais tivessem deixado seus filhos em Nazaré e viajado apenas com menino Jesus. No cenário aqui mencionado, já é possível visualizar a sagrada família composta apenas pelo Senhor e seus pais. Dessa forma, possuímos aqui indícios primários que de fato, Maria não teve outros filhos a não ser o próprio Jesus.

Se a Virgem Santíssima e São José, seu esposo, tivessem outras crianças, não seria problemático pensar que no relato acima, apenas Jesus, com 12 anos, estava com seus pais? Onde estavam as outras crianças?

E – Jesus, o filho de Maria.

É comum que ao lermos a bíblia, deparemo-nos com diversas genealogias, sendo que, em quase todas as citações, os escritores procuram ligar a origem do filho(a) ao nome do Pai. Assim como em Mt 10,2 onde, Tiago e seu irmão João são filhos de Zebedeu. No evangelho de Marcos, verificamos uma exceção com a citação da filiação de Jesus.

Vejamos:

Mc 6,3  Este não é o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago e José, Judas e Simão?

Percebam o que há de curioso nesse versículo: Jesus é ligado à filiação direta de Maria Ss, isto é, mencionado junto à mulher (Gn 3,15; Ap 12,1) e não ao homem. A expressão utilizada pelo evangelista São Marcos (filho de Maria; do grego uiós Marias) denota de grande importância, uma vez que, em quase todos os relatos, a ligação de Jesus com Maria é nítida, porém, seus irmãos nunca são inseridos nesse ambiente. Os irmãos do Senhor nunca são chamados de filhos de Maria e até estranhamente, não aparecem ligados ao suposto pai José. A grande verdade é que, não há qualquer lugar da escritura que mencione os supostos irmãos de Jesus como filhos de Maria ou José.

Somente Jesus Cristo é o “filho de Maria”. 

F – Quem são os irmãos de Cristo? Filhos da mesma Maria?

Há dois artigos de grande importância no blog, onde, procuro detalhar a questão dos “irmãos do Senhor”.

A leitura esclarece e revela a verdade que é mantida a mais de dois mil anos pela Santa Igreja.



G – João 19,26-27 (Mulher, eis ai teu filho). 

Jo 19,26-27  “Jesus viu a mãe e, ao lado dela o discípulo que amava. Então disse à mãe: “Mulher, eis ai o seu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis ai a sua mãe”. E dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa”.

João não era filho de Maria e tão pouco parente de Cristo. João era de fato, assim como narra os evangelhos, o apostolo muito amado, filho de Salomé e Zebedeu (Mt 10,2). Aos pés da cruz, observamos uma situação inusitada: Jesus entrega sua mãe aos cuidados do discípulo, sendo que ele, não era seu familiar.

Alguns teólogos, com base em passagens isoladas, afirmam que Maria tinha muitos filhos, sendo assim, não seria totalmente contraditório pensar que Nossa Senhora fosse entregue a outra pessoa, já que ela possuía filhos e filhas? De certo modo, não seria necessário (re)afirmar a certeza que temos em dizer que  Maria Ss, não possuindo outros filhos e José, sendo pai adotivo do Senhor e já estando morto, Jesus Cristo estaria entregando sua mãe aos cuidados de João, pois, a virgem não possuía qualquer descendência.

Se Maria Santíssima possuía de fato quatro filhos homens e algumas filhas mulheres, seria ilógico pensar que por mais que seus filhos não acreditassem nas palavras de Jesus e sendo incrédulos, repassassem essa irá para a Mãe ao ponto de não recebê-la na própria casa! Desacreditar no evangelho era um ponto típico da fraca fé da população local, agora, desrespeitar um dos dez mandamentos (Ex 20,12), seria algo infundado. 

É certo que Nosso Senhor, entregou Maria SS aos cuidados de João, pois, ela não possuía filhos que pudessem dar a ela o devido cuidado.

Lembre-se das palavras de Jesus: “Mulher, eis ai o SEU FILHO” – “Eis ai a TUA MÃE”.

H – O salmo Messiânico (69).

O Salmo 69 é muito conhecido por tratar-se de uma poesia messiânica. O texto é um reflexo da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo:

Sl 69,21  Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre.

Jo 19,9  Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre. E encheram de vinagre uma esponja, e, pondo-a num hissope, lhe chegaram à boca.

Pelo fato do salmo, possuir algumas passagens consideradas como “proféticas”, já que, ilustra o terrível sofrimento do Cristo, muitos sãos o que os procuram justificar a existência de outros filhos de Maria, por conta de um único e isolado verso. Embora todos os versos façam clara referência ao “servo sofredor”, é necessário ler cuidadosamente cada palavra, para que assim, não caímos em heresia.

Leiamos o versículo: 

Sl 69,9-10  Tenho-me tornado um estranho para com meus irmãos, e um desconhecido para com os filhos de minha mãe, pois o zelo da tua casa me devorou, e as afrontas dos que afrontam caíram sobre mim.

Aqui fica a pergunta: se o salmista diz que o messias seria desconhecido aos “filhos de sua mãe”, como entender a virgindade perpétua de Maria? Pois bem, se estamos tratando de um verso profético, precisamos encontrar seu contexto no novo testamento. Sendo assim, ao lermos o evangelho segundo São João, encontramos algumas semelhanças com a passagem mencionada acima.

Vejamos:

Jo 2,14-17  E achou no templo os que vendiam bois, ovelhas, e pombos, e os cambiadores e assentados. E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas; e disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda. E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: o zelo da tua casa me devorará.

Encontramos nas duas passagens, dois pontos similares:

1 – Sl 69,10 – “O zelo ta sua casa me devorou”;

2 – Jo 2,17 – “O zelo da tua casa me devorará”.

Analisando todo o contexto do momento em que Cristo subia a Jerusalém e do seu encontro com os vendilhões no templo, passamos a perceber qual é o real significado da profecia ter se cumprido nEle ao lermos que: os “filhos da sua mãe não o reconheciam”. Jesus havia tornado-se estranho para a grande maioria dos judeus que faziam parte do povo escolhido, isto é, “seus irmãos” de sangue, o povo de Israel que deveria reconhecê-lo como o salvador, vira as costas para seus ensinos. O contexto aplicado a esta passagem, não deve ser entendido no aspecto familiar, mas sim, no âmbito de que o messias, sendo profeta, não era bem recebido entre o seus:

Lc 4,24  E disse: Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua pátria.

Sendo assim, na sinagoga, os judeus se enchiam de ira contra o Senhor (Lc 4,28).

É muito claro que a “mãe” profetizada no Salmo, não é Maria e sim, a representação do templo, onde, o Cristo, cheio de zelo para com à casa de Deus, torna-se estranho para aqueles que deveriam ser seus irmãos de fé. Percebam que as pessoas que estavam na sinagoga, desacreditavam no Senhor e o questionavam dizendo: “Que sinal nos mostras para fazeres isto?” (Jo 2,18). Jesus ao responder que derrubaria o templo e o edificaria em três dias (Jo 2,19), recebe como resposta, apenas afirmações vazias e cheia de ironia: “Disseram, pois os judeus: em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantareis em três dias?” (Jo 2,20). 

Sendo assim, é possível entender o porquê os discípulos lembraram-se do Salmo 69 que menciona que o “Zelo da tua casa o devorou” (Jo 2,17). Na continuidade do versículo, o salmista diz que as “afrontas dos que afrontaram caíram sobre mim”, apontando assim que os que deveriam de fato crer, foram os que não quiseram, no caso, o povo hebreu.

Jo 2,17 – E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devorará.

CONCLUSÃO

Is 7,14  Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.

É inegável afirmar esse grandioso mistério que a Igreja sempre defendeu desde o início. Qual religião possui um Deus, que desceu do seu trono de glória, habitou em um templo santo que era o ventre de Maria santíssima e contrariando todas as leis normais, foi concebido na graciosidade da virgindade de uma mulher? Somente nós, Cristãos Católicos podemos afirmar que essa religião é a qual nós pertencemos. A virgindade de Maria, foi um ato profético que transcende os séculos e nos da à certeza de que para Deus, nada é impossível (Lc 1,37). 

Confiemos neste mistério.

Assim como às tabuas da Lei foram carregadas na Arca da Aliança e de lá, Deus habitava (Ex 40,35), seria necessário que Cristo, o Deus conosco, também habitasse em um tabernáculo e esse templo foi encontrado em Maria que preservou sua vocação como a Mãe de Deus (Lc 1,43).