domingo, 10 de setembro de 2017

NOVO ENDEREÇO - AVISO AOS LEITORES


PAX! 

INFORMO A TODOS QUE A PARTIR DE AGORA, O BLOG "APOLOGÉTICA CRISTÃ CATÓLICA" NÃO SERÁ MAIS ATUALIZADO. 


TODOS OS TEXTOS E ATUALIZAÇÕES PODEM SER ENCONTRADOS NO SEGUINTE ENDEREÇO:


PEÇO QUE CONTINUEM REZANDO POR ESSE TRABALHO! 

O APOSTOLADO NÃO ACABOU. APENAS FOI TRANSFERIDO PARA UM SITE, PARA ASSIM, OFERECER AOS LEITORES, MELHORES CONDIÇÕES. 

DEUS ABENÇOE! 

EM CRISTO;

ÉRICK AUGUSTO GOMES

sábado, 1 de julho de 2017

CARIDADE E FÉ



RESUMO

Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12,31). De acordo com a perspectiva cristã, o que vem a ser a caridade no seguimento dos ensinos de Jesus? Pois bem, a caridade pode ser reconhecida como um amor de “dileção”, isto é, diferente de outros tipos de sentimentos que afloram no “eu humano”, a caridade trata-se de um envolvimento com o bem do próximo, o bem comum. O presente artigo tem por objetivo, explanar o tema caridade e suas implicações no cristianismo (história e atualidade). As fontes que dão sustentação ao texto são oriundas das sagradas escrituras e de textos extraídos da patrística, ou seja, dos primeiros padres da Igreja. O artigo apresenta de forma simples, clara e didática, o motivo principal da obrigatoriedade de todo cristão em fazer da caridade, um caminho de fé e de preparação para a vinda e instalação do reino do Cristo.

Palavras-chave: Caridade. Evangelho. Pobreza.

INTRODUÇÃO

A caridade não é um tema ou um conceito novo na vida do cristão. Seja você apenas uma criança de caminhada ou alguém que tenha crescido em um ambiente cercado pela sacramentalidade cristã, talvez, já tenha presenciado movimentos, pastorais, grupos e até coletas em missas que tenham como finalidade o fundamento da caridade.

A sagrada escritura transborda de textos que incentivam o amor as pessoas que nos cercam. Ainda que o período vétero-testamentário, seja classificado por alguns como uma época onde “Deus se fazia mais duro”, percebemos que o amor do Senhor refletia em boas ações. Podemos ler sobre isso no livro do Levítico onde diz: “Não te vingarás e não guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou Iahweh” (Lv 19,18). A caridade foi o clamor de muitos profetas que buscavam a justiça para Israel. Embora seja um tema que deveria ser motivo de obrigatoriedade para todo o povo Deus, infelizmente, muitos eram os opressores que ao invés de amar, cobriam uma multidão inteira com desgraças. Nesse sentido, o profeta Amós, é usado por Iahweh como grande oráculo de sua época a fim de denunciar a falta de amor (caridade) para com os menos favorecidos:

Porque vendem o justo por dinheiro e o indigente por um par de sandálias. Eles esmagam sobre o pó da terra a cabeça dos fracos e tornam torto o caminho dos pobres; um homem e seu pai vão à mesma jovem para profanar o meu santo nome” (Am 2,6-7).           

  O mesmo profeta, em sua quarta visão (Am 8,1-14), afirma que Deus jamais esquecerá daqueles que faltam com a caridade para com os mais fracos: “Ouvi isto, vós que esmagais o indigente e quereis eliminar os pobres da terra. Iahweh jurou pelo orgulho de Jacó: <não esquecerei jamais nenhuma de suas ações>” (Am 8,4.7)

Dessa forma, a continuidade da pregação de Jesus Cristo, registrada no novo testamento, continuará a afirmar a importância da justiça para com os mais pobres e por consequência, atos caridosos que representarão o Reino de Deus. São Mateus em seu evangelho, registra as palavras do Senhor no que diz respeito ao último julgamento. Nos versículos que se seguem, a clara contestação de que a caridade deve preceder todos os que amam o salvador, torna-se da verdade um dogma de fé:

Então dirá o rei aos que estiverem a sua direita: <Vinde benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me. Em verdade vos digo: cada vez que o fizeste a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes>” (Mt 25,34-35.40).  

Como bem disse São Paulo em sua primeira epístola aos Coríntios: “Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como bronze que soa ou como címbalo que tine” (1 Cor 13,1). A caridade não pode ser caracterizada como um simples dom, mas sim, como um desejo que infunde na alma de cada cristão que impelido pela graça regeneradora do batismo, assume para si a tarefa de preparar o caminho para a volta de Jesus e por consequência de seu testemunho, anunciará seu reinado glorioso onde “Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram!” (Ap 21,4).

                                                             QUAL A FINALIDADE DA CARIDADE? 

Quando falamos sobre “caridade”, a primeira coisa que nos vem à mente são situações onde existe o “amor ao próximo”. Ainda assim, qual é a finalidade dessas ações? Ou, no que consiste tal palavra? A palavra caridade tem sua origem etimológica do latim (caritas.atis) e tem dois simples significados: ternura e amor. A caridade é uma das três virtudes teologais, sendo que, possui um caráter de tamanha importância que a Santa Igreja Católica, considera que até pecados veniais podem ser perdoados se a caridade for praticada: “E esta caridade vivificada apaga os pecados veniais” (CIC 1394). Além dessa importante informação, encontramos no CIC outra definição muito especial, sendo ela: “A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus(CIC 1822).

Dessa forma, entendemos que como católicos, a caridade tem um aspecto muito mais abrangente do que apenas dar esmolas, mas também, caracteriza-se como um ato que nos une com mais perfeição a Deus justamente por sabermos que Cristo pode ser encontrado na pessoa do oprimido, do pobre, do injustiçado. São Paulo em sua epístola aos Colossenses afirma: “Mas sobre tudo isso, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição” (Cl 3,14). A caridade tem como fruto principal o amor a Deus e ao próximo. Se somos caridosos, cumprimos plenamente o amor do Senhor em nossas vidas:

Se alguém, possuindo os bens deste mundo, vê seu irmão na necessidade e lhe fecha as entranhas, como permaneceria o amor de Deus? Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade. Nisto saberemos que somos da verdade, e diante dele tranquilizaremos o nosso coração” (1 Jo 3,17-19).

A finalidade máxima da caridade é demonstrar que uma fé viva sempre será sinal da presença do Deus de amor (Tg 2,14-26; 1 Jo 4,8).  

QUEM NOS IMPELE A FAZER A CARIDADE? ESTÁ FORA OU DENTRO DE NÓS?

Ao olharmos para os quase 20 séculos de cristianismo, perceberemos que foi demasiadamente grande, a preocupação dos padres no que dizia respeito ao “amor ao próximo” por meio de ações concretas.  A preocupação se dava, justamente porque grande parte da religiosidade pagã, não possuía qualquer amor por seus semelhantes e o cristianismo apresentava uma novidade de vida e o testemunho de fé era (ainda é) uma grande arma de conversão. São Policarpo, bispo de Esmirna (69-155 d.C.) em sua carta aos Filipenses diz: “Quando podeis fazer o bem, não o deixeis para depois, porque a esmola liberta da morte” (Fl 10,2, PADRES APOSTÓLICOS, 1995, pg 144). A “Didaqué” (instrução dos apóstolos), documento datado do primeiro século (80-90 d.C.) afirma: “Não odeie a ninguém, mas corrija uns, reze por outros, e ainda ame os outros, mais do que a si mesmo” (Dq 2,7, PADRES APOSTÓLICOS, 1995, pg 346).

É certo afirmar que a caridade sempre foi um dos temas mais trabalhados – juntamente do Kerigma (At 2,14-36) – nas primeiras comunidades cristãs e para todos, sem exceção, a força que impele a ação da caridade está baseada no amor do próprio Cristo que deu a sua vida por todos nós. Foi Deus quem realizou o primeiro grande “ato de caridade” em favor de toda a humanidade quando, enviou seu único e amado filho a fim de que todos nós, tivéssemos vida em abundancia (Jo 3,16). São João em seu evangelho, registra a chave que nos impulsiona a amar os nossos irmãos:

Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se praticais o que vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que seu senhor faz; mas vos chamo amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer. Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e produzirdes fruto e para que vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome ele vos dê. Isto vos mando: amai-vos uns aos outros” (Jo 15,12-17).            

Jesus Cristo nos escolheu para que possamos dar continuidade a sua missão de amor e essa semente, é colocada em nosso coração a partir do momento que aceitamos e entendemos o projeto salvador da Trindade Santa. A caridade brota como um fruto saboroso em nosso coração e a partir do seu sabor, somos convidados a fazer o bem como se o nosso próximo estivesse representado pela pessoa do próprio Cristo. Aprendemos isso com o Papa Leonino em seu 1º sermão sobre as coletas (440 d.C): “Com efeito, aquele que alimenta o Cristo presente no pobre, constrói seu tesouro no céu” (1º Sermão sobre as coletas, LEÃO MAGNO, 1996, pg 17).

A CARIDADE PODE SER VIVIDA SEM A DIMENSÃO RELIGIOSA?

Com efeito, como o corpo sem o sopro da vida é morto, assim também é morta a fé sem as obras” (Tg 2,26). A caridade é um valor que transcende a vivência religiosa, dessa forma, a ação de ajudar o próximo pode ser praticada por qualquer pessoa ou por qualquer profissão de fé.

Ainda sim, devemos ressaltar que a plenitude dessa virtude só pode ser alcançada em conformidade com a Igreja que é conduzida pela ação do Espírito Santo. Desde as épocas mais primitivas, muitos são os que recorrem a Igreja na intenção de sanar suas necessidades físicas e espirituais. O Papa Leão Magno e seu “6º sermão sobre as coletas” (440 d.C), afirma que é a Igreja responsável pela ajuda dos mais necessitados:

Caríssimo, foi providencial e piedosa a determinação dos santos Padres, para que em diversos momentos do ano houvesse dias marcados para despertar a devoção do povo fiel para uma coleta pública; pois é em direção da Igreja que vem todo pessoal necessitado de socorro, eles quiseram que os recursos de muitos recolhidos espontaneamente e santamente, fossem distribuídos aos necessitados pelos chefes das Igrejas” (6º sermão sobre as coletas, LEÃO MAGNO, 1996, Pg 35).            

Dessa forma, devemos ressaltar a nobre virtude de muitas pessoas que professam diferentes credos religiosos (e até mesmo de ateus que procuram dividir seus bens para com os pobres), porém, somos nós os responsáveis pela a dupla ação em evangelizar os que possuem bens materiais, para que assim, creiam no Cristo e transformem as suas obras na plenitude do amor de Deus. São Tiago diz que a “fé sem obras é morta”, sendo assim, podemos também concluir que ações que não estejam respaldadas pela verdadeira fé em Jesus, também estarão incompletas. 

QUAL A CONTRIBUIÇÃO TEOLÓGICA PARA COM A CARIDADE?

Mas Pedro lhe disse: <Nem ouro nem prata possuo. O que tenho, porém, isto te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda>!” (At 3,6). A teologia é uma ciência que tem por objeto de estudo a “essência divina (Deus)”, sendo que, há inúmeros caminhos para o entendimento do Altíssimo e a caridade, sendo uma das três virtudes teologais, é uma estrada segura para esse aprendizado.

O papel do teólogo durante a história sempre foi grandioso, uma vez que, a busca pela santidade impele-nos em preocupar-se com a pessoa dos mais necessitados. Citando mais uma vez o saudoso Papa Leão (440 d.C), em seu sermão sobre a quaresma, o pontífice deixava claro como deveria ser o direcionamento dos cristãos:

Os santos devem preocupar-se, sobretudo, para que ninguém passe frio, para que ninguém sinta fome, para que ninguém pereça por causa da miséria, para que ninguém fique arrasado pela tristeza, para que ninguém fique acorrentado” (9º sermão sobre a quaresma, LEÃO MAGNO, 1996, Pg 109).            

O uso da teologia representa uma grande oportunidade para que os cristãos aproximem-se da “verdadeira religião”. São Tiago é claro ao dizer em sua epístola: “Com efeito, a religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e guardar-se livre da corrupção do mundo” (Tg 1,27). O mesmo escritor afirma que os pobres são os herdeiros do Reino: “Não escolheu Deus os pobres em bens deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?” (Tg 2,5). Não obstante no novo testamento, o velho testamento releva uma herança profunda na busca da justiça baseada na caridade. O Deus de Israel, sobretudo, amou e continua amando os pobres: “Seja Iahweh fortaleza para o oprimido, fortaleza nos tempos de angústia” (Sl 9,10). O Senhor é caracterizado pelo salmista como aquele que “fecha a boca da injustiça”: “Mas levanta o indigente da miséria e multiplica famílias como rebanho. Os corações retos veem e alegram-se, e toda injustiça fecha a sua boca” (Sl 107,41-42). 

Ser um teólogo e respirar a essência teológica, está muito mais além do que apenas estudar livros, verificar a história ou escrever artigos. A contribuição teológica deve ser feita em primeiro lugar por meio da ação em pró dos que mais precisam. Como poderíamos, nós, propagar os ensinos das sagradas letras, das ciências divinas, dos documentos históricos da Santa Igreja Católica, sem ao menos, entender se nossos receptores estão sendo atendidos em suas necessidades mais básicas (alimento e moradia)?

Atendamos o pedido prático e claro de São Paulo em sua epístola aos Gálatas: “Pois toda a Lei está contida numa só palavras: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5,14)

CONCLUSÃO

Diz Tiago: <A fé sem obras é morta>. A que ponto, então, enganam-se aqueles que se propõem a vida eterna com base em uma fé morta!(Fé e Obras, SANTO AGOSTINHO, 2017, pg 261).

Podemos dizer que o cristianismo é uma profissão de fé diferenciada por dois motivos:

1 - Apresenta a novidade de um Deus que se vez homem como nós (
Jo 1,1) e que diferente dos grandes poderes, nasce na pobreza e na miséria (Lc 2,6). Morre em um madeiro romano (Mc 15,23-27) por conta do nosso pecado (Jo 3,16) e concede-nos de forma gratuita a eternidade (Ap 21,1-7);

2 - Por consequência do seu evangelho, da sua pregação e do seu amor para com todos, infunde o Santo Espírito no coração do convertido para que assim, homens e mulheres trabalhem juntos na construção do reino e na busca incessante dos mais aflitos. “Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mt 5,6). 

A Igreja Católica, deixada pelo próprio Cristo, em continuidade com a tradição e o seguimento apostólico, trabalhou e continua trabalhando arduamente para que a caridade seja uma das bandeiras de toda a cristandade. Thomas E. Woods Jr, em seu livro “Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental”, cita que foi a Igreja responsável pela institucionalização da atenção às viúvas e órfãos e pioneira da criação de hospitais.

Sendo assim, somos convidados a exercer esse ministério de amor, afinal, sendo a caridade uma virtude teologal, ela, deve ser colocada em prática. “Sede santos pois eu sou Santo”, diz o Senhor (1 Pe 1,16) e a busca da santidade está estritamente ligada em “amar o próximo como a si mesmo” (Mc 12,33).

REFERÊNCIAS

BIBLIA SAGRADA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. 4ª impressão, 2006. Editora Paulos.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição revisada de acordo com o texto oficial em latim. Outubro, 1992. Edições Loyola.

CHAVE BÍBLICA CATÓLICA. 4ª edição, 2014. Editora Ave Maria.

COLEÇÃO PATRÍSTICA. 1º livro; Padres apostólicos. 7ª Reimpressão, 2015. Editora Paulus.

COLEÇÃO PATRÍSTICA. 6º livro; Leão Magno. 4ª Reimpressão, 2015. Editora Paulus.

COLEÇÃO PATRÍSTICA. 36º livro; Santo Agostinho. 1ª Edição, 2017. Editora Paulus.

WOODS, THOMAS E. Jr. Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental; Santo Agostinho. 9ª Edição, 2014. Editora Quadrante.